Sim, pode não parecer, mas é ele mesmo (na foto), Wagner de Aguiar, meu esposo, num momento de descontração, revelando seu lado “sombra” interior – o “malandrão” super gente fina que amo tanto quanto o restante de sua personalidade.

Além de portar inteligência polifacética, ter um enorme coração e ser leal e dedicado, dos grandes aos mais sutis gestos, em público ou em privado, como não imaginava poder contar com alguém assim, na vida íntima, ele é lindo, para a minha perspectiva, de todos os modos que alguém pode ser.

Não há tempo ruim para ele, devotado em todos os aspectos de nossa relação, disposto a ser útil e servir em tudo que lhe peço ou no que ele – com sua inventividade singular – descubra para tornar mais leve o “fardo misericordioso” de minha tarefa de orientador espiritual, diante da coletividade.

Atravessamos momentos difíceis, naturalmente, enfrentando áreas de trabalho e conflito. Isso ocorre, é evidente, com qualquer casal e em todo relacionamento interpessoal. Não existem paraísos na Terra, e quem os espera, qual “Cinderela encantada”, sem esforço por construir o seu e o bem-estar do próximo, sofre com o próprio egoísmo e ingenuidade, experimentando a “quebra do encanto” das ilusões hollywoodianas e descobrindo esboços do inferno, dentro e fora de si..

Não há utopias, mas sim: realidades de amor. Aqueles(as) que almejam sonhos de caprichos atendidos deparam-se com variados pesadelos existenciais, enquanto os(as) que anseiam por fantasias despertam em purgatórios evitáveis, sobremaneira no mundo em que vivemos, pejado de preconceitos, mesquinharias e maldades, inclusive no seio da parentela biológica, como também de toda sorte de energias e induções mentais contrárias à gratidão, à felicidade, à paz e à espiritualidade.

Quem não era adulto(a) na década de 2000 dificilmente terá ideia do que significou realizar, em 2009, uma cerimônia de casamento perante a multidão, de caráter religioso e social, com uma pessoa do mesmo gênero e, para completar, 18 anos mais jovem – matrimônio esse que foi formalizado no civil, na mesma data, em 2013, quando a legislação brasileira autorizou o consórcio igualitário.

Wagner completa 34 anos, dentro de dois dias; e eu, 52, em outubro. Hoje, a diferença etária está mais diluída; no entanto, quando ele se encontrava na iminência dos 21 de idade e eu me encaminhava para 39, a situação relativa era outra.

À época, o programa de TV que apresento, desde 1994, estava sendo exibido em uma segunda rede nacional de televisão, após sua veiculação pela TVE-RJ (atualmente, TVE Brasil), e meu público era numeroso e heterogêneo, em todos os sentidos, mas basicamente formado por heterossexuais – como até hoje, pela razão simples de héteros comporem a maior parte da população.

Perguntaram-me, por aqueles dias, por que não agir como outros(as) homossexuais da minha geração ou até mais novos(as) o faziam (e continuam a fazer): ocultar minha orientação sexual, sobremaneira em considerando que laboro num campo de ação em que tanto se vincula virtude a comportamentos sexuais convencionais ou celibatários – apenas na fachada, em sua maioria.

Minha resposta foi e é: para que, com o exemplo de nosso amor profundo e, por isso, duradouro, ainda que sem os suportes habituais que relacionamentos heterossexuais desfrutam da família, da cultura, da sociedade, vidas sejam salvas da desesperança de quaisquer naturezas, incluindo as que se expressam em impulsos suicidas.

Mais forte argumento ainda para mim foi o item que me criou conflitos com terceiros, desde tenra idade: a necessidade de ser autêntico, na acepção mais plena do verbete. E buscar ser cristão e espiritual, sem autenticidade, consiste, a meu ver, em mera e crassa hipocrisia.

Esconder-se por detrás de casamentos héteros forjados, com vida sexual oculta, mesmo que só masturbatória (para quem acredita que essas “figuras certinhas” ficam por aí), ostentando uma máscara social de pseudossantidade, começa por constituir uma postura patética, porque ninguém que porte uma nesga de lucidez ou informação se deixa enganar por essa ordem de embuste primário, e termina em escandalosa e deslavada imoralidade, configurada no fato de a pessoa querer parecer mais decente, encenando ser o que não é – falsidade essa mais óbvia do que se supõe, para cada vez mais significativos percentuais da população.

Jesus nunca condenou a homossexualidade, nem fez qualquer referência a questões de identidade de gênero. As alegações que fundamentalistas religiosos(as), com seus vícios castradores milenares, apresentam contra a comunidade LGBTQIA+, procurando trechos de profetas do Antigo Testamento ou de passagens das cartas dos Apóstolos sobre o assunto, não passam de mentiras assassinas, porquanto ignoram, cínica e falaciosamente, que textos antigos (e redigidos originalmente em idiomas mortos) precisam ser interpretados e ajustados ao “Zeitgeist”, aos costumes do bem que realmente fazem dignos(as) e honestos(as) os homens e mulheres de nossa época.

Mas torno a reiterar: nos quatro Evangelhos canônicos, nada de Jesus foi registrado contra a homossexualidade, embora, pelo contrário, tenha Ele curado o “servo” (“amado”, na versão original em grego) de um centurião romano e declarado que nunca houvera encontrado tão grande fé em toda Israel.1

Em contrapartida, é indiscutível, mesmo para quem leia superficialmente os Ensinamentos do Cristo-Voz da Verdade para a Terra, que Nosso Mestre e Senhor Jesus abominava, por um lado, toda ordem de hipocrisia, ao passo que, por outro, ardorosamente defendia párias sociais.

Waguinho, meu soldado-príncipe, seja tão feliz quanto você me faz, de tantas formas.

E, junto a vocês, irmãos(ãs) integrantes de quaisquer minorias discriminadas, incluindo mulheres – a maioria paradoxalmente perseguida como minoria –, ergamos a “cabeça d’alma”, com paz de consciência e a convicção de que as verdadeiras Autoridades Espirituais e a Própria Divindade estão do lado daqueles(as) que nos portamos com integridade e fraternidade, não importando quanto contrariemos moralismos passageiros e circunstanciais, de cultura, tempo e lugar.

As minorias costumam conter, em suas atitudes combativas de autoafirmação e de defesa da dignidade humana, as sementes da catálise evolutiva dos povos e da humanidade terrícola como um todo, e isso é o que mais as Forças, Comunidades e Gênios Celestes esperam de nós, individual e coletivamente.

Benjamin Teixeira de Aguiar
LaGrange, Nova York, EUA
21 de junho de 2022

1. Lucas 7:1-10.