(Benjamin Teixeira de Aguiar) – Você poderia nos sugerir uma temática sobre que dialogarmos, Eugênia?
(Eugênia-Aspásia) – Sim, gostaríamos de aprofundar as questões aventadas na semana transata1, a respeito do ateísmo.
(BTA) – Pois não.
(EA) – Primeiro, devemos fazer a distinção entre o mal e a pessoa que nele incorreu, conforme chegamos a verbalizar por este meio psicográfico, também nos últimos dias2. Sabemos que sua intenção foi descoroçoar os(as) estultos(as) da fé que, consciente ou inconscientemente, almejam se promover, apresentando-se como intelectualmente superiores ao preconizarem o ateísmo, quando apenas ostentam uma “pseudo-mais-inteligente” perspectiva filosófica da vida. Julgamos mais adequado, entretanto, o enfoque psicológico de profundidade, com o qual os(as) descobriremos mais vítimas que vilões(ãs) da sanha sinistra a que se confiam, destrutiva dos mais altos valores sociais e espirituais da humanidade.
Segundo, a dificuldade em intuir Deus constitui não uma superpotência do intelecto, como alardeado por adeptos(as) de diversas vertentes ateístas, mas sim uma incapacidade intelectual e mesmo uma limitação cultural, que os(as) agrilhoam a uma concepção de mundo por demais monocromática e superficial.
À medida que o indivíduo se desenvolve em inteligência, mais multifacetadas se tornam suas percepções, de forma que pode transitar do concreto para o abstrato com grande facilidade, no sentido de compreender que o subjetivo não é menos real que o objetivo, mas apenas mais complexo, devendo, pois, ter um peso no mínimo equivalente ao que se atribui a dados objetivos.
Materialistas demonstram, portanto, uma lastimável inaptidão para perceber todo um universo de possibilidades transcendentes, dada a arrogância que lhes não permite conceber algo superior à própria mente. E, ironicamente, com seu espectro restrito de observação da realidade, acabam desperdiçando os melhores aspectos da vida, as alegrias mais doces e ternas.
(BTA) – O que poderia ser feito para determos essa onda de alastramento do ateísmo?
(EA) – Religiosos(as) e espiritualistas em geral precisam se atualizar. Sua linguagem deve respeitar mais a ciência e a modernidade. Propostas que sejam exageradamente conservadoras ou contrariem o bom senso estão fadadas a cair no descrédito, carreando consigo as próprias ideologias que as sustentam. O vulgo não tem condições de fazer a filtragem devida para contornar as deficiências das religiões e de seus(suas) profitentes, a fim de aproveitar a grandeza imensurável da espiritualidade em si mesma, sem os rótulos dos “ismos”.
Até espíritas3 mais esclarecidos(as) – que, em tese, deveriam primar pela razão – cometem atentados à racionalidade e necessitam rever cautelosamente suas opiniões. A despeito disso, o prisma “kardecista” de vida, que, como apregoado pelo próprio Kardec, procura pautar seus postulados pelos trâmites da ciência, pode propiciar aos(às) buscadores(as) da verdade uma mundividência coerente e bem fundamentada, uma alternativa viável de paradigma interpretativo dos significados e finalidades da existência.
Não nos referimos, porém, ao Espiritismo como partido de crença, em sua feição brasileira, que infelizmente, embora se diga kardecista, muito se tem afastado das concepções do mestre lionês. Trágica ironia: Kardec foi um homem vanguardista, um livre-pensador, que não só acompanhava os progressos da ciência e dos costumes de seu tempo, mas também propunha que essa diretriz fosse seguida inarredavelmente. Está exarado na própria codificação kardequiana que os livros basilares do Espiritismo representam tão somente os andaimes do prédio e não toda a construção, cujas estruturas devem crescer e se aprimorar ad infinitum, em consonância com o avanço do conhecimento humano.
Quando falamos em Espiritismo, pretendemos ir além dos rincões estreitos de um bloco religioso. Aludimos ao parâmetro de pensamento que considera como reais estes três princípios, partilhados por mais de dois bilhões de pessoas no planeta: 1) a reencarnação-evolução, com o pressuposto fundamental da imortalidade da alma; 2) a comunicabilidade entre espíritos encarnados e desencarnados; e 3) a existência do(a) Criador(a), soberanamente Bom(Boa), Justo(a) e Sábio(a).
Os Estados Unidos têm encabeçado um movimento de divulgação dessas ideias, ainda que de maneira caótica e distorcida, em várias de suas particularidades. O cinema e a televisão norte-americanos especialmente, há mais de década, enveredaram pelo território precípuo da disseminação dos conceitos e valores espiritualistas, que podem salvar a humanidade da beira do abismo do colapso civilizacional.
Sem uma ótica mais ampla, que inclua especulações de ordem espiritual, as coletividades terminam precipitando-se na baderna e na desagregação, consumindo-se em vícios de todas as naturezas, perdendo a harmonia e a paz sociais, até a definitiva falência de suas instituições, como aconteceu ao Império Romano, no século V, ou à China imperial, no século XIX.
(BTA) – E o kardecismo?
(EA) – Seria ótimo que atingisse as culminâncias de um alcance global, e existe mesmo uma probabilidade de revertermos a lamentável tendência ao seu desaparecimento, como movimento internacional de vulto. Por ora, entrementes, está por demais descompassado com a contemporaneidade e mediocrizado em suas iniciativas, para que possa ganhar mundo. Não obstante, trabalhamos, do Plano Espiritual, no propósito de preservar a obra lapidar dos Espíritos, coligida pelo engenho de Kardec, sem dúvida de excelente qualidade, como alicerce para uma abordagem mais lúcida e abrangente das questões espirituais e humanas.
Lembremos, todavia, que o livre-arbítrio das criaturas é inviolável. Amiúde, decisões equivocadas de encarnados(as) podem atrapalhar processos importantes de despertar coletivo, retardando-os ou, em termos, alterando-lhes a rota. É possível, assim, que novas correntes filosófico-espirituais surjam, de futuro, em substituição à kardecista, que então será utilizada como “mais uma”, em vez de ser “a doutrina” mais apropriada ao estudo da espiritualidade, nesta era de cosmovisão científica, tecnológica e pragmática.
(BTA) – Mais algo a dizer?
(EA) – Não. Satisfeita.
Benjamin Teixeira de Aguiar
em diálogo com o Espírito Eugênia-Aspásia
10 de fevereiro de 2007
1. “A seita estúpida, fanática e irresponsável dos(as) ateus(eias)”, Benjamin Teixeira de Aguiar (médium), por Eugênia-Aspásia (Espírito), 2007.
(Nota da equipe editorial)
2. “Extratos de mensagens mediúnicas pessoais – 22”, Benjamin Teixeira de Aguiar (médium), por Eugênia-Aspásia (Espírito), 2007.
(Nota da equipe editorial)
3. À época, o Instituto Salto Quântico ainda se vinculava ao movimento espírita brasileiro, de que se desligou formalmente aos 14 de dezembro de 2008, conforme anunciado publicamente pelo médium Benjamin Teixeira de Aguiar, por solicitação de seu guia espiritual Eugênia-Aspásia. Vide “Instituto Salto Quântico e seu desligamento formal do movimento espírita (diálogo mediúnico)”, Benjamin Teixeira de Aguiar (médium), por Eugênia-Aspásia (Espírito), 2009.
(Nota da equipe editorial)