Benjamin Teixeira
pelo espírito Temístocles.
A mente humana tem diversos atributos que se desenvolvem, complexificam-se, aprofundam-se, entrelaçam-se, criam novas características e propriedades, a partir da fusão de habilidades interconectadas, etc.
Uma das potências da psique que, sem dúvida, compõem esse quadro intrincado, ao lado da memória, da inteligência, da emotividade, da moralidade, é a mediunidade.
Com diversas formas de manifestação, a mediunidade, que pode ser compreendida, latu sensu, como intuição, seria o campo das faculdades psíquicas consideradas, no atual nível de evolução coletiva da humanidade da Terra, como extraordinárias.
Capacidade de sentir, ver, apreender, antever, receber, traduzir e criar além do que se pode fazer, através dos cinco sentidos físicos e do poder de abstração e associação relacionadas especificamente à inteligência e à memória, a mediunidade seria o último apêndice evolutivo, ao menos em tese, que deveria ser despertado, no campo da consciência humana. É por isso que tanto se sugere, primeiramente, o desenvolvimento espiritual do indivíduo – leia-se moral – antes de se abrirem as janelas psíquicas da alma, justamente para se evitarem as distorções perigosas decorrentes da ultra-sensibilidade sem correlato poder de ponderação, compreensão e sentimento.
De tal modo é verdadeiro que existe uma estruturação orgânica na mente – se é que podemos assim nos expressar – em relação à faculdade mediúnica, que indivíduos altamente intuitivos ou mediúnicos sentem uma premência tão forte a gerar estados alterados de consciência, como uma pessoa comum tem impulsos a fazer sexo, comer ou dormir, bem como outras, mais sofisticadas psicologicamente, têm ímpetos irrefreáveis de se realizar em esferas mais complexas de expressão como as da realização profissional e da ascensão social. Quando mais evoluído, o ser supera não só a fase instintual-animal, como adentra, após a plena expressão de impulsos egoicos de poder e destaque social, numa esfera de transcendência, transpessoalidade e significados abstratos, espirituais, místicos. A mediunidade-intuição, nesses seres mais amadurecidos no carreiro evolutivo, funciona como uma função neurofisiológica, como uma vesícula psíquica que imperiosamente precisasse liberar seu conteúdo, para não estourar. É assim que algumas pessoas não passam bem (não passam bem mesmo: podem até se sentir enlouquecendo) sem seus horários de oração, sem suas disciplinas de meditação, sem transes mediúnicos estipulados para certos dias da semana ou mesmo determinados momentos do dia. Não por acaso descobriu-se, recentemente, em pesquisas avançadas de neurociências, regiões nas circunvoluções cerebrais relacionadas às funções psíquicas, como o lobo temporal direito (relacionado a experiências intuitivas, místicas e paranormais), e o lobo parietal esquerdo (relacionado à presença ou ausência do sentimento de individualidade estanque). É por isso, por outro lado, que certas pessoas ficam viciadas em álcool, em surtos de raiva ou em crises delirantes de ciúmes, ou ainda em atividade sexual exacerbada, entre outros, sentindo o impulso para tais desvios de conduta como algo incontrolável, completamente possuídas pela necessidade de fazerem transes (estados alterados de consciência – as eclosões emocionais fortes como as drogas geram um tipo de transe, muito embora patológico), neste caso tendo o impulso completamente desencaminhado de suas funções genuínas de gerar equilíbrio e criatividade em nível mais alto de manifestação consciencial, muito embora não seja a necessidade de expressão medianímica o único fator etiológico para tais distúrbios, tanto em fazendo alusão ao alcoolismo, como no que tange a disfunções psicológicas sérias. O conhecimento de causa, a orientação abalizada para a educação de tais impulsos à transcendência, indubitavelmente, far-se-iam indispensáveis para tais médiuns, principalmente os não muito amadurecidos em outros setores da alma, como o intelecto-moral, já que acabam tornando sua sensibilidade aguçada um instrumental de destruição contra si próprios. (O Espiritismo kardecista, como corrente de pensamento e diretriz comportamental, neste particular: o da metodologia de educação e condução das faculdades medianímicas é simplesmente imbatível).
Como, de fato, a mente humana não amadurece de modo linear e lógico, diversas incongruências costumam acontecer, em determinados estágios evolutivos de um indivíduo, bem como de coletividades, como a evolução moral superior à intelectual (incomum na Terra), a intelectual superior à moral (o padrão médio do planeta), a mediunidade à frente da inteligência (o que é lamentável quando o ocorre), a mediunidade à frente da moralidade (o que é diabólico).
Compreenda-se que aqui estou falando de mediunidade como poderes psíquicos “amplo senso” – reforço – o que inclui, nessa nossa acepção, as habilidades não necessariamente mediúnicas, “estrito senso”, como a capacidade de atrair, envolver, e adentrar mentes humanas, o que se conhece normalmente como “carisma”, um fenômeno totalmente inexplicável pela análise psicológica rasteira da Terra dos dias de hoje.
Sem dúvida, à medida que um indivíduo evolui muito (para os padrões terrícolas), que seu espírito envelhece, digamos assim, do mesmo modo que a inteligência se apura, igualmente a mediunidade, de um modo que poderíamos dizer: de certa forma automática. Diferentemente da evolução moral, que exige uma participação ativa do indivíduo, no uso de seu livre-arbítrio, no sentido de escolhas complicadas, algumas elevadas, nobres e difíceis, a mediunidade, como a inteligência (e até um ponto a emotividade também) podem-se dilatar à medida que tão-somente o ser vivencia novas experiências, no transcurso de inúmeras vidas físicas e extra-físicas (os períodos entre encarnações). Eis o perigo, portanto, tanto de mentes muito desenvolvidas na inteligência, como na mediunidade, de não terem suficiente moralidade para administrar seu enorme poder adquirido sobre pessoas e acontecimentos. Teríamos, assim, a contrapartida, na esfera dos poderes psíquicos, do “gênio do mal” no que tange à intelectualidade, algo que poderíamos chamar de “bruxo” ou “mago das trevas”, o que existe no mundo terreno muito mais do que se poderia ou gostaria de se admitir. Muitas vezes, líderes de grandes religiões apresentam-se como espécimes dessas criaturas perigosas, grandes ídolos da música popular ou da mídia e até mesmo grandes estadistas, em que incluímos Hitler, que não só era um gênio diabólico, mas também um bruxo poderoso voltado para o mal – entenda-se: voltado para propósitos egoicos e não transpessoais, o que constitui uma total depravação de propósitos quando se trata de poderes psíquicos avançados.
Eis o grande desafio para aqueles que são dotados de particular poder psíquico. Quem se desenvolve muito no capítulo dos poderes mediúnicos e congêneres precisa ter um forte senso de humanismo, altruísmo, espírito solidário, moral e ético, para pôr suas faculdades a serviço do coletivo e não em função do seu ego, o que poderíamos dizer igualmente da inteligência, mas sem dúvida com muito mais veemência quando o assunto é mediunidade/espiritualidade.
Na Terra, estamos vendo os grandes prejuízos causados pela inteligência egoica. Agora, teremos que lidar, também, com os efeitos colaterais altamente danosos do poderio psíquico mal direcionado, que aconteceu ontem, como a história nos revela, ocorre hoje, como lamentavelmente vemos, e ainda acontecerá amanhã, o que se pode evitar, com o esclarecimento geral da população sobe a existência dessas forças e de como se deve manter precaução e senso crítico, para se seguirem os reais alvitres da consciência e do bom senso.
Mas, por fim, quero dizer sim, que seres dotados de maior capacidade psíquica, seja mediúnica (a aptidão de canalizar seres de outras dimensões e filtrar e interpretar padrões psíquicos complexos e sutis de desencarnados ou encarnados) seja psíquica, no sentido estrito (o capacidade de fascinar e persuadir pessoas ou multidões) é um atributo evolutivo da espécie humana, que seres mais envelhecidos no carreiro reencarnatório apresentam de modo mais acentuado, por terem mais tempo de complexificação de sua psique.
Se você, caro amigo, apresenta maior habilidade de ver, sentir ou produzir além da esfera meramente sensorial-intelectual, atente-se para sua grave responsabilidade. Não se envaideça, não se sinta superior a ninguém, e jamais ponha a serviço de seus interesses pessoais essa elevada, nobre e poderosa arma depositada em suas mãos, e compreenda que a Divina Providência, por lhe permitir manifestar seus poderes mentais num nível mais alto de expressão, fá-lo no intuito de que sirva ao interesse coletivo e espiritual da Humanidade e não a serviço de seu ego.
E, por outro lado, se você percebe alguém que apresenta essa ou aquela característica menos comum de percepção, não deboche ou trate como farsante: poderá estar diante de um ser mais avançado que você, no trajeto evolutivo da alma, e com atitude agressiva em relação a ele, não só estará desperdiçando magnífica oportunidade de aprender e ser estimulado ao seu próprio crescimento, num convívio amistoso e receptivo com esse indivíduo, como estará atraindo, em sua direção, energias que desconhece, por estar cutucando um dragão invisível: a força mental de seres que, magos, quando amáveis, podem se tornar bruxos, pelo simples fato de se enraivecerem com sua pessoa, canalizando forças destrutivas, involuntária ou voluntariamente, quem sabe complicando terrivelmente os seus caminhos existenciais.
Num futuro distante, quando toda a humanidade for sensível e ao mesmo tempo ética, psíquica mas moral, inteligente mas santa, todos viverão numa magnífica simbiose mental de amor, serviço e ajuda, onde a liberdade e a individualidade de todos será respeitada, mas, ao mesmo tempo, onde todas as necessidades, carências e apreensões serão imediatamente atendidas e sanadas, numa comunidade global em que todos se amarão e sentirão uns aos outros, com ardência e incondicionalidade.
Por ora, alguns expoentes psíquicos despontam, aqui ou ali, para trazer as primeiras sementes dessa humanidade futura, em que todos verão além das aparências, em que o universo será visto complexo como é, multidimensional como é, rico e infinito como é. E esses seres um pouco à frente do padrão médio comum falam para as multidões e estão também espalhados entre elas, como uma elite psíquica planetária que representa uma humanidade futura, no presente minoritária, mas que, fatalmente, crescerá como um oceano sem-bordas, até que, quando todos forem psíquicos e mediúnicos como hoje raros são, desponte um nova fase de evolução coletiva na Terra, e seres crísticos, qual Jesus há dois mil anos, se tornem comuns (embora a princípio minoritários), como hoje são os médiuns e psíquicos, na humanidade egoica dos dias que correm.
E se você está entre aqueles que ainda estão aprisionados na caixa estreita de seu crânio, limitados por cinco sentidos e uma mente racional-linear, aprenda a ouvir seus sentimentos mais elevados, seus valores mais nobres, e ore e medite com boa-vontade e prazer, devotamento e fervor, colocando-se a serviço de Deus e de Sua Perfeita Vontade, na doação de amor e ajuda a seus irmãos em humanidade. Será esse o melhor caminho para desenvolver suas habilidades místicas, sem grandes acidentes e desvios de rota, e, um dia, ser você também um psíquico a caminho do nível crístico de consciência.
(Texto recebido em 19 de março de 2003.)
(*) Estava ouvindo a querida mentora espiritual Eugênia, que me dava diretrizes de trabalho para o dia e enviava uma mensagem pessoal para alguém de meu círculo pessoal de convívio, quando a querida mestra desencarnada disse:
“Agora, quero que receba um texto do especialista em nosso grupo para assuntos complexos, o Dr. Temístocles”, e ausentou-se, enquanto eu ligava o computador, para digitar o pensamento do grande mentor desencarnado.
Sem dúvida, Eugênia tem razão. Podemos, de fato, colocar um “Dr.” na frente do nome do ilustre professor do Além, (o que Eugênia faz mui raramente: só o vi fazer apenas com o Dr. Demétrius) – embora não conheça qual a sua formação –, pela profundidade, clareza e habilidade para tratar de forma didática e escorreita de temas complexos como o que é abordado nesta mensagem. Espero que o leitor do site se deleite tanto quanto eu com o pensamento do sábio e inteligente amigo espiritual.
(Nota do Médium)