Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Você almeja, amigo, o contato direto, franco, livre e seguro, entre você e as entidades sábias domiciliadas na dimensão extrafísica de vida. Gostaria – e como esse é um ideal caro ao seu coração – de ter um contato íntimo, estreito e continuado com os grandes mestres e as almas bondosas que lhe estão à frente, no trajeto evolutivo, que lhe propiciassem, assim, referenciais seguros e confiáveis, para sua vida cheia de incertezas e de complicações.

A falta desse intercâmbio direto, porém, prezado amigo, é providencial. A Divina Sabedoria deixa as criaturas humanas, sem o apoio mais acintoso dos seres angélicos – embora ele nunca falte –, porque, se assim não fora, ficariam privados do tesouro ímpar da experiência, que só se adquire por meio de vivência pessoal de busca do acerto, por meio do método da tentativa, que, inexoravelmente, conduz, aqui ou ali, a erros, pequenos ou grandes, mas sempre ricos em aprendizado para os que lhes incorrem nas valas de dor e de decepção.

Por outro lado, aquilo que mais considera precioso: a facilidade para vivenciar experiências psíquicas, é, na verdade, altamente perigoso e, normalmente, porta aberta a toda sorte de desequilíbrios, descompensações e perturbações. Não que a mediunidade seja em si um problema, mas porque adiciona mais tensões e conflitos ao indivíduo, que sofrerá uma sobrecarga de informações, somando aos seus dilemas íntimos, os provenientes de outras personalidades, alojadas ou não no plano físico de Vida.

Não devemos estar preocupados em desenvolver psiquismo e sim a consciência. Ou, em outras palavras, atendo-nos ao plano técnico do funcionamento mental, que se busque a intuição e não a mediunização. Isso porque, enquanto as experiências de origem psíquica, paranormal, conduzem a uma certa enxertia mental de elementos estranhos, oriundos tanto do plano superior de mentação, como dos níveis inferiores de consciência, o espírito que lhe é foco está sujeito a ser inseminado com ideias, padrões emocionais e sentimentos que nem sempre colaboram para sua boa homeostase psíquica, bem como para o progresso de sua alma.

O campo das experiências mediúnicas é extremamente delicado, melindroso, complexo, e, por que não reforçar: muito arriscado. Eis porque tantos caem, desavisadamente, nas ciladas que são arquitetadas pelos estrategistas malévolos do mundo invisível, acabando por se tornarem joguetes de organizações criminosas da dimensão extrafísica, que não medem esforços e não têm o menor escrúpulo, para manipular fraquezas, tendências odiosas, susceptibilidades emocionais, delírios megalomaníacos ou pretensões de superioridade nos sensitivos que lhe dão guarida mental. A grande questão é que o trabalho de transcendência do ego é o essencial na condição evolutiva humana, e quem envereda pelo território pantanoso das vivências psíquicas, deslumbrando-se com o fantástico dos fenômenos, facilmente se entrega à tentação de pôr em segundo plano o capítulo fundamental do autoconhecimento, da autodisciplina e da busca de consolidar a autoestima e cumprir os desígnios de Deus a seu respeito, pela ausculta criteriosa dos próprios ímpetos vocacionais.

Em contrapartida, as experiências intuitivas, por sua vez, constituem profundo e excelente mecanismo de elaboração mental, de digestão de conflitos e de integração de elementos dissonantes do conjunto da psique, desse modo lhe favorecendo não só a harmonização com o seu centro, realinhado o indivíduo com o seu próprio eixo, como propiciando sua expansão, pelos novos elementos agregados, que, por fim, em consonância com a totalidade do ser, podem propeli-lo a um salto de transcendência.

Aliás, não é por outro motivo que os bons médiuns, os mais seguros, sábios, éticos e equilibrados, são, antes de tudo, grandes intuitivos, porque é a intuição, inclusive, quem faz a leitura das energias, e, portanto, faz a distinção entre bons e maus espíritos que se acercam do campo psíquico do “sujet”, entre os sábios e os pseudossábios do além, entre aqueles que vêm como representantes de Deus e os que se arrogam em enviados do Altíssimo apenas para melhor persuadir e engabelar em função de suas intenções mefistofélicas. É a intuição, ainda mais, quem faz o processo de assimilação profunda dos conteúdos que foram contactados através da experiência mediúnica, assim harmonizando as novas informações ao contexto mental preexistente, extraindo-lhes o que de fato é construtivo e útil, e filtrando todos os detritos e agentes desequilibrantes que lhe vieram de tabela. Em linguagem crística, é a intuição que faz a separação entre joio e trigo, e representa a atitude que o Mestre propôs do: “olhai, orai e vigiai, para não cairdes em tentação”.

E como ser mais intuitivo? Como desenvolver a intuição?

Esteja, primeiramente, atento aos seus sentimentos, à sua consciência, à sua vocação, aos impulsos de sua alma, a tudo aquilo que o faz enlevado, em estado de graça, que o faz sentir-se mais humano, mais dinâmico, mais idealista, mais entusiasmado e feliz, satisfeito no fundo do coração. Observe tudo de modo profundo, abrangente, em uma palavra: de uma perspectiva holística. Analise as coisas pelo seu lado prático, sempre, todavia, nessa praticidade, considerando princípios éticos e espirituais de moralidade e evolução, para o bem estar geral das criaturas: tanto seu como de quem eventualmente venha a estar no seu círculo direto ou indireto de influência. Procure, por fim, estar aberto às impressões sutis que lhe chegam ao campo mental, por meio da prática da oração, da meditação, da reflexão em torno de textos sagrados ou de elucubração séria, propiciando-se, por fim, momentos de silêncio e criatividade que lhe permitam a extravasão de seus impulsos profundos, talvez meros palpites, às vezes magníficas intuições, mas todos submetendo ao critério rigoroso da razão, a fim de que delírios do inconsciente não surjam como revelações pretensamente divinas.

Aprenda com a experiência, e entenda, primacialmente, que intuição verdadeira nunca fere o bom senso. Que uma introvisão, um “insight”, como se costuma dizer no vernáculo moderno americanizado, pode até ser trans-racional, mas nunca será irracional. Ou seja: pode-se até perceber algo que não é logicamente dedutível, mas que é razoavelmente esperável ou concebível. Nunca ideias bizarras, egomaníacas ou sinistras podem ter origem divina.

Destarte, observando esses pormenores essenciais que lhe ofertamos, recorde-se, por fim, que todos são intuitivos, mesmo que não o notem claramente, apenas em níveis brandos demais para que manejem essa ferramenta conscientemente, a seu favor e dos que amam. Por meio do sono, dos sonhos, dos encontros fora do corpo com mentores espirituais e amigos de outros evos, ou por meio das sensações de apreensão, de peso na consciência ou de entusiasmo inexplicável, bem como de paz e bem-aventurança, pode-se ter pistas bem palpáveis de por onde vai a intuição, em determinado conjunto de circunstâncias.

Basta, portanto, um pouco de paciência, dedicação, persistência e desejo sincero, sempre renovado, de aprender, que a intuição naturalmente se desdobrará, assim como uma criança, com o passar dos anos, atenta a tudo que se passa em torno de si, aprende, sem professores, um novo idioma, a partir, praticamente, “do nada”.

Por fim, considere que o importante, para ser feliz, não é ter extraordinárias experiências de pico e sim seguras e confortáveis, sensatas e equilibras vivências de base. Que as experiências culminantes – nos dizeres da Psicologia Humanista – venham trazer subsídios novos e impulsos importantes ao progresso, mas que nunca se esqueça de que um edifício se sustenta pelo alicerce e que somente em reconhecendo e vivendo plenamente nossa humanidade, estaremos inteiramente gabaritados a adentrar a angelitude luminosa dos seres redimidos, prenhes de intuições divinas sobre o bem e a verdade, em todos os sentidos. Como tão bem disse Jesus, didaticamente, “aqueles que se humilham serão exaltados, e os que se exaltam, serão humilhados.”

Não pretenda viver apenas nas alturas, prezado amigo, porque Deus também reside nas baixadas da vida. Almeje, sim, o progresso e favoreça-o, mas jamais se esqueça de que o bem e a verdade existem em todos os níveis de evolução, em todos os pontos da criação, e que a melhor maneira de se perder de si mesmo e se desconectar dos fluxos divinos é não estar plenamente no momento presente e na situação que se vive, para se viver de conjecturas sobre situações hipotéticas do futuro que, inclusive, talvez nem venham a acontecer, e que, aliás, terão enorme probabilidade de não ocorrer, se o indivíduo jaz obsecado com a ideia de antecipar o que só chega no tempo certo, como tudo na natureza, como da Vontade de Deus.

(Texto recebido em 19 de maio de 2002.)

(*) A mensagem correspondente ao dia 19 foi somente disponibilizada no site às 17:15 h de Nova York (estou nos EUA, realizando em circuito de palestras, em quatro estados americanos), 19:15 h de Aracaju, 20:15 h de Brasília. Assim, se não a leu, clique, no canto esquerdo da tela de seu computador, em “mensagens anteriores” e selecione o dia supracitado. As duas mensagens de Eugênia – esta agora no ar e a anterior – são, no meu entender, de leitura obrigatória, pelo seu profundo conteúdo de sabedoria e elementos práticos que apresentam, com dicas funcionais que só um ente superior saberia apresentar tão brilhante e didaticamente.

(Nota do Médium)