Benjamin Teixeira
pelo espírito
Temístocles.

Temístocles, na vida moderna, um dos maiores dramas é o da falta de tempo. O que você teria a dizer a respeito?

Que se trata de uma questão de administração, num primeiro nível de análise; de prioridades, num segundo; e de valores, num terceiro. Quanto ao primeiro item, muita gente não sabe gerenciar questões comezinhas quanto ao uso do tempo, como o acesso imediato, sem filtragem, de telefonemas. As interrupções constantes no ambiente de trabalho, por exemplo, podem absorver a maior parte do tempo. No que tange ao segundo, bem como ao terceiro tópicos, muita gente se esquece do essencial e, assim, absorve todo o seu tempo ou a maior parte dele com assuntos não fundamentais, colocando em segundo plano atividades basais para a autorrealização, como o convívio com a família, o culto da própria espiritualidade, a leitura e a busca da concretização dos próprios sonhos e ideais.

O que você diria a essas pessoas, em termos práticos, que lhes pudesse ajudar a corrigir esse estado de coisas?

Que se concentrassem no essencial. Que dedicassem alguns minutos por dia ao cultivo do fundamental. Orar por dez ou quinze minutos. Ler por vinte minutos ou meia hora. Dar um telefonema ou rabiscar algumas idéias, com relação ao projeto maior de sua vida. Sendo sistemático, ainda que modesto nas iniciativas, quanto ao básico e inadiável, é possível não fazer muito, mas fazer alguma coisa no capítulo do que não se pode pôr em segundo plano. Se alguém espera por circunstâncias ideais para fazer tudo que quer, como quer, talvez nunca sequer comece a fazer alguma coisa no sentido do que deveria sempre ter posto em primeiro lugar.

Há mais alguma coisa que julgue importante dizer, com relação ao aproveitamento do tempo?

Que as pessoas parem de se preocupar em aproveitar o tempo como se fossem uma empresa voltada para resultados. A vida não é uma fábrica, em linha de montagem. Esse paradigma do rendimento máximo deve ser suplantado – é algo concernente ao sistema industrialista de organização social e de valores culturais. Nessa nova era civilizacional, do pós-industrialismo, do ecológico e do espiritual, cabe-nos entender que estamos vivos para viver, não para fazer, embora o fazer esteja incluso no viver. Os indivíduos na Terra de hoje projetam seus egos hipertrofiados no uso de seu tempo e ficam preocupados em dar mais em menos tempo, com os olhos fixos no terreno vizinho, no afã de fazer mais e melhor, de saber mais, de possuir mais, de ser mais conhecido ou respeitado que o outro. Quem se esquece do fundamental – ser feliz, de fato – perde o contato com seu centro ou essência espiritual, sai do próprio eixo e desequilibra-se, inviabilizando o autoconhecimento em profundidade, o atendimento aos reais reclamos de sua alma e, com isso, as possibilidades de estar em paz e realizado. Diminuir pretensões, expectativas e auto-cobranças é um excelente predicado para quem quer se candidatar, efetivamente, à vida e afastar-se da condição de mera peça nas engrenagens do sistema produtivo que, indubitavelmente, não existe para lhe suprir as mais profundas e verdadeiras necessidades e aspirações.

(Diálogo travado em 18 de dezembro de 2001.)