Em 26 de abril de 1990, quando contava exatos 19 anos e meio de idade, publiquei meu primeiro artigo na imprensa, no extinto “Jornal da Manhã”, entitulado: “A Dor”. Por muito tempo, considerei esta a data do início do “Projeto Salto Quântico”. A posteriori, recuei para 1988; inicialmente para julho, quando tive o primeiro contato psíquico com a mentora espiritual Eugênia; e, por fim, para 17 de fevereiro, a pedido dela mesma, data da minha primeira “pregação espírita”, se é que assim podemos dizer. Até abril de 1990, porém, minhas atividades na seara espírita restringiram-se a contatos pessoais e falas em pequenos grupos de estudo.

Tendo em vista, destarte, a importância seminal desta publicação-marco para a história do Projeto, bem como o fato de muitos dos prezados amigos e companheiros de ideal espírita e “salto-quantista” não a terem em mãos, publico-a hoje, como “mensagem do dia”, em comemoração aos 16 anos da era pública do Projeto Salto Quântico (com 18 anos atualmente, se incluímos, no cômputo, a fase anterior, de divulgação em menor monta).

Uma curiosidade: até 1991, não havia assinado nada em nome dos espíritos, e este escrito encontra-se dentro deste período. Embora, já por aquele tempo, muitos textos me viessem praticamente prontos à mente (o que me ocorria desde os 14 anos), não me sentia suficientemente seguro para subscrever outro nome que não o meu mesmo. Por aqueles dias, nem sequer conhecia o nome de Eugênia, que só vim a saber um ano depois.

Segue-se, assim, a redação – sem correções, como foi publicada naquele longínquo 26 de abril de 1990 – desta composição basilar da história do Projeto.

Benjamin Teixeira de Aguiar Machado.
Aracaju, 26 de abril de 2006.

 

A Dor

por Benjamin Teixeira

Cerceados, castrados, bloqueados, oprimidos, trucidados, acorrentados penosamente, nos mais diversos aspectos e em todas as faces de nossas vidas, muitas vezes nos rebelamos ante tamanha tormenta e nos indignamos perante as imposições das circunstâncias. Como, dizemos para conosco, posso admitir a dor se tudo, desde os instintos mais elementares, impele-me a repudiá-la e a buscar o prazer?

Mas, neste enfoque, ocorre ligeiro desvio. Não é da dor que fugimos e sim da situação dolorosa. Em plena consciência, jamais desejaríamos nos safar dela. Afinal, quem nos alertaria de um mau funcionamento do estômago, se não o incômodo que nos advém deste órgão? Quem nos reclamaria cautela e moderação nos movimentos senão conhecêssemos a dor de uma queda?

A dor, sagrado mecanismo da natureza a serviço de Deus, antes de cruel inimiga e contumaz perseguidora, é protetora desvelada de nossas existências e educadora abnegada de nossa conduta; tanto a física que solicita cuidados materiais, no seu restrito âmbito de ação, quanto a espiritual que denota algum desequilíbrio no campo vastíssimo da psique, exigindo esmeros apropriados no esquadrinhar infindável de universos inconcebivelmente numerosos.

Sendo assim, não seria mais coerente lhe conceder atenção e lhe decifrar as advertências, em vez de buscar ignorá-la ou lhe escapar à influência?

Não seria mais justo emitir sinceras gratulações ao Alto, quando de seu aparecimento, ao invés de se enlear em sombrias formações de revolta que só promovem destruição?

Dor, antes de castigo, é benção celeste.

Amargo remédio que descortina a luz do alívio ao enfermo.

Salutar elixir que transfigura a vida espiritual;

que arranca lágrimas do coração empedernido;

que disciplina o caráter insubmisso;

que galvaniza o ânimo apático para porvindouros gozos celestes;

que dirige os passos do discípulo fiel da Sabedoria rumo à eternidade.

Voltemos os nossos olhos, rasos d’água, para o Nosso Pai que de tão desmedidamente misericordioso, presenteou-nos com esta companheira leal de evolução, sempre pronta a desvendar o roteiro seguro em toda circunstância.

Empenhemos mais energia em nossa fé em Deus.

Nada; absolutamente nada ocorre por acaso.

Se uma mãe permite o choro de seu filhinho por lhe negar uma serpente, é por puro amor que o faz.

Lembremo-nos do absurdo que é duvidar da Infinita Bondade de Deus. E reconheçamos que, se há padecimentos cujas causas são aparentemente independentes de nosso controle, a maioria maciça de nossas angústias têm origem em nossas próprias faltas.

Saibamos seguir os alvitres que implicitamente nos dá esta amiga divina e logo sentiremos muito menos as suas vergastadas, além de experimentarmos as intraduzíveis satisfações oriundas do sentimento de dever cumprido e da suavidade da consciência tranqüila. Pois sempre sofre mais quem não admite sofrer e bem-aventurado aquele que é capaz de comandar o leme de sua própria dor.

A partir daí, então, veremos como somos imensamente felizes, sempre amparados pela Providência Divina, e quão tolos éramos quando nos detínhamos em estéreis ladainhas de queixumes.

Antes do fardo de que devamos aceitar com resignação, a dor é a maior das dádivas divinas, pois é por ela que, além de se rearmonizarem os desequilíbrios do pretérito, desenvolvem-se as mais radiantes faculdades do Espírito e conquistam-se os maiores patrimônios para a eternidade.

Portanto, é com grande alegria que devemos recebê-la, pois é sob o seu guante que se acrisola a alma para o despertar glorioso da espiritualidade superior.

Dor é fogo que aprimora os impulsos e conduz à verdadeira felicidade.

Se nos nega um prazer efêmero, é porque nos dirige a gozos inexcedíveis.

Se nos amordaça a couraça bruta, é para que desfiramos o voo inenarrável rumo à Divindade.

E para que, assim como a larva no suplício do claustro na crisálida, abandonemos a aparência disforme e viscosa e despontemos numa profusão explosiva de cores e movimentos, na dança aérea espetacular das Borboletas de Deus…

(Artigo publicado no “Jornal da Manhã”, de Aracaju, Sergipe, em 26 de abril de 1990.)

(Revisão textual de 2006: Delano Mothé.)