Benjamin Teixeira de Aguiar – Querida Eugênia, você deseja abordar algum tema, especificamente?
Espírito Eugênia-Aspásia – Sim: a fraternidade. Amiúde o ser humano busca formas superiores de felicidade e paz, de acerto psicológico e elevação espiritual, no contexto das relações interpessoais, das mais íntimas àquelas em que prevalece certa medida de distância, por circunstâncias geográficas, sociais e profissionais, ou por diferenças de interesses, instrução, valores e caráter. E, para qualquer gênero de relacionamento entre espíritos no nível hominal de consciência – desde o coroado com a sacralidade que une pais e filhos, mães e filhas, até o pautado por cortesia, comum nas interações sociais entre estranhos(as) –, a fraternidade ou a amizade, em suas expressões mais nobres de desinteresse nas permutas e partilhas, consiste num padrão excelente para benefício mútuo de profundidade, seja na obtenção de maior autenticidade e isenção de ânimos, seja na vivência de um paradigma mais puro de espiritualidade e cristianismo.
BTA – Pois é, Eugênia, como é relevante o conceito que você reforça. Essa ideia de colocar os laços do Espírito acima dos elos biológicos foi inclusive trazida por Nosso Mestre e Senhor Jesus, que prometeu cem vezes mais a quem abandonasse família e outros interesses mundanos, em Nome do Reino de Deus. E está presente em todas as tradições espirituais do Oriente e do Ocidente, que, com frequência, sugerem, aos(às) que desejam imergir na experiência espiritual, o afastamento de vínculos consanguíneos ou conjugais…
EEA – De fato. Entrementes, o que aqui postulo é a matriz de comportamento ou a fórmula moral de priorização dos sentimentos, no sentido de favorecer, mesmo em situações ditas convencionais ou mundanas, o melhor aproveitamento da experiência, no âmbito psicológico e espiritual, além de, em termos pragmáticos, propiciar harmonia, bem-estar e êxito relacional entre indivíduos, em qualquer tipo de relacionamento, incluindo os profissionais, acadêmicos e, evidentemente, os familiares – considerando lato sensu as categorias aqui definidas de compromisso humano.
BTA – Essa proposta, Eugênia, é por demais difícil ou abstrata, no meu ver, para a maior parte das pessoas. Você poderia apresentar alguma elucidação adicional?
EEA – Sim. Não é possível fazer o máximo pelo próximo, sem algum grau de distanciamento emocional. Recordemo-nos da postura “fria” do(a) cirurgião(ã) que deve manter-se abstraído(a) dos movimentos aparentemente agressivos que leva a efeito com o(a) paciente anestesiado(a), em sua mesa de operações, enquanto lhe cinde os tecidos e faz interferências não raro dramáticas na fisiologia de seu corpo, a fim de lhe salvar a vida orgânica.
No extremo oposto dessa posição, temos o mais profundo mergulho emocional que se alcança numa relação humana: ser mãe ou pai. Se alguém afetivamente assume, ao reencarnar, a condição parental, mais facilmente se pode equivocar, distorcendo o que seja mais justo e benéfico para seu(sua) filho(a). Vemos, tragicamente, erros clamorosos ocorrerem com as “melhores intenções” e mesmo com sinceras iniciativas de sacrifício pessoal. Para ilustrar o raciocínio, basta lembrarmos o fenômeno corriqueiro de filhos(as) mimados(as) e completamente destruídos(as) para enfrentar as asperezas da vida adulta.
O que propomos – e não podemos detalhar muito, por critérios de respeito ao discernimento e livre-arbítrio de nossos(as) leitores(as) – é que cada criatura humana, seguindo os alvitres de sua consciência, procure encontrar um ponto de equilíbrio entre a atitude “fria” e salvadora do(a) médico(a), em ação emergencial, e o envolvimento passional, embora sagrado, de pais e mães, nos contatos com seus rebentos.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Eugênia-Aspásia (Espírito)
25 de setembro de 2019