Benjamin Teixeira pelo espírito Eugênia.
Tente relaxar, ante a dor inevitável. A cultura ocidental é extremamente voltada ao prazer, pugnando por crer ser possível de todo eliminar o sofrimento da experiência humana, o que é impossível. Se sua dor acontece no nível físico, agradeça que ela tenha vindo dessa forma, e tolere-a, procurando assimilar-lhe os aspectos positivos, as lições que lhe vêm embutidas, porque se ela não vier nessa dimensão, virá na emocional, na intelectual, ou mesmo na espiritual, de modos muito mais angustiantes quiçá. A dor emocional de uma discussão desgastante com ente querido, a dor intelectual de um dilema ideológico-conceptual sério, ou a pior de todas: a dor espiritual da sensação de perda de norte, de propósito, de sentido, em dado momento da existência, ou em longas fases dela.
Todos têm a sua quota de dor, na condição humana, tanto maior quanto mais rebelde seu espírito ao aprendizado necessário, quanto mais esteja em regime de urgência evolutiva, com graves e inadiáveis mudanças a serem efetuadas.
Obviamente que de modo algum estamos propondo qualquer forma de apologia ou culto à dor, como tão dramaticamente temos dado provas contrárias a isso, em tantos de nossos escritos. A alegria deve ser o referencial e o objetivo máximo da criatura, ou um termômetro para estar no caminho certo, em todos os sentidos e circunstâncias. Todavia, queremos chamar atenção para o fato de que a dor é parte inexorável do concerto das coisas, no universo relativista que foi dado ao ser humano viver. É representante do pólo negativo, em contraposição ao pólo positivo da alegria ou do prazer. Sendo assim, cabe utilizá-la, em sua função: fazer a energia da vida fluir, conduzindo a própria dor, se assim podemos dizer, no desconforto da disciplina, por exemplo, para a que a dor não apareça, como fatalidade impositiva, nas conseqüências nefastas de relaxamentos morais.
Quem foge da dor é perseguido e pisoteado por ela, como tão bem atestam os que abarrotam clínicas de desintoxicação, presídios e manicômios. Dor é mestra a ser ouvida. Apreenda os conteúdos que ela tem a lhe transmitir e, tão-logo, estará ela naturalmente se dissipando, com a mesma facilidade com que lhe chegou.
(Texto recebido em 27 de janeiro de 2001.)