por Benjamin Teixeira.


1990 – 17 de fevereiro. Havia viajado até Uberaba, para conhecer, pessoalmente, o famoso médium mineiro. Já relatei, n’outras ocasiões, neste site, momentos daquelas horas especiais, em que estive ao lado do grande médium, pela primeira vez, que se estenderam até a madrugada do dia 18 de fevereiro daquele ano. Agora, vou tentar ser fiel à memória, em dois outros instantes cruciais que me marcaram o coração naquele dia. Um, não propriamente no dia, mas que me foi narrado por uma companheira de pensionato, pouco antes, sem que eu possa precisar a data; e outra ocorrência que se deu às minhas vistas, atentas a cada movimento do grande missionário em terras brasileiras.

Olga(*) era uma médium de Brasília que visitava Chico periodicamente, apenas para se pôr sob a influência de sua aura – de dez metros de raio ou vinte de diâmetro, como revelado por exame levado a cabo por cientistas da Nasa, que estudaram Chico. Havia sido resgatada de cruel sanha obsessiva pela Luz de Chico… Contou-me aquela senhora simpática um episódio que presenciara e que me deixou deveras chocado – lamentavelmente em consonância com muitos outros que me narraram sobre ele, nestes anos de pesquisa informal sobre a vida de Chico (só de biografias, mais de vinte). Estava ele no meio da multidão, sorrindo, confortando, oferecendo palavras de bom-ânimo e de esclarecimento para todos, sem fazer qualquer distinção de pessoas (o que era de seu feitio, invariavelmente), quando alguém dispara, no meio da mole humana, a surpreendente declaração:

– Gente! O homem está com o ombro deslocado!

Dor lancinante, para quem conhece, é a de um ombro deslocado. E Chico sequer havia reclamado, nem mesmo retirado o sorriso do rosto ou a calma inalterável do tom de voz, distendendo amor e auxílio para todos. Alguém se prontificou a recolocar o ombro de Chico no lugar, e o anjo encarnado deixou-se ajudar, como um boneco de pano, nas mãos de todos.. o santo…o anjo…

Certa feita, uma das damas que acompanhavam o grande luminar em suas atividades, chegou a dar depoimento em entrevista de TV, que era comum Chico chegar em casa, depois de contatos com o populacho, cheio de placas roxas. As pessoas pareciam achar que beliscá-lo transmitia forças ou bênçãos. E Chico, é claro, nunca se lamentava de nada.

Cristina (*) era uma senhora, à época, torneando os 60 anos de vida. Conheci-a nos últimos dias antes de ver Chico (passei uma semana aguardando pela oportunidade, hospedado numa pequena pensão que havia ao lado do “Centro” de Chico). Contou-me, entre lágrimas, o seu drama, que era também o motivo de sua vinda, em busca de conforto do oráculo vivo. Perdera um filho adulto, violentamente, em assassinato “a queima roupa”, na já famosa, como praça de guerra, metrópole carioca. Não esperava muita coisa do Chico. Sabia que era extremamente difícil obter algo direto de um parente desencarnado, e nem sequer se abalançava à idéia de lhe relatar o ocorrido. Queria apenas vê-lo – ser-lhe-ia o bastante, ao coração dorido de mãe, ver o santo. Havia um dado adicional que me chamava atenção para aquela senhora: ela havia sido conhecida de Chico, ela uma criança, Chico homem feito – eram conterrâneos, e as correntezas da vida os haviam separado desde então. Por aqueles dias longínquos de sua infância, viam-se na rua, com freqüência, e Chico a chamava carinhosamente de “Tininha” (*).

Era já madrugada do dia 18 de fevereiro. Chico havia lido pedidos de socorro, por duas horas, psicografado por outras duas horas consecutivas, e passado ainda mais duas horas tentando decifrar as garatujas que escrevera de olhos fechados, em transe (àquele tempo, Chico já estava profundamente exaurido, e a coordenação motora, como todos os sentidos físicos, periclitavam seriamente. Contava com 80 anos incompletos, e ainda viveria mais incríveis 12 anos, até o seu desencarne – incríveis, em considerando seu profundo desgaste, desde a casa dos 50 anos, como inúmeros relatos biográficos o diziam). Carregado por duas pessoas, entre elas um outro companheiro de pensão, sobre quem já falei também aqui, D. Cristina se aproximou de Chico, e tomando-lhe as mãos, com infinito carinho, disse, com o ar complacente e infantilizado de quem fala com um velho decrepto ou com um bebê, separando as sílabas:

– Chi-co… É Ti-ni-nha! Ti-ni-nha, Chi-co… lem-bra-se de mim?

Com um sorriso patético da perfeita bondade, imperturbável alegria e boa-vontade para com todos, Chico ouviu-lhe o cumprimento mimoso e, com voz inaudível para quem estivesse a mais de um metro de distância, desfiou a falar do ocorrido com o filho de D.Cristina, confortando-a, sem sequer ela haver mencionado qualquer coisa sobre a tragédia familiar. Via-se, à distância que eu estava, apenas as lágrimas correrem dos olhos de D. Cristina, enxugadas com dedos céleres, e os agradecimentos enfáticos. O “bobo”, como sempre, estava extraordinariamente lúcido, apesar de o corpo fenecer a olhos vistos, como uma lâmpada que se apagasse a pouco e pouco.

Logo depois foi minha vez, quando ele já se apoiava para adentrar o veículo que o conduziria de volta a casa. Dava a impressão de saber tudo sobre todos, como uma incrível manifestação de presciência sobre todas as dores que lhe eram encaminhadas – um impressionante avatar, para usar a linguagem hindu, espalhando a Luz Divina por onde passava.

Chico se foi. E, com ele, nos dizeres da mentora espiritual Eugênia, encerrou-se a era dos santos sobre a Terra… Agora, teremos que andar com as “próprias pernas”, até que todos nos convertamos em santos, de nossa parte, em distantes séculos futuros…

Ó Chico, que saudade! Ó Chico, que bom que você se foi: nós não o merecíamos. Você era do “céu” e ao “céu” voltou. Que Deus o guarde e o proteja, anjo bom, que misericordiosamente esteve entre nós, por quase um século de existência, aprisionado num cárcere de carne, sem se lamentar, tão difícil que lhe foi estar aqui, espalhando amor e sabedoria a todo tempo, sem compensações de quem o compreendesse no seu nível de entendimento da vida. Até hoje, poucos lhe perceberam a grandeza. Trataram-no como um homem vulgar, e você continuou sempre sorrindo, indulgente. Que Deus o replete de bênçãos, pelo muito que fez a tantos, por tanto tempo…

Para nós, lamentavelmente, a saudade será grande demais, porque, ainda que desencarnemos, não poderemos estar com você, tão acima de nós que se encontra, no carreiro evolutivo, em altas freqüências vibratórios do plano astral, onde está! Esteja com Jesus, Chico, e com as altas Autoridades que dirigem o planeta! É aí que você merece estar! Seja feliz, anjo bom! Seja feliz! Somos todos eternamente gratos, pela obra ímpar que nos legou, com o seu sacrifício, comprovando, dramaticamente, a vida após a morte, e dando seu próprio exemplo de santidade e amor!

(Texto redigido em 12 de fevereiro de 2005.)

(*) Os nomes e o apelido foram alterados, para preservar a privacidade das personalidades citadas.
(Nota do Médium)