Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

 

 

Você fita aquele grande empresário, com tino empresarial impressionante, e inveja-lhe a habilidade nos negócios. Para desenvolver tal capacidade, porém, esteve ele, por inúmeras reencarnações, na condição de mercador ou de feirante vulgar, viajando por desertos e estradas difíceis, cheios de mal-feitores, ou por mares prenhes de intempéries, em cima de carroças incômodas ou de embarcações instáveis e perigosas.

Percebe aquele sujeito dotado de excepcional inteligência, e cai em profundo estado de desgosto, por não trazer consigo, você também, um poder mental como o dele. Não sabe você, todavia, que, para estar tão à sua frente, em aptidões intelectuais, tem ele vários séculos a mais de experiência encarnatória, tendo vivido e superado problemas complexos e crises existenciais inúmeras a mais que você, e, quiçá, em tempos distantes, tenhado estado mergulhado em alfarrábios manuscritos, em consecutivas noites indormidas, enquanto você urrava na taba, brincando, distraído de maiores responsabilidades, na infância espiritual que, por aqueles tempos longínquos, lhe assinalava a condição evolutiva.

Nota aquele médium, ostentando fabulosas percepções psíquicas – vendo, ouvindo e interagindo com o domínio espiritual de vida, como se estivesse convivendo diuturnamente com amigos excelsos da outra dimensão, e se confrange, cotejando tais benesses com sua amarga sensação de solitude espiritual. Não faz idéia, entretanto, das sucessivas vidas de sacrifício, na condição de feiticeiro em tribos primitivas de prístinas eras, de médico alquímico na Idade Média, ou de bruxa queimada viva em praça pública, pelas fogueiras de tribunais fanáticos de tempos pretéritos, que teve o homem-fenômeno suportar, trágica e heroicamente, para ser ele hoje portador do “favor” do “destino”.

Nada há de graça na vida, nem existem injustiças reais neste universo de Deus. Cada qual vive na atmosfera que criou para si mesmo, com escolhas, esforços e trabalhos continuados de inúmeras reencarnações, como por empenho da atual existência.

Amiúde, inveja você patrimônios para os quais não teria disposição de pagar o preço correlato. E, por outro lado, não se dá conta dos favores que agora mesmo já exornam sua personalidade arquimilenar.

Assim, para combater o monstro da inveja, que carcome o mundo interior de quem a ele se entrega, estabeleça o hábito de “olhar para baixo”, e não “para cima”. Ou seja: de reconhecer as inúmeras conquistas evolutivas que já carreia consigo, ao reverso de focar os ganhos que ainda não lhe pertencem, por direito adquirido.

E, por fim, quando for “olhar para cima”, para aqueles que estão mais adiantados, no carreiro evolucional, faça-o com bom-humor e alegria, considerando o companheiro espiritualmente mais velho como um estímulo ao próprio progresso, assim como o menino ou a menina que contemplam o pai ou a mãe amados-admirados, e dizem, em meio a jubiloso sorriso: “É assim que eu quero ser, quando crescer.”

Deste modo, entenderá que, “olhando para baixo”, deve estender a mão em auxílio aos que trafegam na retaguarda da evolução, deleitando-se com o prazer de ser útil e de servir ao bem-estar alheio; e que, “olhando para cima”, cabe-lhe encher o coração de esperança, ao ter vislumbres do próprio futuro, emulando-se a seguir, com mais disposição e amor, na senda de serviço e prosperidade que o assinala, na humana existência de hoje.

(Texto recebido em 2 de março de 2005.)