Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

 

 

Qual o problema fundamental dos médiuns?

Manter um perfeito equilíbrio entre suas funções como canais e suas obrigações como indivíduos autônomos.

E dos médiuns iniciantes?

Temerem a mediunidade, por um lado; deslumbrarem-se com ela, por outro.

Que dizer a eles, em tais circunstâncias?

Que se precatem em relação ao medo de se abrir às percepções extra-sensoriais, como que mantenham-se reservados para a ambição de estar sintonizado permanentemente com altas esferas de consciência.

De que forma estes receios mais podem degenerar?

A maior parte dos médiuns no planeta é intermediária de inteligências sofredoras, que precisam se manifestar no plano físico, em caráter de socorro espiritual a ser recebido pelos próprios encarnados, ao passo que eles mesmos se prestam a oferecer lições vivas, com sua experiência, dos exemplos que não devem ser seguidos, em vida física, em vista das conseqüências na outra vida. Estes médiuns, todavia, costumam temer a abertura de seus canais psíquicos a tais entidades mais sofredoras que malévolas, mais frívolas que pérfidas, e acabam adoecendo suas psiques, que degringolam a sensibilidade para patologias diversas, como a depressão clínica, a síndrome do pânico, as ansiedades e fobias diversas. Faculdades mediúnicas reprimidas, sim, adoecem a mente, apesar de a mediunidade jamais poder ser considerada um distúrbio. É uma aptidão, mas que degenera se não desenvolvida.

Outro grande equívoco, diametralmente oposto, é a pretensão de se tornar representante de altas esferas de consciência e de se fazer instrumento de revelações avançadas para a humanidade. Dotadas de imaginação fértil e muita vaidade, acham que seja isso bastante para que se candidatem a tal ordem de trabalho seriíssimo. Facilmente, tais criaturas imprevidentes se tornam fantoches da categoria de espíritos que Allan Kardec denominou, muito justamente, de pseudo-sábios. Seu destino é se prestarem ao ridículo, e à própria destruição de sua fé, quando não de suas existências inteiras, pois que conferirão um rumo lamentável ao seu destino. Esquecem-se, neste caso, de questionar as entidades que por eles se manifestam, e de submetê-las, permanentemente, ao crivo da razão. Não percebem, por exemplo, quanto incoerentes se fazem, ao confiarem muito no que falam sobre o futuro e sobre questões metafísicas, quando tais entidades (quando as há, e não somente fruto da elaboração do próprio inconsciente do “médium”) se mostram incapazes de falar com acerto sobre questões do presente e do passado, que tangenciem o bom senso e os princípios gerais de lógica. Uma profecia sobre o futuro “grandioso” do médium é acatada facilmente, pelo ego narcísico do intermediário. Todavia, o espírito se mostra incapaz de falar instrutivamente, sobre questões prosaicas do dia a dia, e tornar o medianeiro, hoje mesmo, produtivo e útil ao próximo. Outra questão grave (que começamos acima a abordar) é a de pessoas não dotadas de faculdades mediúnicas, de tanto desejarem apresentá-las, entregarem-se a surtos da imaginação, francamente perigosos, porque, neste caso, estar-se-á procedendo a uma fragmentação do psiquismo, num fenômeno intra-psíquico semelhante à etiopatogenia das esquizofrenias e esquizoidias de um modo geral. No mesmo padrão acima apresentado, farão, facilmente, previsões magníficas sobre o futuro de si mesmas e da humanidade, grandioso para elas, catastróficos para o globo e para os outros, mas inaptas a demonstrar mínimas aptidões de telepatia, presciência ou clarividência. Em resumo: o incauto esquece-se de submeter suas percepções à prova, com uma confiança exagerada em si mesmo e nas personalidades que estariam se manifestando por seu intermédio, a fim de checar se está, de fato, “percebendo” o que está fora do alcance de seus sentidos, ou “criando”, com a fantasia de seu ego desassizado.

Raras são as personalidades encarnadas que estão a serviço de envergadura neste setor grave de responsabilidade coletiva, como a revelação de novas instruções do plano maior de vida (assim como raras são as sumidades vanguardistas em qualquer área do saber ou da ação humanos). Em vez de se prestarem a discursos vazios, sem conteúdo elevado e, principalmente, pragmático e educativo, melhor seria que estudassem as obras de médiuns mais experimentados ou de autores encarnados realmente inspirados. Querem alguns a “glória” das grandes missões, sem se darem conta, quais crianças que pretendem adentrar o laboratório de química, para brincar de roda, que as delegações de caráter coletivo são extremamente melindrosas, que submetem seus dignatários a terríveis sobrecargas psicológicas e mesmo físicas, pressões e angústias inenarráveis, com provações contínuas e impensáveis para quem está observando de fora, e tentações inúmeras ao desvio de rota. Somente almas muito nobres e experimentadas no carreiro reencarnatório logram ser bem-sucedidas em tais funções.

Sugestões teria para tais inconvenientes serem evitados?

Que nenhum médium se sinta apto a assumir funções de responsabilidade, numa simples reunião mediúnica de desobsessão, antes de alguns anos de atividade, que variem de três a cinco anos, conforme a sensibilidade mediúnica. Publicações psicográficas, então, devem ser encaradas com maior critério ainda. Nada pode ser feito antes deste tempo. E tudo que produzido neste período deve ser, sumariamente, destruído, já que se tratavam de exercícios. Nenhuma inteligência desencarnada com um mínimo de responsabilidade se presta a fazer uso de um médium iniciante, para fazer revelações de vulto, assim como uma criança não é chamada a auxiliar um médico, numa sala de cirurgia. E alguém aventará que a canalização mediúnica seja menos relevante, em seus fundamentos e finalidades, que a realização de uma operação cirúrgica? Quantos anos estuda um médico ou um engenheiro, para que possam dar vazão à sua competência profissional? Poderíamos autorizar um adolescente ou um analfabeto, senão mesmo alguém adulto e culto, mas sem o conhecimento e o treinamento adequados ao mister, a fazer o projeto de construção de um edifício (incluindo cálculos estruturais) ou capitanear uma cirurgia de peito aberto, apenas porque digam ou demonstrem ter grande “vocação” para tais atividades ou digam ou demonstrem ter “boa intenção”?
Imprescindíveis anos de estudo, de orientação por parte de gente abalizada e muito critério auto-crítico, para que o indivíduo não se desvie do foco central da mediunidade: estar a serviço da evolução do espírito (do próprio médium primeiramente) e não a serviço do ego e suas paixões.
Mantendo-se prudente, pudico e focado na devoção espiritual a Deus (mais do que a entidades, por mais evoluídas que pretendam ser, mesmo porque as verdadeiramente sábias concitarão o indivíduo a esta reverência e submissão à vontade de Deus), o indivíduo, ouvindo a voz do ideal, da consciência e da intuição de bem servir o próximo, encontrará um caminho (não facilmente) de desenvolvimento e exercício da mediunidade. Mais uma vez, reforço: o objetivo deve ser a espiritualização, o serviço devocional a Deus, na pessoa do semelhante, a sujeição pessoal aos ideais de altruísmo e de educação e mesmo contenção do ego. Mais do que canalizar outros espíritos, deve o médium cuidar do seu próprio espírito. Mais do que “mediunizar-se”, deve aplicar-se em meditar, refletir, estudar, e, principalmente, servir a Deus, na pessoa do próximo. Somente assim poderá garantir uma sintonia superior.
O espírito é tudo. A mediunidade não passa de uma ferramenta da psique, como a memória ou a inteligência, para o crescimento da consciência. Desenvolver os sentimentos, aprimorar os próprios valores, elevar a qualidade das próprias intenções, disciplinar a conduta e o trato com o semelhante. E, então, pode-se estar num caminho de Deus e não da desgraça pessoal.

(Diálogo travado em 6 de março de 2005.)