por Benjamin Teixeira.
Terminei um dos programas de TV que faço semanalmente, no final das tardes de quintas-feiras, e apressei-me em sair dos estúdios da emissora, para providenciar abastecimento do veículo e, quanto antes, tomar o rumo da sede do projeto, onde atenderia a consulentes que me procurariam, para o serviço de aconselhamento profissional que faço (sem a atividade mediúnica, obviamente), a partir das 19 h.
O trânsito, no horário do rush, estava “um caos”. Senti uma pequena apreensão íntima, com o escoamento do tempo, à medida que vi um tráfego “lento e angustiante”, conjugado ao fato de que somente às 18:28 h logrei sair do posto em que fora encher o tanque do automóvel. Tenho rematada ojeriza a atrasar para compromissos, sempre mantendo, na medida do possível, pontualidade britânica, que não considero, a propósito, uma virtude, mas uma obrigação de respeito e consideração para com o tempo e a vida dos outros, já que, de minha parte, considero como desrespeitosos aqueles que fazem pouco caso da sintonia com a agenda alheia, lendo nisto a mensagem arrogante, embora subliminar, de que o seu tempo vale mais que o dos outros.
Mal havia arrancado do posto de abastecimento, soou-me à psicoaudência, o amável e doce convite do guia espiritual Eugênia à conversação, enquanto fazia o trabalho mecânico de conduzir-me, pelas artérias da capital sergipana, de quase um milhão de habitantes, até o destino necessário. Após minha imediata anuência – e apenas depois de verbalizar, internamente esta aquiescência – disse-me ela:
“- Tranqüilize-se. A ansiedade não vai fazê-lo chegar antes do tempo possível, além de pô-lo a descoberto para maior probabilidade de acidentes no trânsito. No mínimo, a aflição apenas irá desgastá-lo e atormentá-lo até lá, fazendo chegar estressado e irritadiço ao encontro com quem o aguarda, prejudicando o rendimento de qualquer iniciativa socorrista de qualidade. Se acontecer de atrasar, peça desculpas, simplesmente, porque, até quinze minutos, qualquer descompasso de relógios é perfeitamente compreensível, pois que fatores supervenientes sempre adentram a rotina de qualquer qual.” – iniciou a mentora, com esta pérola do senso comum, pouco seguida, todavia, concluindo, então, esta primeira quadra de sugestões: “- Vamos aproveitar a oportunidade para estudar a vida e seus fluxos”.
A certa altura, deparei-me com semáforo fechado à minha frente, com três filas gigantescas de veículos de todos os portes a esperarem pela nova abertura do “sinal” (ou do “farol”, como diriam os paulistanos). Suspirei semi-tenso, já mergulhando, inadvertidamente, mais uma vez, na psicosfera de afobamento dos motoristas na volta do trabalho para casa, todos ávidos pela pronta chegada.
A esta altura, proclamou Eugênia:
“Recorde-se de que, com alguns minutos a mais ou a menos, estará no consultório, de qualquer forma, e que lhe cabe, tão-somente, aproveitar construtivamente o tempo. Comece por perceber o descalabro do padrão de lamentação, quando está sentado em poltrona acolchoada, em ambiente climatizado, isolado da barulheira ensurdecedora de fora, enquanto, no passado, viagens ou traslado dentro das cidades de antanho eram feitos a pé ou no ‘lombo’ de alimárias humildes, mas tresandando odores nauseabundos de excrementos e suor, vagarosa e dolorosamente, por vias ruins, insalubres e perigosas, em regiões urbanas atulhadas de gente imunda, inculta e com fortes inclinações à bestialidade.”
Logo adiante mais uma vez se fez uma parada imperiosa, com novo semáforo determinando espera, para a minha fila central de veículos e a da esquerda, deixando livre, porém, a coluna que seguia à direita.
“Observe – obtemperou Eugênia, sem perda do ensejo de aprendizado – que assim também se faz na vida. Fluxo e refluxo, tanto quanto bloqueio provisório de fluxo. Encarnados aprisionados no corpo físico, assim como seu carro e os dos companheiros das duas colunas obedientes ao aviso de espera; e desencarnados, livres para o curso natural, como os que seguem à direita. Assim também os que seguem na miséria ou na opulência, os que sofrem a ignorância a se contraporem aos que são agraciados com a bênção da ensancha maior à instrução; e, de modo idêntico, metáfora válida para todos os pólos de opostos que, aparentemente, favorecem ou desfavorecem as criaturas. Ninguém, porém, das filas que atendem ao apelo de aguardar, está revoltado ou se sentindo injustiçado (embora possa estar ansioso), porque sabe que é natural e necessário parar ao sinal vermelho, como seguir ao verde, para que o tráfego possa fluir com um mínimo de segurança e funcionalidade para todos. O mesmo se dá com a vida, em relação a todos os pólos de “favor” e “desfavor” às criaturas. Em vez de se rebelar ou agir contra, o que causaria “acidentes de percurso”, as criaturas, inobstante devam buscar a tranqüilidade e o bem estar pessoal, devem compreender que a existência humana é feita de altos e baixos, expansões e retrações, subidas e descidas, e que, portando, não admitir isso e agir de forma contrária a tais princípios universais de organização do universo, é caminho para a geração de graves problemas não só para os outros – que ‘colidirão’ com o ‘condutor irresponsável e transgressor’ – como ainda e, principalmente, para si mesmo.”
Aspirei fundo o tal “ar climatizado”, como Eugênia elegantemente adjetivara o indispensável ar refrigerado para automóveis, no calor escaldante do Nordeste brasileiro, e engatei a marcha-primeira para avançar: o aviso “verde” se fizera luzidio à frente de todos nós, que esperávamos liberdade de movimento. Logo mais, às 18:53 h, alcançava, por fim, a sede do Projeto Salto Quântico, perfazendo uma viagem, entre o posto de gasolina e meu destino, em, tão-somente, vinte e cinco minutos (para um transcurso que poderia durar apenas 10 minutos, em bons momentos de tráfego). Estivesse nervoso, além de me expor a riscos desnecessários no trajeto, haveria me agastado de modo todo desnecessário.
Trancando o veículo na chegada, pensei comigo, em palavras semelhantes ao que já havia enunciado em público, por inspiração da própria Eugênia: “Como somos uma civilização de homens e mulheres ‘mimados’!!!… Controles-remotos, automóveis, computadores e uma infinidade de benesses tecnológicas, materiais e culturais têm-nos feito nos supor credores de facilidades quase mágicas, fazendo-nos psicologicamente regredir a uma condição francamente infantil. Como temos a agradecer, e, principalmente: a suspender tal padrão deplorável de consciência e de estado de espírito e de humor, sob pena de nos convertermos em demônios de ingratidão para com Deus, e, sobretudo: monstros detestáveis de angústia e de infelicidade para nós mesmos.”
(Texto redigido em 8 de abril de 2005.)
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Benjamin Teixeira.
Aracaju, 10 de abril de 2005.