Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Cuidado com o entusiasmo excessivo. Excesso de emoções denota fuga ao eixo do equilíbrio. Mais vale sentir menos, para sentir com segurança, a render-se ao turbilhão das emoções e perder-se em meio a ele.

As neurociências revelam que, durante a gargalhada, por exemplo, extensas fatias do cérebro são desativadas. Por outro lado, nos estados depressivos, a grande glândula nervosa se encharca de tensões, bloqueando o fluxo saudável do pensamento. Em um e em outro estado de ser, ocorre o afastamento do ponto de equilíbrio que favorece a percepção fidedigna de fatos e a leitura fiel de si mesmo.

Não se confie nem a tristeza demasiada – que pode conduzi-lo a conclusões equivocadas sobre a vida – nem se renda a culto extremado à alegria – que igualmente faz com se perca os parâmetros da razão e do bom senso, o senso das proporções da realidade.

Não que postulemos viva a cercear sentimentos e expressões intuitivas e emocionais do ser, mas justamente o contrário: para alcançar-se a excelência do sentimento e da intuição, mister se faz apaguem-se os incêndios das emoções desgovernadas, a fim de que a paz e a disciplina se possam estabelecer nas estruturas da alma, que a harmonia e a funcionalidade se possam fixar nos corredores da mente, e assim a lucidez e a serenidade facultem a excelência do ser, a otimização de recursos intelecto-morais da psique e a maximização do bem estar e da produtividade em todos os sentidos.

Proponha-se agora a tentar reencontrar seu norte. Não é trabalho para um momento – mas para a vida toda, como os mecanismos de orientação de rota em navios e aeronaves: continuamente estão compensando desvios provocados por correntes marítimas e aéreas, respectivamente. Não se culpe por sair da linha, volta e meia, amiúde involuntariamente: tome providências no sentido de isso acontecer o mínimo possível e ser corrigido quanto antes, por métodos que se lhe façam automáticos, como a busca de reflexão e da auto-corrigenda, sempre se fizer necessário, sem culpas, mas com energia e disciplina.

Você vai vencer, se quiser, nessa faina bendita no intuito de se dominar. Mas não pense que será obra para um dia. Acostume-se à idéia de identificar-se com a condição de um ser em contínuo processo de construção. Desse modo, cobrar-se-á menos e sentir-se-á melhor, favorecendo, inclusive, um estado de consciência ótimo para propiciar a mudança e a consolidação de conquistas novas para seu espírito.

Nada de grandes tempestades. Contente-se com a garoa. Nada de grandes dilúvios emocionais, arrasando edificações: melhor o orvalho que inspira e asserena, re-colocando o indivíduo no rumo de si mesmo, para seu bem e de todos que lhe têm a graça de privar de seu contato e de sofrer os efeitos de seu círculo direto ou indireto de influência.

(Texto recebido em 17 de maio de 2002.)