Benjamin Teixeira pelo espírito Anacleto.
Qual o tema de hoje?
Harmonia.
O que tem a nos dizer sobre harmonia?
Que tudo, no universo, gravita em torno de princípios de harmonia. Os equilíbrios dinâmico e estático da natureza – esses últimos não tão estáticos quanto parecem – as forças forte e fraca, gravitacional e magnética, estudadas pela Física, os mecanismos homeostáticos dos organismos vivos: tudo é regido por indefectível lei de harmonia. Harmonia expressa fluxo com as Leis da Natureza, com as Leis Divinas, harmonia significa estar-se ou estar alguma coisa alinhada com a Consciência Subjacente que a tudo pervaga.
Parece, entretanto, que um dos maiores motivos de sofrimento entre os seres humanos é a ausência de harmonia entre os indivíduos e seus interesses díspares.
Sim. O ser humano da Terra de hoje, em sua loucura cultural, supõe que esteja separado da natureza, e mesmo de seus irmãos em humanidade, sentindo-se um andarilho do cosmos, largado ao acaso em qualquer lugar do universo, sem um propósito definido, alienado de sua interconexão figadal e inexorável, com todas as coisas, processos e seres.
O que é essa loucura cultural a que faz referência?
São as premissas filosóficas que pautam, subliminarmente, suas ciências. O homem supõe-se um ser à parte da Criação, com poder de interferir e analisar friamente em processos que tem por mecânicos, com existência independente de seu ser e, mais ainda, de seu pensar. Hoje sabe-se, após os sucessos do último século, em Física Quântica, que todas essas suposições são falsas. A consciência observadora não só interpreta, ao seu modo, o que vê, projetando suas introvisões e indiossincrasias no mundo externo, como, literalmente, como experiências laboratoriais têm demonstrado, altera a configuração de eventos externos, materiais, pelo simples fato de estar observando. A ciência já afirmou estar errada a cultura dominante da separatividade, do individualismo, do egocentrismo, mas o establishment tem suas resistências a se dobrar a evidências racionais. Aliás, que fatos hoje sustentam a superioridade da raça branca sobre a negra, ou do homem sobre a mulher, sobremaneira nesses últimos anos em que se descobriram fortes evidências paleoantropológicas de que a espécie humana surgiu na África, e que as mulheres se apresentam em número cada vez maior ao de homens, em ambientes acadêmicos, incluindo um forte crescimento de sua presença nos ambientes de pesquisa, de tecnologia de ponta? E, no entanto, o racismo e o sexismo desapareceram? O mesmo se dá com relação a paradigmas de pensamento. Os referenciais apriorísticos de análise, interpretação e conclusão, que são culturalmente introjetados no inconsciente das criaturas, dificilmente são erradicados em menos que, no mínimo, algumas décadas. Entende-se loucura como fuga por percepção fidedigna da realidade. Não é isso que se dá nesse caso? Um pensador entre vocês chamou essa loucura generalizada de normose, justamente por se disseminar, dando a impressão de ser correta, por sua maciça presença. Por algo ser comum, não se segue que seja certo. A relatividade dos conceitos a contextos específicos de cultura deve ser sempre considerada, quando se busca aproximar-se da verdade, ou pelo menos de uma percepção mais isenta dos fatos. Entre os beduínos, por exemplo, certos comportamentos de banditismo são bem recebidos, e quem está mergulhado naquela cultura pode supor tratarem-se tais presunções de verdade como universais. O mesmo acontece no bojo de qualquer civilização. O que parece certo, nem sempre é. O discernimento, a ética, a moral, o Direito – tudo é condicionado a época, cultura e lugar
Bem, diante dessa análise tão profunda e abrangente, como devemos entender a questão da harmonia em nossas vidas, sobretudo em seus desdobramentos mais práticos?
A harmonia pressupõe um contexto, é inerentemente relativa. Um elemento poderá estar harmônico em relação a um segundo e desarmônico em relação a um terceiro. A mente humana sempre está em busca de criar padrões de harmonia, de coerência e de significado, em tudo com que trava contato: é essa sua função. Dessarte, ao perceber-se em conflito com o meio ambiente, o impulso natural de todo ser inteligente é tentar encontrar um meio de se conciliar com ele. A grande questão, todavia, é que não se pode fazer isso, com sacrifício da harmonia em relação às profundezas de si, da própria consciência, da ética e da moral que foram avaliadas como fundamentais, dos princípios inegociáveis que o indivíduo adotou como norteadores do próprio comportamento e destino. Não poderá haver verdadeira harmonia com relação a fatores externos, se, primeiramente, não houve harmonia em relação a si mesmo. Como dissemos acima, estamos num universo que se interpenetra, em que tudo se reflete em tudo, de modo que o desequilíbrio, no plano íntimo, necessariamente repercutirá em más escolhas de harmonização externa. A prioridade, assim, é para a harmonia com os elementos constituintes de si, ou tudo mais redundará inútil e, normalmente, desastroso.
O paradigma holográfico ou holístico, que as novas ciências, as ciências de ponta, como a Física Quântica e as neurociências começam a fazer uso, diz que cada diminuta parte de um todo considerado contém um retrato miniaturizado, em sua essência, desse todo. Assim, quem esqueça que todo o universo está, em certa medida, representado em seu microcosmo interior, que, como disse Jesus, até a própria natureza divina está ínsita em si, condena-se a terríveis malogros. Quem quer estar em paz e bem, deve começar a estar em harmonia e em paz consigo mesmo e toda a multiplicidade de vozes, impulsos, necessidades e aspirações que habitam seu mundo íntimo.
Você torna quase inviável o projeto de busca de harmonia, com a extensão dessa proposta.
Não, justamente pelo contrário. Inviável é querer-se começar por fora, o que já está, desde o princípio, por dentro. Existem problemas externos, mas eles, em boa medida, representam metáforas de questões interiores do indivíduo. Não se deve negligenciar o atendimento a tais emergências que surgem, mas não se deve esquecer que tais esforços devem ser acompanhados de, no mínimo, igual empenho por se descobrir e se conhecer em profundidade, para que as reais gêneses das problemáticas enfrentadas nas lides externas sejam desarticuladas, e, assim, em remontando-se às verdadeiras e primeiras causas – que, resumamos, tratam-se de necessidades evolutivas – as conseqüências, naturalmente, sejam dissipadas.
Há algo de mais simples e sintético que se possa deixar para nossos amigos leitores sobre o tema?
Sim. Muito embora seja uma questão a merecer atenção de toda uma vida – em verdade, de vidas infindáveis, sucessivas – e não obstante, outrossim, o objetivo final seja longínquo, por ora, ao ser humano – a integração completa com Deus – existem algumas iniciativas básicas que podem ser empreendidas sistematicamente, para que a pessoa galgue, progressivamente, níveis maiores de harmonia consigo e com o universo, e, como resultado, de paz e felicidade: ouvir a própria consciência, seguir os ideais mais altos do próprio coração, priorizando esse capítulo do essencial, e fazer, assim, o máximo de bem que estiver em próprio alcance, pelos irmãos em humanidade. Eis a chave da harmonia e da felicidade.
(Diálogo entabulado entre o médium e o espírito, em 16 de março de 2001.)