Querida Irmã Brígida, esteve você em internação conventual. Tem algo a dizer sobre isso?
Sim, um grande desequilíbrio da condição humana. O trabalho religioso será, além de um esforço de ascese para Deus, um empenho de integração com nossos irmãos em humanidade, porque, como nos disse Jesus, se não amamos ao nosso irmão, que vemos, como amaremos a Deus, que não vemos? Não pode haver ascese mística, sem, primeiramente, termos vivenciado pleno serviço de amor e solidariedade a nossos semelhantes, em quem devemos ver Nosso Senhor Jesus, como Ele mesmo disse: que estaria em Seus menores irmãos.
E quanto aos votos de castidade, obediência, pobreza e silêncio?
Quatro absurdos. O equilíbrio das funções sexuais é importante, mas jamais poderíamos propugnar estrangulamentos de necessidades fisiológicas e psicológicas do gênero humano: um completo descalabro. Nada há demais em se viver o sexo dignamente. É através dele que as famílias são constituídas. Além do que, em si, trata-se de função fisiológica do corpo, tanto quanto psíquica – na troca de energias entre almas afins, para a realização das tarefas existenciais, com que as criaturas se comprometem antes de reencarnar. Quem transcende o sexo deve fazê-lo sem castrações, sem mau humor, sem pretensões de superioridade, e, principalmente, com muito trabalho a bem do próximo. Quem se afasta do mundo para se mutilar está apenas fazendo isso: mutilando a própria alma, e não só não tem mérito algum por isso, como ainda dará contas pelo bem que deixou de fazer e pelo mal que tiver advindo a seu próximo, por conta desta negligência (*). Com relação ao voto de obediência, trata-se de outra aberração. Não devemos ser obedientes, e sim conscientes. Devemos seguir a própria consciência, os reclamos da própria moralidade, e não nos submetermos ao talante das opiniões alheias, por mais respeitável que seja a personalidade a que suponhamos dever nos curvar. Que ouçamos, que respeitemos e veneremos o outro, sobretudo quando faz por merecer nossa honra; entretanto, que nunca capitulemos do uso do próprio discernimento e livre-arbítrio, porque será através do uso da trinca “bom-senso razão e intuição” que ouviremos a voz de Deus dentro de nós. Quanto ao terceiro voto que citou, o de pobreza, estipulá-lo denota grave preconceito, como se a riqueza material, em si, contivesse algo de pecaminoso e sujo. É a prosperidade material que erige escolas no mundo e permeia o planeta de bibliotecas, museus e centros de pesquisa científica. Beleza, poder, riqueza, fama – nada disso é imundo em si mesmo: é o ser humano quem lhe dá condução equivocada e malévola. Em vez de malévolos, prestígio e poder, muito pelo contrário, contêm a semente de grandes oportunidades de serviço e realização ao bem comum, como as obras de benemerência levadas a efeito por grandes magnatas e celebridades o demonstram claramente. Obviamente que constituem grandes tentações, sobremaneira para as almas frívolas e egóicas, mas, por haver este perigo muito real, seria grande erro supor que o mal esteja nas situações materiais e não no espírito extremamente apegado aos desejos e posses materiais. Resumamos a questão seguindo o princípio de priorizar o espiritual acima do material, pondo todos os talentos e recursos materiais que nos estejam disponíveis em função do espírito e seus valores eternos, e estaremos agindo de acordo com a Divina Vontade, que concede benefícios de ordem material ao ser humano, em prol de seu progresso e não de sua perdição – o que constituiria um tremendo contra-senso, desde que devemos entender Deus como a Inteligência e Bondade Supremas no universo. E, por fim, quando você se referiu ao voto de silêncio, céus! Que horror! Como se pode postular isso a um ser humano, quando a faculdade de comunicação entre indivíduos é dos itens que mais nos caracterizam como espécie humana, apanágio fundamental que nos constitui como seres racionais e espirituais? Claro que configura uma arbitrariedade e um erro eclesiástico sem-tamanho, e deveria ser varrido quanto antes do orbe. É muito sabido que é por meio da fala que mais os seres humanos pecam, mas também foi por meio dela que o Verbo Encarnado trouxe a mensagem divina para o mundo. Que saibamos ver com o espírito e pensar com bom senso, para que não incorramos em grandes equívocos e nos submetamos, bem como aos outros, a terríveis violências e irreparáveis desperdícios de vida…
Vidas perdidas aquelas alijadas do mundo nos conventos e monastérios?
Quase isso. A maior parte desenvolve vícios e degenerescências perfeitamente evitáveis, que posteriormente consome inúmeras reencarnações de trabalho reparador. Algumas poucas almas, entretanto, como a de nossa amável e nobre Eugênia, na condição de Bernadette Soubirous, santificaram-se, na total transcendência de si mesmas, vivendo a violência da vida monástica como uma espécie de UTI evolutiva, “queimando etapas” do processo evolucional. Obviamente, porém, que não podemos generalizar a prática de tal desumanidade, em função dos raríssimos casos de exceção. O senso comum das pessoas esclarecidas, atualmente, compreende o que digo e aquiesce, sem dificuldade, com estas minhas palavras.
(*) Irmã Brígida cita trecho de “O Livro dos Espíritos”, questão 642.
(Nota do Médium)
Notas da Equipe de Divulgação e Edição:
Aproxime-se da Espiritualidade Superior você também, caro leitor, beneficiando-se de Sua sabedoria, proteção e amor. Freqüente as palestras gratuitas do líder encarnado do Projeto Salto Quântico, o médium Benjamin Teixeira, que acontecem no Espaço Emes, em Aracaju, Sergipe, às 19 h e 30 min de domingos, nas quais, além da inspiração dos Imortais em todos os tópicos abordados, ainda há a fala direta dos grandes mestres desencarnados da Espiritualidade, ao fim da reunião, através da psicofonia do orador espírita. A assiduidade semanal a atividades como esta, de busca coletiva de Deus e da Espiritualidade Sublime, é indispensável à consecução de nossos objetivos de paz, sabedoria e felicidade, em todos os departamentos de nossas existências.
Fonte: http://www.saltoquantico.com.br