Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Como alguém se sente ao tentar subornar a verdade para si mesmo?
Não se deve tentar construir o mundo pessoal sobre especulações, ficções ou desejos de verdade; e sim naquilo que se conseguir compreender como verdadeiro, justo e bom.

Interessante isso, Eugênia. Mas é sabido que a mente humana é capaz de impressionantes malabarismos e ardilosas artimanhas para esconder de si mesma que está construindo mitos, ilusões e racionalizações, com que se “protege” de uma realidade que considera indesejável. Como fazer para vencer ou superar, ainda que parcialmente, essa inclinação que poderíamos dizer quase automática e universal no ser humano?

Através da prática da auto-reflexão. Não é de todo impossível desvestir-se de intenções, desejos, ambições egóicos, para enxergar as coisas como elas realmente são, e, a partir disso, tomar decisões criteriosas.

Você faz parecer extremamente simples e óbvio um desafio complexo, subjetivo e altamente difícil de ser encarado e principalmente vencido, entre os encarnados de nosso orbe, atualmente.

E, de fato, é. A questão é que nem todas as pessoas estão dispostas a investir na simplicidade – leia-se: verdade. A verdade custa pouco ao mundo, ao espírito, à humanidade. Mas custa muito ao ego, seu orgulho delirante e seu desejo de supremacia sobre os outros, sempre pronto a humilhar, exibir-se e se mostrar prevalente sobre os demais.

Como então domar o ego e conseguir apôr o Eu Superior no centro de controle da consciência?

Muito bem, fez agora a pergunta certa. Não é fácil. Quando se consegue domar o ego, todas as questões espirituais parecem e se tornam realmente óbvias, grandes sacrifícios soam a passeios no parque; e devotamentos espetaculares, a vidas de prazer e felicidade. Mas o domar-se o ego demanda tempo, esforço e, principalmente, renúncia.

E aí?

Só se pode esperar pelo tempo, que amadureça as criaturas, para que atinjam o tal nível de percepção que lhes deixe claro de que nada vale a pena, a não ser que o espírito seja considerado como prioridade. Como disse Jesus: “Néscio, de que te adianta possuir o mundo, se hoje te demandarão a alma?”.

Há algo que se possa fazer no sentido de catalisar esse processo, de facilitar o galgar o nível de consciência do Eu Superior, em vez de se ficar preso ao nível do ego?

Sim: as leituras abalizadas na área; assistir a palestras, conferências, participar de seminários e congressos no âmbito do assunto, fazer consultas com homens e mulheres de notório saber no campo, assim como dedicar-se à pesquisa e à experimentação de técnicas meditativas e oracionais. Em suma, a descoberta e alinhamento com o Eu Superior dá-se por meio do contínuo esforço por se tornar melhor, descobrir-se e ascender. O que nunca é rápido ou fácil e pode consumir longos períodos de tempo.

Mais algo a dizer sobre o assunto?

Não, satisfeita.

(Diálogo travado em 17 de agosto de 2004.)