Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Eugênia, poderia dizer alguma coisa sobre os últimos atentados na Rússia?
Abomináveis. Mas importa considerar que, se algumas dezenas de crianças loiras da Europa e dos Estados Unidos, morrem, inocentes, em chacinas hediondas, aqui ou ali, como registra a história recente, milhares de crianças morrem todos os dias, de fome, na África e Ásia miseráveis. O terrorismo existe, como efeito colateral do crônico problema mundial da má distribuição de renda, de modo que, somente em debelando as disparidades gritantes e as injustiças medonhas entre povos e entre indivíduos de cada povo, teremos extinto o flagelo angustiante do terror.
Os governantes das super-potências não parecem muito conscientes disso e têm se colocado na condição de vítimas…
O problema se agravará. Somente quando a raiz da questão for erradicada, poder-se-á contar com uma solução verdadeira da problemática.
Alguns propõem que o problema do terrorismo está fulcrado tão-somente em elementos culturais-religiosos de fanatismo.
Um estudioso que faça uma divisão estanque de causas de um fenômeno ou está mal-intencionado ou é ignorante e obtuso demais para que possa opinar em questões complexas como a do terror. A etiologia civilizacional do terrorismo é intrincada e toda ela está eivada de questões filosóficas e políticas, isso é mais que óbvio; todavia, é o desespero da fome e da falta de perspectivas de vida que fomenta a violência suicida-genocida daqueles que se candidatam a um éden fictício de seus textos religiosos, por viverem um inferno bem concreto na vida prática. Um hinduísta, na miséria, não se torna perigoso ao semelhante, porque tem a doutrina do carma e da resignação a lhe fomentar o sacrifício de si mesmo. Entretanto, ao se colocar um ocidental ou um árabe sob situação difícil, vê-lo-emos debater-se como uma fera ferida e faminta. A Europa e os Estados Unidos, com cultura belicosa e individualista, deram nota dessa tendência em diversos momentos de sua história. Assim, miséria e islamismo não parecem ser uma mistura muito segura, mas tomar a perspectiva de condenar apenas o islamismo-xiita, em vez de se empenhar na eliminação da pobreza, ‘inda mais tal iniciativa tomada por parte de povos com tradição guerreira e imperialista, como são as nações dominantes da atualidade, não parece nem um pouco sincero, por não ser, inclusive, sequer coerente.
E sobre as eleições municipais para cargos executivos e legislativos, em todo o país?
Que o voto popular é o exercício fundamental da democracia, e que, portanto, será pela utilização conscienciosa do mesmo que se dará a melhoria das nações, na escolha mais judiciosa de representantes adequados do povo. Obviamente que, para que isso se dê de modo pleno e profundo, meios mais eficientes ter-se-ão que criar de divulgar corretamente programas de governo e competência dos candidatos, tanto intelectual quanto moral, para que não tenham mais chances de vencer no sufrágio universal aqueles que possuam maior poder monetário para investir em propaganda. A publicidade não pode ser a rainha da democracia, e sim a justiça, ou a democracia não será democracia, mas uma oligarquia disfarçada de democracia, favorecendo não os melhores, mas o mais despóticos e astutos.
Isso tenderá a desaparecer, não é mesmo, Eugênia?
Sim. No início, todo movimento é grosseiramente imperfeito, peca pelos excessos e pelas distorções de propósito, como se deu na França revolucionária do século XVIII, em que sangue de inocentes, aos milhares, foi vertido, em nome de ideais humanitários. À medida que as populações se esclarecem, que tomam as rédeas do próprio pensamento, fazendo-se mais críticas, porque mais informadas, e, por isso, menos manipuláveis, surgirá a oportunidade para os mais bem dotados, moral e intelectualmente, ascenderem no cenário do poder público. Até lá, invistamos em educação e em esclarecimento do povo, que ele mesmo, ao tempo certo, saberá conduzir aos pináculos do poder aqueles que melhor o representarão.
(Diálogo travado em 26 de setembro de 2004.)
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