Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Eugênia, tenho um amigo que defende veementemente o ponto de vista contrário ao meu – de apoio às mulheres (embora não seja feminismo no sentido clássico), um machista assumido, no meu entender (embora ele não se entenda desta forma) e queria lhe apresentar alguns dos argumentos dele e ilações que fiz após os conceitos dele me terem sido apresentados. Também gostaria, obviamente, que você externasse a opinião que você faria delas – das idéias dele e das minhas. O primeiro tópico da tese do rapaz é que a homenagem deve ser feita ao Feminino e não às mulheres. Segundo, que as relações sociais são cheias de tricas e mesquinharias por causa das mulheres, sendo os homens muito corteses e companheiros, entre si (inobstante não ache que eles sejam assim com as mulheres).
Os homens, realmente, são grandes camaradas uns dos outros – não há como se negar isso. A falta de união feminina diz respeito, inclusive, a uma espécie de programação bio-psíquica masculina a agir em grupo, ao passo que as mulheres não receberem essa ordem de programática genética. Ou seja: em culturas primitivas (*), enquanto as mulheres cuidavam de crianças ou semeavam, em culturas primitivas, os homens saíam em bandos para caçar. Precisavam agir como uma mente coletiva e se acostumaram a esse regímen psíquico de “espírito de grupo”. As mulheres, por sua vez, canalizaram suas faculdades afetivas para uma relação simbiótica com seus filhos, somada a uma certa desconfiança com relação aos pares do mesmo sexo, por temerem que lhe “roubassem” o provedor, já que todo o organismo feminino é voltado, originariamente, para, tão-somente, tudo fazer em função da prole, incluído ter um bom provedor. É como se as mulheres fossem projetadas para relacionamentos de profundidade (com a prole, mormente), ao passo que os homens foram pré-programados para relacionamentos de extensão, com muitas pessoas. É uma das causas, inclusive, para os homens serem mais inclinados à infidelidade, e as mulheres à monogamia, nas relações conjugais, sem pretender, evidentemente, ao dizer isso, justificar o comportamento dissociativo dos homens em matéria de sentimentos afetivos-sexuais, que devem ser educados, para não ficarem no plano das superficialidades, como lhes é peculiar, pela natureza instintual. Mas não se pode negar, também, o óbvio contra-senso em que o rapaz incorreu, ao afirmar que se pode fazer apologia ao Feminino sem aludir-se à mulher, já que a mulher é a própria encarnação do Feminino. À medida que a civilização avança, mais e mais os valores femininos serão realçados, e, obviamente, de permeio, a mulher idem. As mulheres na Terra estão longe do Feminino Divino, mas algo no mínimo equivalente pode ser dito a respeito dos homens, em relação ao Masculino Divino.
No que tange, ainda, aos argumentos do rapaz sobre a “mesquinharia” feminina, sobre que você muito bem explicou a causa, cheguei a apresentar para ele a contra-argumentação de que as mulheres são autoras da maior parte das pequenas mesquinharias do dia-a-dia, mas que são os homens os responsáveis pelas maiores hediondezes do gênero humano. Ele, todavia (o que me provocou gargalhadas nervosas), devolveu-me que isso acontecia porque falta coragem às mulheres para fazer maldades maiores. O que você me diria sobre isso?
Não há como denegar, com relação aos mais violentos crimes, porque as estatísticas provam, que o gênero masculino é muito mais suceptível, na Terra, a praticá-los. Contudo, não só os grandes, como os pequenos crimes, sempre têm muito maior presença masculina que feminina, em todas as culturas e épocas da humanidade. Não só em relação aos pequenos crimes, mas mesmo em relação às pequenas “malvadezas”, dizer que as pequenas mesquinharias são típicas à mulher também creio seja tese questionável. Poderíamos até dizer que, nas pequenas mesquinharias do cotidiano, os homens e as mulheres se especializam: as mulheres nas pequenas dissimulações, os homens nas pequenas “friezas”; as mulheres nas palavras ferinas, os homens nos gestos de brutalidade física. Obviamente, nossa proposta não é dizer que a mulher seja superior ao homem, mesmo porque, em verdade, somos todos espíritos eternos, sem prisão fixa à identificação com um ou outro pólo psicossexual. Apenas queremos deixar claro o fato de que, na Terra, as mulheres são visivelmente mais sensíveis, amorosas, intuitivas, dedicadas, responsáveis, socialmente conscientes, ecologicamente educadas e até mesmo mais espirituais e conscienciosas na política (com exceções, obviamente). Trata-se de um forte desnível evolutivo, em matéria de sentimento e moralidade, que, no futuro da humanidade, será compensado, inclusive pela troca maciça de sexo que, já no presente, ocorre, entre os contingentes populacionais do planeta, nos processos reencarnatórios. Esse desnível era de se esperar não só por razões culturais, com séculos sucessivos de domínio dos valores patriarcais, mas, principalmente, pela própria constituição orgânica masculina, muito voltada para as experiências da externidade, favorecendo a agressividade e a sexualidade em suas expressões mais primitivas. Ou seja: reencarnar em corpo de homem é um desafio ao espírito, no sentido de desenvolver seu lado superior, em regímen de profunda resistência bio-psíquica. É mais difícil ser sereno, centrado e introspectivo quando se está num corpo de homem do que num corpo de mulher. É comum, assim, após séculos desenvolvendo atributos espirituais, como devotamento, sacrifício e entrega altruística, em encarnações femininas, a consciência pedir para renascer em corpo masculino, para pôr em prova e consolidar, em estágio de experiência-limite, todas as aptidões que lhe era mais fácil manifestar em corpo de mulher. Assim, surgem, por exemplo, grandes gurus e mestres espirituais em corpos de homem.
Eugênia, perdoe-me, mas achei essa sua visão preconceituosa. Não haveria também aqueles que atingem esses píncaros de espiritualidade pelas rotas da masculinidade?
Também. Não os excluí. Apenas disse que aqueles que atingem as máximas excelências da humanidade precisaram e de fato passaram, além das encarnações masculinas, por longo carreiro de encarnações femininas (porque elas aceleram o desenvolvimento dos sentimentos). E que quando querem pôr numa situação-limite a expressão de sua grandeza, quando querem se pôr no ápice da tensão dos contrários, para que produzam mais, pelo próprio conflito íntimo entre matéria e espírito, pedem para nascer na condição cármica do corpo masculino. Observe-se que a maior parte dos grandes luminares da humanidade, não apenas por razões sócio-culturais, nasceram como homens, a começar de Jesus e Buda, que eram anjos, em sua natureza fundamental, e não propriamente homens, no sentido de serem psiques polarizadas na masculinidade. Ou seja: eram seres plenos, com conquistas equivalentes, em patamares de excelência, nos dois pólos psicossexuais. Quando um espírito se glorifica como homem, de fato ele passou pelo teste supremo para o espírito em relação à matéria: ser ou, melhor dizendo: estar homem.
Wow, Eugênia! Isso é que é feminismo! Ser homem como um carma!
Para os grandes espíritos, antes da total sublimação, tudo fica mais difícil quando se enverga um corpo masculino. Todos os instintos são exacerbados quando se está num corpo de homem, e esses espíritos querem a Luz. Os androgênios, a ciência o afirma, hormônios que potencializam a agressividade a sexualidade, além de toda uma conformação neurofisiológica mais voltada à ação que à introspecção constituem esse quadro circunstancial difícil no que concerne às questões do espírito.
Mais algo a dizer sobre essa instigante temática?
Não, satisfeita.
(Diálogo travado em 9 de outubro de 2004.)
(*) Eugênia faz alusão a culturas pré-históricas, com a presença de seres humanos e hominídeos mais sofisticados, sobre a Terra, o que cobre, aproximadamente, conforme a média das estimativas de paleoantropólogos, a algo em torno de seiscentos mil anos.
(Nota do médium).