Respiguei três mensagens de Natal, entre as muitas que o Espírito Eugênia me passou nos anos de psicografia comigo, e as coligi neste ampanhado. Duas deste mesmo ano, vindas a lume nos últimos dias, e uma de 2002, em tom duro, crítico e severo. Compõem uma boa tríade de artigos significativos. Espero que o prezado internauta faça boas reflexões neste “Aniversário de Jesus” de 2004.
Benjamin Teixeira
Aracaju, 23 de dezembro de 2004.
MENSAGEM 1:
Diálogo sobre o Período Natalino
Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Eugênia, pode dizer-nos algo sobre o período natalino?
Vou reforçar alguns pontos essenciais, alguns bem batidos (inclusive aqui, neste site), e outros novos:
Deve-se procurar lembrar que Jesus é o aniversariante simbólico (*) da época e que, portanto, as convenções natalinas de dar presentes e trocar “votos de paz e felicidade” feitos, muita vez, de modo tão mecânico que raia o cínico não é bem o que o Cristo espera de nós. Concentrar-se, sinceramente, no espírito de concórdia e fraternidade, em todos os relacionamentos interpessoais que travamos com as pessoas deve ser uma constante neste período, a fim de que nos acostumemos com tal padrão de consciência e o elasteçamos ao restante do ano.
Por outro lado, Papai Noel foi colocado no lugar de Jesus, a fim de que o inconsciente coletivo renove a idéia equivocada que fez do Mestre Maior, no correr dos séculos, vinculando-o à culpa, à castração, ao medo, à amargura. Assim, o “bom velhinho” representa a bonomia, a serenidade, o otimismo e a felicidade que não devem só permear o Natal, mas todos os dias do ano, como um representante-enigmático do próprio Jesus, que quer a bem-aventurança e a plenitude de Seus filhos, falando para o lado “criança” – ou seja: espiritual e puro – de todos nós (eis porque o Santa Clauss é um mito de relação com as crianças e não com os adultos, que se riem de sua pseudo-existência para os pequenos.)
Assim, devemos, em espírito e verdade, em pureza de intenções, abertura ao novo e ao perdão, ao recomeço e à fé em Deus, assemelharmo-nos aos “simples e pequeninos”, como afirmou Jesus, ou não entraremos no “Reino dos Céus.”
É errado espiritualmente ou anti-cristão entregar-se à tradição moderna da permuta de presentes?
De modo algum, quando tal atividade é feita de coração. Em certos casos, inclusive, o gesto de dar um presente já representa uma conciliação ou mesmo uma demonstração de bem-querer. Não só é difícil demonstrar diretamente afeto e intenções sinceras de reaproximação, como o simples ato de se dar ao trabalho de comprar um presente para alguém, de lembrar-se deste alguém e querer agradá-lo já constitui um forte indicativo de que estamos com a intenção de ser amáveis com esta pessoa.
Pode dizer algo sobre as atividades caritativas de Natal, ditas hipócritas por alguns, por não acontecerem no restante do ano?
Observe-se criteriosamente quem levanta tais argumentos e veremos críticos contumazes, sem nenhuma base moral que fundamente sua tese. É fácil ser “do contra” e apresentar falhas em qualquer iniciativa do bem. Difícil é fazer melhor e ser persistente em tal empreendimento. Somente quem faz melhor tem direito a julgar, e, ainda assim, sempre no sentido de apresentar críticas construtivas e não como estímulos negativos, que conduzam à desistência na seara do bem, porque, obviamente, toda boa intenção começa vacilante, para, com o tempo, consolidar-se; e somente um tolo suporia que alguém pudesse se converter num ás de santidade, da noite para o dia, ou seja: que viva o Natal 365 dias por ano, em vez de começar devagarinho, com 1 dia ou alguns dias anuais, para que, no futuro, e mui paulatinamente, possa estender tal atitude de amor para o restante do ano.
(Diálogo travado em 19 de dezembro de 2004.)
(*) Jesus não nasceu propriamente no dia 25 de dezembro. Tal data era utilizada para festejo do solistício de inverno (Hemisfério Norte), uma comemoração pagã muito célebre na Antigüidade, que foi “cristianizada”, por assim dizer, numa espécie de jogada de marketing e manipulação cultural e política da igreja primitiva, ao vincular a imagem do “deus Sol” à figura do Cristo, desviando-se a atenção das massas de um para outro, até eclipsar completamente o primeiro, a ponto de o vulgo perder completamente o significado original do festejo, como já acontece há séculos.
(Nota do Médium)
MENSAGEM 2:
Papai Noel Existe?
Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Será crível que a Divina Providência deixasse milhões de criaturas inocentes por todo o mundo enganadas nos seus mais caros sentimentos de fé e de esperança?
Obviamente que não. O bispo nórdico conhecido modernamente por Santa Clauss (São Nicolau), de fato existiu, e, graças a ele, no inverno, toda uma comunidade mantinha-se viva, graças ao seu esforço heróico de expor sua vida a risco de morte, ao atravessar geleiras de trenó, conduzindo víveres e cobertores para a aldeia isolada pela neve. O ancião simpático e robusto (na verdade apenas um homem maduro, quando de suas incursões ousadas para salvar vidas) não usava roupas vermelhas(*2), nem flutuava nos ares dando gargalhadas sonoras, mas, sem dúvida, era um homem generoso e santo, que não se intimidava ante o sentimento de dever cristão, expondo-se à eventual morte, para ajudar seus irmãos em humanidade. O santo existe. O espírito existe. O espírito de “Papai Noel”.
Com freqüência, por o santo histórico e real não ter condições de atender a tantas solicitações, no período natalino, entidades amigas de criancinhas sinceras aparecem-lhes tomando a forma do velhinho de barbas brancas, com roupão de veludo vermelho e tudo mais (*3), ou induzem-lhe tal quadro mental, por meio de insuflação telepática-hipnótica, assim fazendo-as felizes, na “confirmação” de sua fé.
Na época de Natal, por outro lado, as preces que sobem ao plano superior, em forma de “orações refratadas”(*4) mobilizam verdadeiras legiões de almas boas, que, por não poderem diretamente ofertarem presentes materiais, em nome do santo norueguês, mobilizam pessoas para fazê-lo, ou, ao menos, inspiram gestos de caridade e solidariedade cristãs, estendendo o espírito natalino a toda parte, em forma de consolação e fraternidade. Eis que, então, infinidades de festinhas em orfanatos e comunidades carentes, sob beneplácito dos amigos de Noel e de Jesus, o aniversariante maior do período, são realizadas, para alegria geral das crianças menos favorecidas da “sorte” material.
Este é o anverso positivo e nobre do mito de Papai Noel, que cabe aqui reconhecer, em contraposição àquele que publicamos, em ano anterior (*5).
Assim, se você, em certo momento, ouve um pimpolho de olhos arregalados, dizer-lhe, cheia de alegria e fé, que viu “papai Noel”, que ele existe e que conversou com ela, ofereça-lhe de volta mais que um sorriso complacente: ela pode, além da imaginação, pelas faculdades mediúnicas mais abertas, pela idade tenra (*6), ter, de fato, contactado um espírito amigo, que misericordiosamente tenha feito as vezes do velhinho arquetípico, semelhante, não por acaso, ao mito primordial do “Velho de Barbas Brancas”, o famoso “Papai do Céu”, normalmente compreendido como seco e duro, diferentemente do bondoso e alegre “Velhinho do Natal”. É o padrão da bonomia e da concórdia que altera até mesmo a visão simbólica do inconsciente coletivo que se tem do conceito do Criador.
Deus é sábio e infinitamente bom, e fala por toda parte, até por detrás de campanhas publicitárias bem sucedidas (*7).(*8)
(Texto recebido em 9 de dezembro de 2004.)
(*1) Sempre surpreendente a sábia Eugênia, com suas revelações bombásticas e incrivelmente coerentes, de tal modo que, ainda que se não acredite nelas, como informação provinda do “Outro Lado” sua racionalidade e plausibilidade não deixam espaço a muito questionamento. O que se pode mais esperar das numerosas “cartas nas mangas” da ilustre orientadora desencarnada?
(*2) A vestimenta vermelha do “Papai Noel”, surgiu de uma campanha publicitária da “Coca-Cola Company”.
(*3) Fenômeno chamado, na terminologia espírita, de “ideoplastia”: a conformação de objetos ou mesmo do próprio perispírito do espírito, por meio de comandos mentais. Quanto mais evoluída a consciência, mais poder tem ela para realizar tais feitos.
(*4) Fenômeno descrito pelo espírito André Luiz, através da psicografia ímpar de Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier), em que as preces dirigidas a alguém sem condições de, por qualquer motivo, atendê-las, são respondidas por componentes da Espiritualidade Superior, que, assim, fazem valer os merecimentos e a fé de quem ora, independentemente dos merecimentos e das possibilidades evolutivas de a quem é dirigida tal oração. Em tudo, a Justiça Divina a se expressar.
(*5) Neste mesmo site, artigo que pode ser acessado no ícone “mensagens anteriores”, no lado esquerdo de sua interface, no dia: 24 de dezembro de 2002. Não sendo assim, você pode digitar, na “busca” de nossa primeira-página, o título: “Jesus e Noel, Pecadores e Iluminados”, de autoria espiritual da própria Eugênia.
(*6) Até os sete anos de idade, o espírito (da criança) em processo de reencarnação não se jungiu de todo ao corpo, de modo que fica parcialmente “fora” do soma, favorecendo muito mais fenômenos mediúnicos, já que um dos elementos a propiciarem a mediunidade é, justamente, a capacidade de se desligar, parcialmente, do corpo físico para interagir com a outra dimensão de vida.
(*7) Eugênia agora faz, ela mesma, alusão à tal campanha da Coca-Cola.
(*8) Em 1992, episódio curioso aconteceu com Chico Xavier, a respeito desta temática. Foi ele abordado por uma jornalista, na época natalina, e a repórter resolveu-se por, à queima-roupa, perguntar a Chico o que ele achava da existência de Papai Noel. Sem pestanejar, o grande médium brasileiro respondeu: “Sim, e eu o conheço e é um velhinho muito divertido”. Todos riram… inclusive Chico. De quê ou de quem, todavia, o fenomenal médium mineiro ria?
(Notas do Médium)
MENSAGEM 3:
Jesus e Noel, Pecadores e Iluminados.
Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
O Natal se aproxima. Como n’outros tempos, Jesus menino vem a nós, saber se já estamos preparados para recebê-lo. No íntimo de nossos corações, não aguarda encontrar palácios de virtude ou riquezas faustosas de boas obras, mas uma manjedoura singela de boa vontade e a palha seca da disposição genuína de servir, ainda que parcamente.
Em todos os tempos e ainda agora, muitos têm sofrem a ilusão de suporem que, para receberem o Cristo na própria alma, é imprescindível encontrar-se o luxo e a glória de um espírito redimido. Almas de escol, porém, já se encontram definitivamente unidas ao Cristo de Deus, em ágape infinito de ressurreição eterna. Para esses santos e anjos não mais na Terra, o nascimento de Jesus se deu há muitos séculos, quando seus corações ainda eram primitivos como os da maioria esmagadora dos habitantes da crosta terrestre. Quem precisa do nascimento de Jesus no próprio interior são os seres pouco desenvolvidos, e não os iluminados. Eis por que, na civilização terrena, o Natal tem aspectos muito mais festivos e repercute muito mais que a Páscoa, que, para quase todos, sintomaticamente, lembra mais a dor, o martírio de Jesus, que sua libertação definitiva do cativeiro da matéria. É que, para a maioria de nós outros, espíritos, nos primeiros estágios da evolução humana, a coroa da glória derradeira soa tão improvável, distante e inalcançável, que seu significado verdadeiro passa desapercebido, distorcido no culto da “Paixão de Cristo”, tão mórbida quão distanciada do verdadeiro espírito cristão.
Uma outra desvirtuação grave acontece também no Natal. Como campanha de uma marca famosa surgiu o culto pagão do “Papai Noel”, terno, sim, adorável, sim, mas perigoso em suas reais expressões, nos efeitos que gera nas pessoas, na distração que provoca, desviando a atenção do populacho susceptível a hipnoses coletivas, do essencial para o fantasioso. E, assim, como um lobo em pele de cordeiro, o mito do Papai Noel toma o lugar do aniversariante divino, com os aspectos sedutores do velhinho bom, cheio de presentes a dar gratuitamente. O espiritual, assim, é permutado pelo material e o espírito de reflexão salutar é trocado pela febre consumista.
Sem dúvida que a troca de presentes tem seu lado bom, tanto quanto os festejos, favorecendo a psicosfera de reconciliação e confraternização gerais, no período natalino. Mas somos de convir que o Papai Noel nada mais passa de uma versão melhorada de Mamom (Da passagem evangélica: “Servir a Deus ou a Mamom”), o mesmo que aparece como o gordo “Rei Momo” do Carnaval, só que ainda mais carregado de símbolos de extravagância e apego às posses materiais, com seu veludo vermelho e ricos e faiscantes presentes, contrastando com a simplicidade e despojamento do menino-deus no estábulo. Uma criança pobre, mas cercada do calor familiar e de amigos, incluindo, com forte significado alegórico, animaizinhos da estrebaria, ao mostrar que o lado primitivo e o humano da alma curvam-se ante o numinoso que surge. Um velho risonho e rico, mas sozinho, sem família e sem raízes, distribuindo presentes sem dizer o motivo de sua generosidade, nem muito menos o preço que cobrará mais tarde por isso, aos que se deixam seduzir por seu canto de sereia. A discrepante diferença entre Jesus-Menino e Papai Noel, diametralmente opostos um do outro, bem serve de metáfora para os perigos de reverenciarmos a Deus ou ao poder das posses materiais, como escolhas de destino com conseqüências inexoráveis.
Jesus-bebê não gargalha, como o bonachão barbudo das tentações materiais, apresentando óbvios favores imediatos, mas emite vagidos inaudíveis, como frágil recém-nato, dentro de nossos corações, representando os nossos débeis propósitos de melhoria e crescimento, realização no bem e felicidade, espiritualidade e paz.
Que nos concentremos no motivo central de nosso Natal, e estejamos em família, não só considerando aqueles que compõem nossa parentela corporal, mas incluindo aqueles que formam nossa família espiritual, os que se afinam com nossos ideais e valores, e, assim, oremos e reflitamos, juntos, em torno de nossos ideais e iniciativas de fraternidade, amor e paz, fazendo sinceros votos, partilhados amorosamente, entre os convivas, de nos aplicarmos, efetivamente, o que dividimos no plano do espírito.
Que nos alinhemos com a presença do Cristo Cósmico, acessível a todos que o queiram, bons ou maus, virtuosos ou “pecadores”, almas nobres ou vacilantes, compreendendo que Jesus-menino veio justamente para aqueles que só podem receber uma criança de espiritualidade em seus corações e não um adulto de maturidade moral, que não suportariam viver.
Que todos compreendamos que Jesus nasceu para todos, mas principalmente para os mais carentes, frágeis e errados, para que, justamente, nos habilitemos, um dia, ao vôo espetacular da espiritualidade sublime, na ressurreição de vida eterna de um futuro distante que, sem dúvida, um dia nos bafejará os espíritos imortais…
(Texto recebido em 23 de dezembro de 2002.).