Benjamin Teixeira
pelo espírito Demétrius (*).
Alguns amigos estudiosos da mediunidade perguntam-nos, argutos, onde reside o fulcro das faculdades medianímicas; se no inconsciente profundo (o que antigamente denominava-se subconsciente), se no superconsciente (a parte do inconsciente onde estariam depositadas capacidades adormecidas superiores) ou se num âmbito pouco usado ou quiçá desativado da própria mente consciente.
Podemos dizer, sem medo de cometer alguma generalização perigosa, que a mediunidade se exprime por toda a tecedura da mente, assim como, por outro lado, não possui órgão especial, através da qual se expresse particularmente. Muito embora fale-se da glândula pineal, como aparelho da mediunidade, trata-se ela, na verdade, de uma antena e não do aparato de comunicação em si. Sendo assim, o médium pode captar algo através das expressões mais profundas e primitivas, viscerais e atávicas de si, como aversões automáticas e atrações inexplicáveis, assim como pode fazê-lo por meio de manifestações bem conscientes da psique, senão supra-conscientes, quando raciocínio, sentimento e intuições se mostram excepcionalmente lúcidos e claros, revelando alguma coisa que não se pode testificar racionalmente.
Se alguém, assim, quer desenvolver suas faculdades mediúnico-intuitivas, não se preocupe em fazer transes espetaculares ou tornar-se automático em escrever, falar ou sentir. A mediunidade respalda-se na totalidade do indivíduo, tanto no nível físico, como no psíquico. Quanto melhor o ser estiver, como um todo, a “gestalt” do processo mediúnico se processará, também, mais perfeitamente.
A educação mediúnica começa pela educação de todo o indivíduo, desde seus aspectos intelectivos aos físicos, passando pelo equilíbrio das emoções e a elevação dos sentimentos ético-morais. Excelência mediúnica tem a ver, primacialmente, com integração psicológica, maturidade moral e lucidez intelectual, antes que se passe para a plana do fenomênico propriamente, que, sem qualquer intenção de criar efeito de palavras, está em nível francamente secundário. Não se pode outorgar autoridade a alguém para conduzir vidas para os estágios superiores de consciência, sem que o próprio canal esteja habilitado para isso, por inequívocos sinais de superioridade intelecto-moral. Bom médium é aquele, então, que além de ter uma mente bem treinada a pensar sensata, lógica e eficientemente, também porte um organismo saudável, uma estrutura emocional centrada e ajustada, e, por fim, um padrão de valores e objetivos de vida que fundamentem uma boa sintonia com freqüências mentais sábias e santas da dimensão extra-física de vida. Médium que não lê e não raciocina corretamente, que vive doente, emocionalmente instável ou moralmente dúbio está sujeito a toda sorte de ludíbrio por parte de agentes do plano inferior de vida, vulnerável a eles que estará, por uma extensão maior de falhas sistêmicas que porta.
Se você é orientador mediúnico ou é médium, atente-se a esses pontos basilares. Médiuns têm que se atualizar continuamente, devem ter o corpo em forma (para disfunções orgânicas não atrapalharem o sistema emocional-moral: observe-se como uma pessoa enfermiça é susceptível a estados de espírito depressivos e pessimistas), o emocional em ordem e um caráter bem constituído, à prova de qualquer tentação. E, por fim, devem sofrer constante vigilância de pessoas sensatas, esclarecidas e dispostas a lhes frear os excessos, já que, quase sempre, aqui ou ali, todo médium é sujeito (mais que o normal das pessoas, por sua maior sensibilidade) a desvios do bom padrão mental, que vão de surtos de ciúme e raiva, a fantasias megalômanas, passando por toda sorte de desequilíbrio das funções psico-físicas. Somente grandes missionários (e mesmo estes devem estar sob observação, para que não se os veja como infalíveis) conseguem manter um raro padrão de estabilidade em meio ao turbilhão estonteante, ao vórtice mental (enlouquecedor para mentes comuns) de energias, emanações mentais e pressões psíquicas conflitantes, por parte de encarnados e desencarnados, em grupos ou individualmente, do plano superior e do inferior de vida. Mas esses são casos de exceção, e, assim, mais vale ser zeloso com quem não precisa, que displicente com quem desesperadamente carece de cuidados.
Não se impressione com o lado hipnótico de médiuns carismáticos (isso é comum entre eles, pelo enorme potencial de polarização psico-energética que compõe o bojo de seu arcabouço medianímico), nem de entidades pretensamente superiores, se eles não provarem sua superioridade moral, pela elevação e clareza de suas idéias, a natureza de seus corações e propósitos. Mais que tudo, observe-lhes as obras. Médiuns e espíritos bem inspirados espalham, por onde passam, o perfume do amor e do conhecimento: consolam, orientam, dirimem dúvidas e dissolvem dilemas, dissipam crises existenciais, transformam quedas em aprendizados, em suma: funcionam como catalisadores evolutivos, acelerando o ritmo das descobertas, do crescimento e da felicidade daqueles que lhes usufruem a influência pessoal.
Se você ainda tem alguma dúvida sobre a procedência de determinada entidade ou da qualidade espiritual de um certo médium, averigúe-lhes esses aspectos, sem muitos escrúpulos, e chegará facilmente à conclusão adequada.
Como médium ou como orientador de médiuns, além de cuidar dessas particularidades que apresentamos, procure reger, sempre, seus atos, sob o bafejo da prece e das melhores intenções de ser útil e acertar, pois que, agindo assim, contará com o auxílio de representantes do Mundo Maior, que lhe conduzirão os passos, ainda que em meio a eventuais deslizes, aqui ou ali – o que é inevitável, dado à condição falível de ser humano. (E isso considerando todos os momentos da semana, e não apenas aqueles especialmente destinados a atividades de intercâmbio inter-dimensional, já que toda ocupação externa ou mental estabelecem liames de sintonia com faixas mentais específicas.)
Em resumo, não complique na teoria, simplificando para a prática dos efeitos: se as conseqüências do trabalho mediúnico com esse ou aquele médium, ou essa ou aquela inteligência domiciliada no plano extra-físico de vida torna as pessoas que lhes têm acesso aos trabalhos um pouco melhores como seres humanos, então, esse médium ou essa entidade desencarnada são dignos de respeito e crédito. Se não, por mais brilhante seu palavreado ou a magnitude fenomenológica que ocorram por seu intermédio ou influência, simplesmente não merecem atenção, e, muito mais: precisam ser observados e tratados, com muita cautela e reserva.
Se o prezado leitor for daqueles que deduz grandes enunciados a partir de pequenas lições, já terá apreendido, outrossim, que esse princípio aqui expendido, em função da análise de médiuns e entidades do plano espiritual, serve igualmente para a avaliação de pessoas comuns, não-médiuns, bem como de instituições, religiões, obras literárias ou mesmo revelações científicas. Obviamente, toda generalização é perigosa, como todo extremismo denota pobreza perceptiva e conceitual, mas o princípio sobrevive às exceções, como bom mecanismo de filtragem de sofismas, seduções e tentações, para que se aufira a pérola da verdade, ou do mais próximo à verdade, em cada circunstância dada. Dessarte, se nem toda descoberta científica, de imediato, pode trazer benefícios à humanidade, certas aplicações do conhecimento podem ser francamente danosas, e merecem a censura de todo homem e instituição bem intencionados. Da mesma forma, uma informação mediúnica pode causar dor pela natureza severa de um alerta ou pelo impacto evolutivo que gera, já que crescer quase sempre é doloroso. Mas quando um padrão geral de mal-estar e degradação se estabelece, como decorrência da ação de um médium ou de uma entidade desencarnada, sem dúvida, deve-se encarar com suspeição suas atividades.
Não esperemos perfeição. Acostumemo-nos a falhas e incoerências, eventualmente, porque isso é humano. Mas não nos acomodemos a corrupções de propósito ou à prostituição da consciência, em função de conveniências mesquinhas, em nenhuma situação. Eis aí o crivo que o bom senso sugere, para se selecionarem não só médiuns e espíritos, mas também seres humanos, organizações, idéias e movimentos. Fazendo isso, erraremos muito menos e, certamente, evitaremos os grandes erros, favorecendo os melhores e maiores acertos.
(Texto recebido em 29 de maio de 2003.)
(*) Demétrius é um grande psiquiatra do Plano Superior de Vida. Sempre profundo e sábio, o “Dr. Demétrius”, como respeitosamente chamam os espíritos do grupo de mentores do Salto Quântico (os “Dr.’s” são raramente utilizados na Espiritualidade Superior), sempre tem algo de muito sensato e prático a ser aprendido e apreendido (entendido e compreendido em profundidade) por todos nós. Esse texto – que considero uma mini-aula ou um micro-tratado sobre tão vasto e intrincado assunto – me pareceu uma pérola de concisão, didatismo, síntese, e profundidade, sem deixar de exprimir a complexidade do tema, como as inteligências mais argutas poderão claramente notar.
(Nota do Médium)