Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Descobriram-lhe um defeito. Para completar, lançaram-no em seu rosto, de um modo degenerado, bem pior do que de fato é, humilhando-o, espezinhando-lhe o coração.

Você ficou envergonhado, triste, acabrunhado, como se nada valesse a pena. Não se deixe, porém, prezado amigo, arrastar-se por esse tipo de tentação. Não estamos num mundo de anjos. A ambivalência e a contradição acompanharão, por muitos evos ainda, a humanidade terrícola. O mal não está em reconhecer um erro, mas em não admiti-lo e racionalizá-lo, dando espaço a que ele tome um vulto ainda maior, nos calabouços do inconsciente. Se você, além de reconhecer sua limitação, ainda tenta administrá-la, quanto possível, nada mais há que possa exigir de si próprio.

Sendo assim, tirânica realmente foi a pessoa que lhe vem cobrar o que ela mesma, em sua muito plena condição humana, não pode também fazer: deixar de portar falhas e contradições, em sua personalidade e conduta. Sempre é capciosa a proposital confusão entre contradição e hipocrisia. O hipócrita resume-se a um mentiroso que deseja passar pelo que não é, de molde a obter benefícios com a imagem que ostenta de si para a sociedade. Aquele que apresenta contradições, por sua vez, é, tão-somente, uma alma atormentada em conflitos, o que todo indivíduo vivencia, num processo que só cessa quando se transcende a própria natureza humana – de ser limitado e em busca permanente de autoconstrução –, mergulhando-se, definitivamente, na angelitude.

Se isso ainda não lhe consola, meu filho, pense de outra perspectiva. O apóstolo já dissera: “O amor cobre a multidão dos pecados”. Se percebe que sua falha se fez visível (seja para si apenas, seja também para os outros), mais um estímulo a Vida lhe oferece, para que desenvolva humildade e doçura, gentileza e carinho por seus irmãos em humanidade, que, igualmente, precisam de sua indulgência. A sua atitude amorosa amainará os ânimos ferrenhos, convertendo antipatias gratuitas em amizade e ternura, respeito e afeto.

Não se apresse em julgar a quem o julga. É uma alma enferma, que carece de sua atenção ou ao menos de sua compreensão. Deixe-a passar, sob o manto do perdão e da prece, certo de que o futuro lhe dará as lições necessárias para que se modifique e seja feliz, aturdida que a pobrezinha segue, para o inferno das condenações que ela mesma lavra para si, por ferir o princípio que Nosso Senhor Jesus apresentou ao mundo terreno, há dois mil anos: “Não julgueis, para não serdes julgados”.

Transforme, continuamente, cada situação constrangedora ou desagradável em incentivos ao seu crescimento espiritual, ao seu desenvolvimento como pessoa, à expansão de sua maturidade psicológica; e, sobremaneira, à melhoria de seu comportamento com todos, fazendo-se sempre amigo e benfeitor, nunca acusando, enervando-se ou se tornando motivo de ainda maiores problemas na vida dos que já seguem onerados de provações. Com isso, os que o criticaram, ou francamente caluniaram-no, perdem a força do argumento, podendo cair no ridículo – caso insistam em denegrir sua imagem –, tão incoerentes e injustos que soarão, aos ouvintes de seus comentários, com o que dizem a seu respeito.

Deus sabe o que faz. Tudo – guarde bem isso em mente, prezado amigo –, realmente tudo acontece para nosso bem.

(Texto recebido em 18 de junho de 2000. Revisão atual de Delano Mothé.)