1ª pergunta1 – Por que a maior parte das mulheres heterossexuais sonha com príncipes encantados, mas se casa com cafajestes?
(Eugênia-Aspásia) – Responderei de forma sumária, mas levando em conta diversas perspectivas, todas pertinentes e necessárias à melhor compreensão da temática intrincada dos relacionamentos humanos:
1) Porque não são princesas pelo espírito. Somente almas nobres têm o condão pleno de atrair personalidades de padrão similar.
2) Porque não são vassalas. “Príncipes”, na acepção de homens altivos demais ou suficientemente narcisistas para agirem como aristocratas pernósticos, só se casam com mulheres que se submetam ao talante de sua voluntariosidade, pois julgam merecer todas as regalias do mundo, em detrimento de terceiros, não por realizações e méritos que possuam, mas por desejo e capricho pessoais.
As caprichosas, por sua vez, deveriam procurar vassalos como consortes, para que se poupassem dos conflitos relacionais próprios da intimidade com um igual. A lei do carma, entretanto, frequentemente faz surgir o vínculo romântico entre “príncipes” e “princesas”, que então se descobrem “traídos(as) e enganados(as)”, após a quebra do encanto inicial de arroubo passional, vendo-se enlaçados(as), respectivamente, a “bruxas” e “sapos”. Todavia, nessa burlesca e trágica comédia do ego, cabe-nos indagar: quem realmente enganou quem?
3) Porque não são integradas psicologicamente, de modo que projetam no parceiro um ideal incompatível com seu cosmo interior. Em linguagem junguiana, idealizam na câmara sagrada do Self, mas de fato se consorciam afetivamente por força da sombra psicológica.
4) Porque recebem o de que precisam e não o que supõem merecer. As relações conjugais são condicionadas por paridades psíquicas, sejam especulares ou complementares. Pelo filtro da equivalência vibratória, costumamos atrair caracteres semelhantes, ainda que por processos inconscientes, bem distantes, portanto, do campo das obviedades superficiais. Se alguém é mesquinho(a), egoísta e controlador(a), não pode esperar encontrar em seu caminho seres de alta estirpe.
2ª pergunta – Por que, na juventude, homens almejam o sucesso nas culminâncias do bem maior, mas acabam, na maturidade e na velhice, descambando com frequência para o fracasso e acomodando-se à mesquinharia do mal menor?
(EA) – Porque não souberam facear os desafios complexos atinentes à suportação do embate que se dá entre as demandas prementes de sobrevivência e as adversidades cruentas do domínio de matéria densa, na crosta planetária, onde tudo contraria e rivaliza os subidos valores do espírito, arrebentando em pouco tempo, na maioria dos casos, a balança íntima do autogoverno e da primazia dos princípios e metas elevados da juventude. Raros são, em nosso globo terrestre, os temperamentos que mantêm, na senectude, a mesma altura de ideal que apresentavam na mocidade.
No entanto, o que parece uma involução, em primeiro exame, antes consiste numa significativa revelação, a indicar a inconsistência dos sonhos de outrora, seja porque a pessoa nutrisse uma concepção inadequada ou incompleta de suas aspirações (comumente desconectadas da realidade), seja porque desconhecesse suas próprias limitações psicomorais e potenciais intelecto-emocionais legítimos – o entusiasmo juvenil tende a minimizar as primeiras e a superestimar esses últimos.
Quando, por exemplo, um(a) jovem sonha em ser um(a) grande homem(mulher), mas está movido(a) tão só por narcisismo – isto é, pelo ego –, cedo ou tarde sofrerá amargas decepções. Já um(a) ancião(ã) do espírito, apesar de insulado(a) num corpo jovem, desfrutará de recursos internos substanciais para atingir esse mesmo desiderato, por manter um apurado diapasão de constância em seu caráter e de persistência em seus ideais, e até de melhoria progressiva de sua condição evolutiva, auferindo uma respeitável percentagem de concretização do que planejou no princípio de sua existência.
3ª pergunta – Por que a maioria das pessoas é honesta, mas mente mesmo assim?
(EA) – Porque a mentira, como regra de conduta a ser dosada com a exposição da verdade, de forma responsável e construtiva, ainda é um expediente obrigatório no tecido corrompido de uma sociedade falsa e venal, constituída por uma maioria de criaturas com baixo grau de desenvolvimento moral. Certos(as) contestadores(as) dessa necessidade indiscutível, ao asseverarem não mentir em hipótese alguma, demonstram portar severo distúrbio mental, quando não se revelam hipócritas cínicos(as) e traiçoeiros(as), que entendem conveniente dissimular deslavadamente, sustentando mitos forjados de honradez e excelência pessoais, enquanto exigem sinceridade transparente e irresponsável dos(as) outros(as), para melhor controlá-los(as), em função apenas de seus interesses inconfessáveis, com total descaso pelo bem comum.
Por outro lado, quanto mais decente e lúcido é um indivíduo, menos precisa fazer uso da ferramenta da mentira caridosa e polida, confinando-a a situações delicadas bem específicas, em que o senso de fraternidade e respeito às deficiências alheias reclama a oclusão de uma verdade inconveniente ou inoportuna, que eventualmente poderia causar prejuízos não só à própria pessoa diretamente envolvida, mas também a terceiros, sejam entes queridos ou estranhos.
Calculistas, oportunistas e sociopatas, entrementes, abusam desse artifício de sobrevivência social, utilizando-o indiscriminadamente, com o intuito de manobrar suas vítimas e tripudiar sobre sua boa-fé. Acabam se tornando manipuladores(as) contumazes e se degenerando na mendacidade, até que passem a acreditar nas próprias mentiras e, por fim, enlouqueçam psicológica e moralmente, na roda-viva de invencionices perigosas.
Por mais inteligentes que sejam na elaboração de suas fantasias persuasivas, conduzem-se fatalmente a trágicos destinos, que não raro começarão a carpir já na presente existência, mas cujas consequências excruciantes decerto continuarão padecendo no além-túmulo e em outras reencarnações. A “punição” cármica – ou resposta educativa da Justiça Divina – para sua postura pérfida, porém, já se inicia com o inexorável tormento, inerente a seu perfil psicológico, de não acreditarem em ninguém e desconfiarem até de si mesmos(as).
4ª pergunta – Como encontrar o equilíbrio e a maturidade na decência e, ao mesmo tempo, ser realista e proteger-se da maldade alheia?
(EA) – O(a) discípulo(a) da sabedoria deve, em primeiro plano, ser rigorosamente honesto(a) consigo, buscando conhecer-se o bastante para não exagerar nas expectativas quanto ao próprio valor ou ao futuro que projete para si. E, depois – em termos de importância na aplicação dos princípios –, não deve esperar muito dos(as) outros(as), procurando, de reversa maneira, fazer-se fonte de solução, benefício, felicidade e paz, na sua e na vida de seus(suas) irmãos(ãs) em humanidade.
Assim, o(a) cultor(a) do bem sofrerá menos ao se deparar com gente problemática ou perversa – uma contingência corriqueira na Terra – e paulatinamente, com o correr dos anos, atrairá para sua intimidade corações afins, ainda que raros, por uma questão de sintonia ou compatibilidade vibratória, uma espécie de magnetismo espiritual irresistível.
Esse fator do magnetismo é de tal modo dominante nos relacionamentos interpessoais, que quando nos portamos com muita decência (sem ingenuidade) diante do próximo, mesmo que não convivamos com semelhantes o tempo todo (o que é impossível no orbe terreno), ao menos estimulamos os(as) que não estão em nosso patamar de maturidade psicomoral a agirem em esfera mais alta de consciência, em relação a seu próprio padrão, exprimindo virtudes que normalmente não denotam em seu comportamento.
Almas santas, dessarte, costumam inspirar atos de bravura e altruísmo até em criminosos(as). Esse tipo de aproximação, contudo, só pode ocorrer excepcionalmente, porquanto, se for forçado o convívio entre indivíduos que compõem extremos opostos do espectro da evolução humana, a psique do(a) criminoso(a), por um efeito compensatório, em reação aos gestos de dignidade que lhe não são naturais, tenderá a operar, logo após o momento de benevolência, em nível ainda mais baixo do que aquele que lhe é habitual, prejudicando a própria entidade luminar que o(a) acolheu e lhe fomentou o crescimento – a hagiografia é prenhe de exemplos do gênero.
5ª pergunta – Onde está a “escada” para a conquista do verdadeiro amor e da realização pessoal completa?
(EA) – Dentro de nós mesmos(as). Precisamos recorrer a este axioma das tradições espirituais de todas as culturas e épocas, incluindo a nossa, a cristã: “O Reino dos Céus está dentro de vós”2. Não obstante, em uma abordagem mais pragmática, digamos que há basicamente três itens definidores do sucesso integral, que inclui a vitória interior, a bem-aventurança, o sentimento de dever cumprido, e não apenas o êxito externo, em âmbitos como o profissional, o material e o social:
1) Ouvir a própria consciência-intuição-coração-vocação. Quem não escuta e atende os aspectos mais genuínos e nobres de si, desrespeitando sua natureza psicológica e desconsiderando os ideais que lhe inflamam o espírito, jamais logrará a autêntica – porque completa, profunda e duradoura – autorrealização.
2) Ser persistente. Só com perseverança pode o(a) devoto(a) da luz alcançar os supinos propósitos que colima, sobrepujando as energias contrárias ao impulso evolutivo que a flama íntima de seu ideal representa. As crises, as adversidades, os ataques – a serem enfrentados, suportados e superados – apresentam-se tão numerosos, intensos e variados em sua expressão, que apenas seres alcandorados, ao reencarnarem em nosso planeta, atingem a glória de transpor todas as barreiras encontradiças em sua jornada existencial, mantendo-se inarredavelmente na direção do pleno desdobramento de suas potencialidades – esses foram honrosamente qualificados de “completistas”, pela psicografia de Chico Xavier, em nome do Espírito que se autocognominou André Luiz.
3) Confiar em Deus e dedicar-se ao contato sistemático com Ele-Ela, direta ou indiretamente, por meios convencionais ou alternativos. Alguém poderia dizer que determinados(as) agentes tenebrosos(as) jamais colhem da Inspiração Divina qualquer motivação ou diretriz para suas atitudes malevolentes. E nós argumentamos, em contrapartida, remetendo-nos a um dos mais intrigantes paradoxos do universo, que somente com autorização do(a) Criador(a) algo pode acontecer, de sorte que até genocidas atuam sob Permissão Celeste, convertendo-se, por conseguinte, sem o saberem e também sem nenhum merecimento, em instrumentos da Perfeita Providência e Seus estímulos à evolução. Eis, em última análise, a finalidade do mal: propelir as criaturas à busca pela promoção do bem, em todas as suas multifacetadas formas de manifestação.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
em diálogo com Eugênia-Aspásia (Espírito)
3 de maio de 2009
1. Desta feita, excepcionalmente, as perguntas foram propostas pela própria autora espiritual, razão por que não me apresento na condição de consulente, como via de regra o faço nesses diálogos mediúnicos.
(Nota do médium)
2. Lucas 17:21.
(Nota da equipe editorial)