Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

É necessário muito vigor mental para enfrentar a era moderna, em que a rede mundial de computadores, mais que nunca, imprime celeridade a todos os acontecimentos. Hoje, lamentavelmente, prioriza-se muito mais a velocidade que a qualidade. De uma certa forma, há pontos positivos nessa tendência. O perfeccionismo, por exemplo, perde espaço, ganhando a eficiência, a praticidade, o espírito objetivo e realista de quem busca resultados, sem se perder nos meandros de especulações improfícuas.

Há outras questões, porém, a se considerarem igualmente. A complexidade dos quadros situacionais, a serem observados, analisados e depois criteriosamente julgados, dificulta, em muito, o momento da tomada de decisão. E o que é agir rápido e certo senão decidir com acerto e velocidade? Como conciliar bom senso, prudência e responsabilidade com as premências do mundo célere que nos cerca?

Mais uma vez, teremos que fazer uma quebra de mundividência. Sem efetivarmos uma revolução paradigmática, sem realizarmos uma completa alteração (atualização) em nossos modelos de interpretação da realidade, sem darmos uma guinada salutar em nossos parâmetros de avaliação, perderemos o bonde da história. Aliás, não se trata essa de uma necessidade pontual: devemos não apenas fazer uma grande revolução, mas nos acostumarmos ao padrão revolucionário, para que, continuamente, estejamos entrando em compasso com as velocíssimas alterações civilizacionais que ocorrem a todo momento, desde a óbvia volatilidade dos mercados ao pano de fundo das transformações subliminares de valores e costumes, nos tecidos profundos das sociedades.

O busílis está no sistema de pensamento. Devemos sair do raciocínio meramente analítico, fragmentário, dissecador, para a linha de mentação que considera as percepções globais, gestálticas, sistêmicas: a visão holística de realidade, a perspectiva da transdisciplinaridade – de que tanto se tem falado –, a ótica sintética, holográfica de enxergar o mundo e a si próprio. Chega de ficarmos atreitos às arcaicas, limitadas e obsoletas formas de pensamento que vêem as partes sem considerarem o todo, que é, como truisticamente se sabe, maior que a soma das partes. Em suma, precisamos aprender a usar a intuição.

É aí, todavia, que mora o perigo. Como distinguir intuição de exaltação das emoções, de palpite, de falsos insights? A primeira questão a se considerar é que ninguém desenvolve uma boa capacidade de ter introvisões sem, primeiramente, possuir uma boa plataforma de informações, conhecimentos e vivências. Em suma, só transcende o nível da cognição racional quem já o amadureceu plenamente. Não basta ter vontade de se tornar intuitivo, tão-só sendo audaz e afoito. Muito pelo contrário: ter vontade sem apresentar capacidade é extremamente perigoso, porque conduz o indivíduo a condutas vexatórias. “Querer é poder”, diz o vernáculo popular. Há uma grave falha de ilação, todavia, se alguém deduz, a partir desse conceito, que basta querer para alcançar-se o que se deseja. Querer significa decidir-se a algo, e o ato de decidir-se envolve implicações profundas e intrincadas, porque a pessoa terá que arcar com todas as precondições para realizar a sua proposição.

Resumindo, de forma mais didática, para que se seja um bom intuitivo, propiciando-se intuições dignas de confiança, fidedignas em relação às realidades a que se dirigem, coerentes com o contexto histórico de uma sociedade e/ou de um indivíduo, alguns elementos fazem-se imprescindíveis:

1. Manter-se atualizado em todos os sentidos, em dia com acontecimentos, tendências e possibilidades para o futuro dos contextos trabalhados.

2. Estar em harmonia consigo mesmo, com o grupo em que se encontra engajado e com Deus. Isto quer dizer: questões emocionais básicas resolvidas, neuroses relativamente controladas, aspirações existenciais ao menos parcialmente vividas e princípios éticos rigorosamente seguidos, sem o que o desequilíbrio nas relações intrapsíquicas, interpessoais ou transpessoais convulsionarão completamente as águas do lago psíquico, que, funcionando como espelho mental para o exercício perceptivo, impossibilitará, de todo, é claro, o reflexo delicado das percepções sutis que se almeja vislumbrar.

3. Ser dinâmico, disposto a mudar, revolucionar e crescer constantemente. Não aceitar veredictos cabais a respeito de nada, estar sempre aberto ao questionamento e a idéias novas. Fazer-se criativo, o que pressupõe ser o mais possível desprovido de idéias preconcebidas, os terríveis preconceitos que tolhem o livre pensamento da maioria esmagadora dos seres humanos na Terra.

Agora, como fazer para se tornar esse super-homem ou essa supermulher? Começar com pouco e persistir sempre. Ser humilde em admitir-se um perene aprendiz, aprendendo com todo mundo, desde o subalterno mais ínfimo e a criança de mais tenra idade (que muito podem ensinar, por não estarem condicionados às formas convencionais de pensamento, pela educação formal), até as maiores sumidades do globo. Procurar estudar sempre, interagir com gente de interesses afins e de outros segmentos de gosto, aspirações e objetivos de vida, a fim de que haja enriquecimento psicológico, aumentando-se o círculo de relacionamentos e fontes informacionais. Meditar, fazer psicoterapia, ouvir-se, conhecer-se em profundidade, desenvolver a habilidade de auscultar o anjo interno (tecnicamente falando, a superconsciência), permitir-se ser feliz – porque ninguém é criativo e original se não segue o próprio coração, e seguir o próprio coração é a essência da felicidade.

Em suma: seja você mesmo, mas compreendendo que ser o si próprio implica não apenas exteriorizar uma obra pronta, mas, sim, viabilizar um projeto contínuo de construção pessoal, já que todos, sem exceção, somos obras inacabadas, sendo erigidas, ampliadas, lapidadas, demolidas e reconstruídas sucessivas vezes por nós mesmos. Pense livre, pense alto, pense criativamente, pense grande, pense bem, pense como Deus quer: ouça seu coração.


(Texto recebido em 25 de agosto de 2000. Revisão de Delano Mothé.)