Benjamin Teixeira
pelo espírito
Anacleto.

A humanidade, dizem algumas pessoas, não tem salvação. O que acha disso?

Opinião despropositada. Observa-se um pequeno trecho do caminho e pretende-se avaliar toda a estrada a partir dele. Uma visão mais ampla, um horizonte temporal mais largo é indispensável. Nunca se esteve tão bem em toda a História Humana na Terra. O humanismo atingiu níveis impressionantes de presença na consciência das pessoas. Congressos sobre racismo, de proporções planetárias, já podem acontecer, ainda que malogrados em suas grandes propostas; mas acontecem, e têm forte repercussão na opinião e no imaginário populares. A fome nunca preocupou tanto os países ricos, que fazem campanhas para combatê-la, e até a quebra de patentes – um dos baluartes sagrados do capitalismo – aconteceu, a fim de beneficiar povos miseráveis assolados pela AIDS.

De fato. Mas e o que dizer do crescimento da violência nas ruas, da expansão do narco-tráfico na mundo inteiro, e da falta de tempo das pessoas em uma comunidade cada vez mais competitiva?

Volto a dizer: importante tomar uma visão de conjunto mais ampla. Sem dúvida, há problemas muito mais graves agora que as cidades incharam para formar megalópoles e que existe um consumismo exacerbado, bem como uma busca frenética de prazeres, para tapar o vazio deixado pela falta de significado para viver. Nessa crise de sentido que a civilização vive, quistos sociais como a explosão do consumo de drogas, lícitas ou ilícitas, e a violência urbana, como um traço, essa última, inclusive, da doença econômica da péssima distribuição de renda entre países e povos, continuarão existindo e, em certa medida, expandindo-se. Todavia, trata-se de uma fase antitética que os conduzirá a uma síntese do melhor. Dá-se dois passos para trás, a fim de que se possa dar dez para a frente. O adolescente parece degenerar em índole, quando adentra o período da conturbação juvenil, em relação ao período plácido e sem conflitos da infância. Ausência de conflitos, porém, não indica superioridade, tanto quanto a presença deles não implica degradação. Muito pelo contrário: o conflito íntimo costuma assinalar um processo de rearrumação de elementos no interior da criatura, rumo à organização num nível mais alto de complexidade e profundidade. Nunca houve tanta informação sobre os malefícios da droga e da violência e nunca essa informação esteve tão massificada, no seio das grandes populações. A informação conduzirá o inconsciente coletivo a atingir um certo nível de saturação, provocando um salto quântico no padrão de consciência que, par e passo com a mudança nos valores, no sentido para viver, com a revolução espiritual de que a humanidade se avizinha, resolverão completamente, num futuro a médio prazo, tudo isso.

O que significa futuro a médio prazo?

Algo em torno de cem a duzentos anos.

Muita gente achará isso muito.

Não é, se concebermos a História do ser humano e mais ainda a extensão de tempo de sua presença sobre o orbe. Há apenas mil e setecentos anos, pessoas eram devorada vivas por feras em grandes circos, e, há bem menos que trezentos, mulheres inocentes eram queimadas vivas, em praças públicas, com a turba a gritar ensandecida de euforia e prazer, porque partilhavam de opiniões contrárias ao gosto da maioria. Há pouco mais de um século, nas Américas, persistia o regime escravocrata, e há poucas décadas, a mulher não tinha direito a voto, nem nas mais avançadas nações do planeta. Isso indica que se está, em muitos sentidos, no princípio dos tempos, para a verdadeira humanidade. Dizer-se que a fome, a violência e o vício serão praticamente debelados como pragas sociais em menos de duzentos anos, dessa perspectiva, pode soar, muito pelo contrário, até mesmo um ato de bravura visionária, ou de otimismo delirante. Quando, porém, por outro lado, se pensa que no século que se inventou o mais pesado que o ar, chegou-se à Lua e que no século de Hitler, surgiram mais democracias do que em todo a História anterior, sabe-se da imensa capacidade do ser humano em superar-se e refazer-se a partir das próprias cinzas, qual a Fênix mitológica, em em surtos evolutivos extraordinários que em muito se assemelham, citamos aqui de novo, o fenômeno da física de subpartículas: o salto quântico.

Fantástico, Anacleto, como sempre. Quer dizer mais alguma coisa sobre o assunto?

Sim, que a verdadeira humanidade começa no reduto de cada coração, espraiando-se pelo lar e pelo ambiente de trabalho, para depois tomar as proporções mastodônticas dos acontecimentos globais. Que cada um trate de pacificar seu coração, humanizar suas idéias e espiritualizar seu comportamento, tornando-se agente vivo na transformação social do planeta e aceleraremos o processo de guinada para uma Nova Era de paz e concórdia gerais na Terra.

(Diálogo travado em 8 de setembro de 2001.)