Benjamin Teixeira
em diálogo com o espírito
Eugênia.


Intróito
:

Esta conversação legendária, com o espírito Eugênia, mereceu ser republicada, após uma estranha sequência de “coincidências” que ocorreu em nosso grupo, nas últimas duas semanas – que não nos caberia aqui minudenciar. Como se dá com tudo de muito valor, uma série de curiosidades e eventos dramáticos aconteceu em torno deste material lapidar da grande Mestra desencarnada.

Tocante e revolucionária como poucas, esta peça de defesa eugeniana recebeu dos mais rasgados encômios, desde os oriundos da comunidade homossexual, até os que partiram dos mais rígidos segmentos reacionários, como o de uma senhora, residente nos Estados Unidos, que deixou escapar, ante um dos adeptos salto-quantistas da Norte-América, após sua leitura em grupo, à época: “Su-bli-me!”… Igualmente após ter tido contato com este artigo, na ocasião, um amigo sarcástico, ao seu modo louvando a lavra da luminosa Mentora espiritual, propôs que um trio elétrico deveria ser inteiramente dedicado à Mestra da Felicidade, na maior parada gay do mundo: a de São Paulo. Este também, um heterossexual de traço conservador.

Uma pane eletrônica em Sergipe, ocorrida em 2003, fez com que houvesse uma perda de arquivos, correspondentes a aproximados dez meses de páginas publicadas neste site e em outros de nosso Estado. Durante dois anos, pérolas mediúnicas, como esta, ficaram definitivamente perdidas (pelo menos, assim pareciam estar), já que não nos preocupávamos, por aqueles dias, em fazer “backups” de todos os textos de nosso sítio eletrônico. Coube a Delano Mothé, atual revisor do site, seguidor de nossa Organização deste 2001 (quando do lançamento do programa em rede nacional de televisão, pela TVE-Rio), a preciosa tarefa de resgate de todo este acervo de sabedoria, quase desaparecido para sempre… Metódico, Delano não só “baixava” as mensagens diárias do site, em arquivos eletrônicos pessoais, como imprimia cada uma delas, para mais ainda ter a segurança de seus registros.

Com vocês, então, amigos, esta magistral e inesquecível fala de Eugênia, em diálogo comigo, há quatro anos, através da psicografia.

Benjamin Teixeira,
Aracaju, 23 de maio de 2007.


(Benjamin) – Eugênia, uma revista de circulação nacional publicou, nesta semana, reportagem sobre os homossexuais e seus grandes dramas e dificuldades em assumir e viver, socialmente, sua estrutura de orientação psicossexual. Você teria algo a dizer sobre o assunto
?

(Eugênia) – Sim, que o futuro da humanidade reserva total cidadania para o segmento homossexual das sociedades; que o preconceito, a discriminação e toda forma de marginalização hoje praticadas constituem signos de primitivismo e inconsciência que serão completamente debelados num breve porvir.

(Benjamin) – O que você quer dizer por breve?

(Eugênia) – 100 ou 200 anos. Dentro de dois séculos, os homossexuais estarão sofrendo discriminação semelhante à que padecem hoje as mulheres: branda, dissimulada, mas suportável.

(Benjamin) – Essa previsão parecerá horrível para muita gente.

(Eugênia) – Sim, eu sei. Mas se trata de um fato. Não pensemos que resistências culturais arquimilenares cederão tão facilmente. Lembremos que há redutos de anacronismo cultural, como o Oriente Médio, onde as conquistas hoje consideradas pobres pela comunidade gay, em países em desenvolvimento, como o Brasil, levarão muitas décadas para por lá se estabelecerem.

(Benjamin) – Há ainda aqueles que julgam que o Plano Superior nunca poderia se posicionar a favor da prática homossexual ou do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que você diria sobre isso?

(Eugênia) – Que elas, em se considerando espíritas, deveriam estudar e se atualizar um pouco mais. Espiritismo é, primeiramente, ciência, como estipulado pelo próprio codificador. Allan Kardec chegou mesmo a asseverar que se algum postulado da “doutrina”, como ele chamava o fabuloso sistema espírita de pensamento, entrasse em contradição com as descobertas apresentadas pela Ciência, deveria ser o mesmo abandonado sumariamente e incorporado o novo conhecimento científico então contraditado. Toda a comunidade psiquiátrica e psicológica é unânime em afirmar, atualmente, que a homossexualidade não constitui doença, assim como, muito menos, não representa uma disfunção de caráter. Até mesmo a Organização Mundial de Saúde já reconhece tal fato. A atitude de um espírita que se coloque contra a prática homossexual, portanto, deveria ser observada, no seio de sua comunidade, com a mesma severidade com que se encaram iniciativas de psicólogos brasileiros que intentam “tratar” (entenda-se “curar”) homossexuais: têm cassada a sua autorização para clinicar, pelo Conselho Federal de Psicologia.

(Benjamin) – Outros religiosos, todavia, ainda mais severamente combatem as práticas homossexuais, baseando-se em trechos da Bíblia, sobremaneira nas palavras paulinas, para endossar suas assertivas. Que diria a essas pessoas?

(Eugênia) – Apontem onde Jesus, em algum ponto de seu Evangelho, tenha Se colocado contra a homossexualidade. Cristo nunca se mostrou muito afeito às convenções sociais e sempre deblaterava contra a hipocrisia do farisaísmo judaico. Quanto a Paulo, já que se cita a passagem de sua condenação a homossexuais, poder-se-ia, outrossim, seguir sua recomendação de que as mulheres fizessem silêncio nas Igrejas, para qualquer prática de ensino do Evangelho, e que também se mantivessem obedientes aos homens, já que estavam em segunda ordem de importância, na Criação Divina, em relação a seus parceiros masculinos (Vide I Timóteo, 2: 11-13; e I Coríntios, 11: 7-9). Apesar do absurdo que soa nos dias hodiernos, tal preceituação era compreensível para o tempo primitivo em que o “Apóstolo dos Gentios” pregou o Evangelho. O que não se entenderia é que semelhante ideia fosse hoje adotada nas igrejas, e, de fato, o maior número das instituições religiosas se posiciona em concordância com o que dizemos (embora mesmo a Igreja Católica tenha grandes restrições ao sexo feminino, ainda nos dias atuais). Igualmente se deve pensar em relação à concepção paulina sobre homossexualidade. Jesus acercava-se de “santas mulheres”, na própria linguagem evangélica, e dava claros sinais de as ter como melhores seguidoras de seus ideais que os homens daquele tempo atávico (parece que essa diferença entre os sexos, para as questões da espiritualidade, ainda não mudou muito), as únicas que não O abandonaram na hora do suplício da crucifixão, exceção feita a João, tão doce menino, que, ao falar com Jesus na “Santa Ceia” ², deita a cabeça no peito do Mestre. Ao reverso, entretanto, de discriminá-lo por sua candidez, Jesus o tinha como o Apóstolo “mais amado”, como reza o texto bíblico.

(Benjamin) – Eugênia, você quer me criar problemas. Essa insinuação quanto à sexualidade de João vai me gerar mais dificuldades do que já tenho enfrentado com as teses polêmicas que defendo a seu pedido e de sua Plêiade de Amigos Espirituais.

(Eugênia) – João, garanto-lhe, não se incomoda. Antes, fica feliz, por seu exemplo santo servir para libertar uma parte gigantesca da humanidade, mais de 600 milhões de almas, que vivem à margem da sociedade, sofrendo torturas psicológicas incalculáveis para a maioria heterossexual – aproximadamente 90% das populações³. Quanto a você, não me preocupo. Sabe que não estamos nos comunicando com a Terra para agradar a grupos isolados, mas sim para educar a todos, para o porvir grandioso de uma humanidade justa e esclarecida, em que não haja espaço para marginalizações e ataques aos direitos das minorias. O simples fato de se criar estupor com a ideia de uma alma consagradamente santa ter sido homossexual revela, claramente, a dimensão do preconceito que pervaga as mentes e sociedades humanas em torno do assunto.

(Benjamin) – Você é terrível comigo, Eugênia!

(Eugênia) – Creio que nem caiba brincadeira em tema tão sério! Nós, da Dimensão Extrafísica de Vida, temos acompanhado o drama inenarrável de homossexuais desesperados, principalmente na adolescência, cometendo ou tentando suicídio, enlouquecendo de dor, vergonha, humilhação e tristeza, envolvendo-se com drogas e até com o crime, por não encontrarem espaço no seio das sociedades. Um desperdício humano inaquilatável, no correr de século sobre século, de pelo menos um décimo de todas as comunidades terrícolas. Dá para dimensionar o que seja isso? A tortura psicológica sistemática e sem tréguas, o alijamento social de massas ciclópicas de pessoas, condenadas a viverem em guetos ou na reclusão de seu silêncio e solidão, porque certos pressupostos sociais não foram atendidos?… Afirmo, veementemente, para todos os religiosos que supõem estar cumprindo um papel de disciplinamento das multidões, com suas pregações retrógradas e inconscientes: a Espiritualidade Superior e os Anjos no Céu, se assim podemos dizer, acima de nós, abominam sua conduta homofóbica e lhes alertam que toda dor que tiverem impingido a gente já tão sofrida, com os próprios conflitos, retornará em sua direção, como pesado débito cármico.

Impossível contar o número de vezes que nós, os Guias Espirituais da humanidade, temos que acorrer, pressurosos, para secar as lágrimas de milhões de homossexuais, todas as noites, no silêncio de seus quartos, aturdidos de culpa, revolta e desespero, apenas por serem o que são. Impraticável contar o número daqueles que, por não encontrarem espaço nas sociedades para a manifestação e vivência equilibrada e civilizada de sua forma de sexualidade, resvalam para a promiscuidade compulsiva, de um lado, ou para o casamento heterossexual forçado, de outro – ambas, atitudes desesperadas e equivocadas, que geram, em cadeia, sofrimento para inúmeras outras pessoas. Melhor fossem tratados como deficientes físicos ou mentais, em vez de se lhes negar o mínimo respeito e consideração como seres humanos, debochando-se de seus sofrimentos mais profundos e enlouquecedores. Temos perdido a conta das vezes que precisamos tomar providências extraordinárias para deter o impulso suicida e todas as práticas e surtos de total revolta infindáveis de nossos queridos pupilos encarnados, que arrebentam de dor, todos os dias, tão massacrados em sua autoestima que se sentem, tratados como párias sociais, como sub-raça oculta e estigmatizada, em meio a uma elite insensível, em sua maioria, de heterossexuais… Ai daqueles que derramam óleo fervente em feridas já abertas e tão doídas, há tanto tempo!… Ai daqueles, porque não gozarão de misericórdia, da mesma forma que a negam medonhamente aos seus irmãos mais carentes de afeto, os degredados sociais de hoje, que estagiam na homossexualidade… Ai daqueles, porque nós nos afastamos de seus caminhos, para os deixar entregues à fúria assassina das forças do mal, os agentes da destruição e da decadência, que cercam os passos dos desavisados, para em suas vidas se intrometerem e as arruinarem.

(Benjamin) – Mais algo a dizer sobre o assunto, Eugênia?

(Eugênia) – Pediria que cada um ponha a mão na consciência e se lembre de que, da próxima vez que soltar um comentário de mau gosto, a título de brincadeira, sobre gays e lésbicas, pode estar fazendo sofrer quem esteja ao seu lado, alguém quiçá muito querido… e sofrido, talvez no limite de suas forças, sorrindo por fora, mas chorando por dentro… quem sabe o amigo que lhe faz companhia, um irmão, uma mãe, um pai, um filho, ou mesmo sua própria sombra psicológica, mal-assumida, que luta para se libertar do fundo de seu inconsciente, e não consegue, atormentada pelo demônio do próprio preconceito!…

E a vocês, meus queridos filhos homossexuais, minha bênção e minha paz, em nome das Forças Angélicas que represento, exortando-os a amarem ainda mais forte e firmemente, do modo como seu coração lhes pede, na certeza de que aqueles que amam até o fim serão salvos, e de que o amor que demonstrarem por si mesmos, o respeito pelo que são, como Deus os fez ou permitiu estarem, na presente encarnação, não importando por qual motivo, é a pedra filosofal do amor “lato sensu”, sobre o qual se pode erigir, com equilíbrio e saúde psicológica, todas as demais formas de amor, da amizade sincera ao sacrifício espetacular dos santos.

Vocês, hoje, queridos amigos atormentados, por tanto ataque e incompreensão gratuitos, constituem um dos principais grupos de mártires da era moderna. Houve um tempo em que os profetas (e apóstolos), os cristãos e as mulheres foram oprimidos por séculos de séculos. Agora, espíritas, médiuns e gays o são, por motivos diferentes. Que mantenham seu cântico de amor, como os mártires nos circos romanos, impertérritos ante as feras famintas que lhes rasgavam as carnes do corpo. Que vocês também, de sua parte, mantenham bem alto seu hino de liberdade e amor, arrostando, corajosamente, as feras do preconceito e do anacronismo, enquanto as carnes de sua alma são rasgadas pela maldade e malícia humanas, e estejam certos de que, de Altiplanos Espirituais inabordáveis ao senso comum, coros de Anjos os acompanham, sustentando-lhes as forças e o moral, até a definitiva vitória do bem, da justiça, da verdade e do amor… quando uma era nova surgirá na Terra, e ninguém mais será perseguido por ser negro, mulher, gay ou seguir uma religião minoritária, mas, antes, haverá espaço para todos, sem fronteiras, num mundo tão grande e acolhedor como o coração de todas as mães, Mãe que Deus é… útero Seu que constitui todo o universo… onde só deve haver amor, união e paz…

(Diálogo mediúnico travado em 22 de junho de 2003)


Notas do Médium:

1 Tão bela e emocionante, quão ardente e escatológica, creio tenha ficado a fala de Eugênia neste diálogo aqui exarado, que me parece o mais bem-acabado manifesto em defesa de homossexuais que já tive oportunidade de conhecer, e bem poderia figurar como um panegírico universal de apoio a uma das comunidades humanas mais extensas e sofridas da Terra, secular e universalmente oprimida, até os dias de hoje.

Como uma mãe amorosa que, vendo um filho fragilizado de dor ser injustamente atacado, torna-se corajosa e forte, na defesa do rebento vulnerável, Eugênia surpreende nas respostas a algumas das perguntas que fiz sobre o tema melindroso. Com um olhar profundo e angustiado, como a lembrar de mil queridos protegidos seus, e uma voz pausada quanto pesadamente profética, justamente nos pontos mais dramáticos de sua fala, a doce Mentora do Além mostrou, do alto de sua sabedoria e completude, ser o indivíduo integral que sabe imprimir energia e rigor nos momentos certos e necessários, fazendo a justa defesa dos desprotegidos. Mãe tão amorosa como poderosa, mostrando-se implacável com os preconceituosos hipócritas que atacam os já sofridos homossexuais, Eugênia postou-se à frente destes, contra seus agressores desassisados, aninhando-os sob suas asas de anjo, espada em riste da verve mística e viva, qual uma grande guerreira mitológica e mirífica, descida das Alturas, enviada diretamente por Deus, em defesa dos desvalidos… Ai daqueles que se atrevam a desafiar as Mães do Céu… o Poder de Deus segue com Elas…

Vejo os irmãos homossexuais com lágrimas nos olhos ao nos ler. Podem verter, amigos, suas lágrimas de alívio e conforto: vocês não estão sós – os Anjos no Céu velam por todos, mas, de modo muito particular, pelos mais oprimidos(!), principalmente os que sofrem opressão por amar e não poderem expressar seu amor!… o amor, como disse tão brilhantemente o dramaturgo britânico Oscar Wilde, de que não ousam dizer o nome… Amor que, não importando qual seja, é Deus em expressão e movimento, como asseveraram todos os mestres e luminares espirituais da humanidade, de todos os tempos e culturas, incluindo Nosso Próprio Senhor Jesus!…

2 Que antecedeu a “Sexta-feira da Paixão”.

3 Estatísticas das mais conservadoras, como a resultante do famigerado Relatório Kinsey, de 1948, apontam para este percentual da população humana com natureza gay: 10%. Como a demografia mundial indica, atualmente, 6 bilhões de habitantes em nosso globo, a estimativa de 600 milhões de homossexuais, feita por Eugênia, é não só acertada, como modesta.

4 Estudo recente revelou que 1/3 dos homossexuais tenta suicídio na adolescência. Eu não disse “pensa” em suicídio; afirmei: TENTA suicídio, o que dá uma ideia do desespero dos gays, em não se vendo com condições de cidadania e dignidade, no seio das comunidades, atassalhados pelos próprios familiares mais queridos, normalmente desde o nascimento.