Benjamin Teixeira
pelo
Espírito Eugênia.

Há um lúgubre espaço em seu coração. É onde não há esperança. O ponto, em sua alma, da desesperança e da treva é onde existe o argumento de que seus defeitos podem bloquear a Vontade de Deus a seu respeito.

Combata, vigorosamente, esse tipo de raciocínio. Deus não lhe permitiria ser como é, se não fosse possível realizar o bem, da exata forma como seu atual nível evolutivo lhe permite ser. Deve lutar por educar seus impulsos primitivos, deve pugnar por dar boa canalização ao que não é naturalmente construtivo, mas, em última análise, jamais perca de vista que, ainda que não consiga realizar o aprimoramento que almeja como ideal (uma frustração que, fatalmente, em uma medida maior ou menor, sofrerá), continuará com plenas condições de ser útil, talvez até de um modo mais humano e lúcido que se atingisse seus parâmetros de perfeição que, inclusive, podem nada condizer com a perfeição que Deus espera de você.

Aceite-se como é e, sem fazer força (forçar-se, diferentemente de esforçar-se, implica coação mental, que paralisa os delicados mecanismos da mente, ao passo que o segundo indica empenho e dedicação), mas se esforçando por seguir seu coração, dê o máximo de si, no sentido não de se controlar nos defeitos, mas de se devotar ao seu ideal, permitindo que o amor de Deus, por meio de seu serviço prestado aos semelhantes, cure-lhe as chagas morais, lave-lhe o espírito e o plenifique de virtudes genuínas: aquelas que o tornam mais apto a se fazer Canal do Altíssimo no mundo, que o fazem mais produtivo, criativo, útil ao bem comum. Tudo que fugir a esses parâmetros – esteja certo disso – não passa de preconceito dissimulado de moral, consumindo-lhe as forças em iniciativas improfícuas, para não dizer contraproducentes, desviando-o, sutilmente, da tarefa que o trouxe à encarnação.

Hoje é dia de importante reflexão. Risque, definitivamente, do quadro de suas especulações, a ideia de que será menos útil por causa de seus defeitos. Se quer bem saber como a escolha de missões são feitas, no Plano Superior, saiba que um dos elementos principais, para sua definição, são os traços negativos do indivíduo, que assim recebe encargos existenciais conforme a exata estrutura que lhe compõe o psiquismo. Como os pontos de negatividade são e continuarão sendo, por longas eras, uma das chaves-mestras do arcabouço de personalidade dos seres humanos da Terra, são, como não poderia deixar de ser, dos fatores mais considerados no momento de se estipular uma tarefa existencial para alguém.

O problema, assim, meu amigo, não está no defeito em si, mas no que se faz com ele. Se você converte seu ciúme em zelo nas atividades do bem, deverá agradecer a Deus por ter nascido com maior propensão ao ciúme que a maioria das pessoas. Se possui inveja em grau maior que o normal, e transforma-a em catapulta para sua realização pessoal, como um estímulo a perseguir suas metas mais subidas, que bom que a Divina Providência lhe tenha permitido preservar, provisoriamente, essa condição inferior da alma. Se sua vaidade lhe faz interessado em progredir sempre e fazer o máximo de bem que esteja em suas forças, bendita essa vaidade, que lhe traz pontos para o processo evolutivo.

No jogo psicológico da administração dos seus defeitos e da negociação com eles (quem se conhece bem sabe que certos aspectos da psique são tão fortes, que parecem ter vida própria, autonomia e vontade), não se pode esquecer disso: a negatividade não é para ser eliminada e sim alimentada. Explico: a corrente elétrica flui do positivo para o negativo. E, não fora isso, não teríamos a energia tão útil para tantas funções. O mesmo se pode dizer dos elementos daninhos da personalidade e do caráter. Será por meio de sua utilização consciente que se encontrará as mais poderosas fontes de vitalidade, ânimo e poder criativo e transformador, como o esterco, composto de material putrefacto, mas que serve de adubo à lavoura. Esconder a parte da tomada que corresponde ao pólo negativo não traz benefício a ninguém. É justamente o que acontece com aqueles que se esmeram por esconder de si os traços menos felizes de sua natureza. Melhor reconhecê-los, para geri-los e utilizá-los construtivamente. Não fazê-lo pode, no melhor das hipóteses, trazer frustração, tédio, desânimo, depressão, falta de alegria e vontade de viver, pelo fato elementar de se ter bloqueado o fluxo da energia vital na psique. E, no pior, pode-se imaginar o que poderá acontecer com o incauto que se reprime, ao visualizarmos, como alegoria para nosso estudo, em vez de uma tomada elétrica, uma caldeira fervente e sem vazadouros, em temperatura crescente e pressão cumulativa, cuja pressão, que seria benéfica se usada corretamente, está a ponto de fazer aos ares toda a indústria a que deveria servir, fornecendo força e atividade produtiva.

Cuidado com puritanismos, falsos moralismos, que afastam da trilha da verdade. O que importa não é lutar contra defeitos, na pretensão implícita de não os ter, o que seria presunção, orgulho, cegueira espiritual, a perda de senso da realidade – os piores tipos de defeito, ironicamente. Na condição humana, sempre teremos falhas de caráter e personalidade, tão mais perigosas quanto mais sutis. Em vez de se combater o mal – o que o reforça, como tão bem afirmam os maiores estudiosos em psicologia de profundidade de hoje – deve-se concentrar a mente em fazer o bem, que nos redime, paulatinamente, fazendo-nos avançar em direção à Luz Divina. O desafio evolutivo pode estar em sentido contrário ao que supõe. O preconceito e os falsos princípios são tão ou mais danosos que a rendição ao mal. Dê utilidade ao que é desagradável em si, tanto quanto o faz com seus aspectos mais felizes de personalidade. Faça render ao bem comum tudo que seria descartável e sujo. Faça nascer o lírio do pântano lodoso e pútrido.

Lembre-se, mais uma vez, de que não é no defeito ou na virtude que residem, de fato, o mal e o bem, mas sim nas aplicações que se lhes fazem. A inteligência, aspecto intrinsecamente positivo do ser, pode ser usada como fonte de miséria e horror. A agressividade pode ser canalizada para alavancar obras de amor e de progresso. O positivo e o negativo são apenas pólos da corrente de energia. É o uso que se faz dela que a qualifica. Não se preocupe com o que é positivo ou negativo, e sim em ser construtivo com o uso da força que surge da união das duas extremidades psico-polares.

Veja onde realmente está o canto da sereia. Você se surpreenderia ao saber da opinião dos anjos a respeito de bem e moral. Para simplificar, todavia, fiquemos com a baliza lapidar do Cristo de Deus, ao nos asseverar: Conhece-se a árvore pelos frutos. Se o fruto é bom, a árvore é boa. Se não é, a árvore não pode ser boa.

(Texto recebido em 14 de dezembro de 2000.)