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Não vou falar de partidos políticos, figuras públicas específicas ou eventos escandalosos superexpostos na mídia. Falarei sobre um perigoso pano de fundo psicológico e social a que não se tem dado a devida atenção.
O país está, provavelmente como nunca antes em sua história, abarrotado dos que denomino “profetas do apocalipse”. Posam de inteligentes e informados, repetem-se reciprocamente, acrescentando pouca coisa ao que ouvem e leem uns dos outros, mas sempre piorando o quadro que passam adiante.
São simplistas e superficiais, divulgam obviedades como se revelassem assunto novo. Para eles, tudo vai de mal a pior. À guisa de urubus do coração e do intelecto, perseguem as lixeiras morais da sociedade, para confirmarem suas teses sombrias. Conforme reza a máxima de origem crística “quem procura acha”, os aficionados do catastrofismo histérico encontram o que buscam, embora descambem para as hipérboles com que tratam os temas problemáticos, desfocando-os de contextos mais amplos. Desconsideram, sobremaneira, as circunstâncias tecnológicas da atualidade, que desmascaram parte expressiva das hipocrisias mais crassas, generalizadas não só hoje, como pretendem dar a entender, mas em gerações recentes e em todas as que as antecederam, no seio do poder público.
Sou muito otimista em relação ao futuro do Brasil. Mas não tenho expectativas de curto prazo. A visão imediatista e de horizonte temporal estreito é típica dos míopes da inteligência e da cultura, ou de quem esteja motivado por intenções pessoais ou de grupo menos dignas, como querer ver o “circo” das instituições pegar fogo…
Meu otimismo é baseado numa perspectiva de médio e longo prazos. Em décadas, e não em anos, é que se ajuíza o valor de um indivíduo, que se dirá de um país!… O Brasil de hoje é muito superior, em todos os sentidos, ao que conheci há 30 anos, na adolescência, e seria uma piada de mau gosto compará-lo à Pátria do Cruzeiro de 60 anos passados. E falo em termos relativos ao progresso das nações.
Uma estranha hipnose de pessimismo pervaga o país, a despeito de não se poder negar que há muitas questões a serem resolvidas, incluindo problemas novos. Todavia, a evolução é clara. O que antes se podia fazer às ocultas, impunemente, agora é amiúde registrado em vídeo ou áudio; correspondências eletrônicas são interceptadas… e, dessarte, muitas fraudes e ilícitos de variada monta vêm a público! Portanto, há razões sobejas para celebrarmos, em lugar do que ouvimos: um alardear de desesperança aos quatro ventos. Estamos no caminho para muitas soluções antes inimagináveis, e não da derrocada total de uma nação! Não se percebe algo de histrião nessa esquisita forma de concluir raciocínios sobre o futuro do Brasil, que se alastra como uma epidemia psíquica, há um bom tempo?…
Concordarão comigo pessoas informadas, que tenham um mínimo de perspicácia e estejam empenhadas em manter isenção em meio a esse transtorno coletivo nacional, que paulatinamente se agrava nos últimos anos. Lembra-me, respeitadas as devidas proporções, mas o suficiente para gerar certa preocupação, o surto coletivo que tomou conta de uma das mais cultas nações da Europa, então governada por um espécime brilhante desses a quem chamo “profetas do apocalipse”. Aludo à Alemanha nazista e a seu führer: Adolf Hitler…
Para Hitler e seus seguidores, contados às dezenas de milhões, tudo ia de mal a pior, e sua caça por bodes expiatórios e explicações doutrinárias sobre política e economia levaram o mundo civilizado à beira do abismo.
Nossos estafetas do pessimismo contumaz não são tão brilhantes nem tão perversos como Hitler (espero não estar sendo demasiado otimista), nem o mundo vai periclitar tanto se o Brasil afundar. Mas temos que tomar cuidado com essa atitude pseudolúcida, vício muito enraizado na cultura pátria, de presumir que ser inteligente é enxergar o mal e a desgraça em tudo, rapidamente “descobrindo” e perseguindo grupos tidos como responsáveis pelo mal que supomos divisar ou de fato nos aflija. Os judeus residentes na Alemanha (entre outras categorias discriminadas) ao tempo do autor de “Mein Kampf” sofreram o horror da perseguição genocida, vítimas do bem conhecido fenômeno da projeção psicológica, da caça às bruxas de todas as épocas e culturas, invariavelmente com consequências trágicas, em escalas diversas.
Meu temor é que, se não temos um gênio do mal como Hitler, nem nossa situação brasileira atual tem qualquer nível de comparação com a do povo alemão entre as duas Grandes Guerras mundiais, as vozes que se somam a gritar o “fim do mundo” para o Brasil multiplicam-se aos milhões, de maneira muito semelhante ao que se dava há 80 anos na Europa, dos botequins aos mais requintados escalões dos formadores de opinião pública, do seio dos lares às academias e oficinas de estudo e trabalho, dos canais de TV às redes sociais, como se todos estivessem fascinados por pesadelos indefiníveis de desesperança, com os olhos obnubilados, à plena luz do dia!…
Precisamos realmente acordar! Urgentemente!…
Benjamin Teixeira de Aguiar (e Amigos Espirituais)
21 de janeiro de 2016