Benjamin Teixeira
pelo espírito Gustavo Henrique.
Quero contar uma história diferente hoje. Quero contar uma história de miséria, de horror, para ajudar nossos coevos encarnados a valorizar o que têm e que julgam pouco.
Há muito tempo atrás, uma jovem camponesa de 18 anos aproximados casou-se com um senhor de terras. Era jovem, era bonito, era rico, era um bom esposo. Mas ela vivia triste. Não era a rainha do país. Aos 25 anos enviuvou e, com as posses gigantescas que tinha, foi para a corte de seu país, com propósito deliberado de realizar o sonho que, supunha, trar-lhe-ia a felicidade. E eis que, bafejada pela “sorte”, o jovem herdeiro do trono por ela se enamora, vindo ela a se consorciar com a majestade de sua nação. Rainha feita, desfeito o deslumbramento dos minutos primeiros de sonho, lá estava ela, agora, ensimesmada novamente: não era a rainha do reino mais importante da Terra. Havia outros, maiores e mais poderosos, e ela invejava as rainhas daqueles países, mais poderosas que ela.
Cinco anos depois a jovem primeira-dama morreu. O médico da realeza, à época, apesar dos parcos recursos científicos disponíveis então, num lampejo acertado de intuição, diagnosticou-lhe a doença: a rainha morrera de tristeza… De tristeza por ser rainha, mas não ser a rainha mais importante do mundo…
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Há reis e rainhas desfilando pelo mundo, em grande número, ainda hoje, como demônios incontentáveis, tudo querendo ser e ter, para apenas voltar a se atormentar, invejando o que supõem lhes faltar. Fazem regressão de memória, e se vêm como majestades, aristocratas e grandes figuras do passado, quando seus inconscientes lhes alerta, na verdade, que devem parar de supor serem isso hoje, quando nem sequer foram no passado, em sua esmagadora maioria.
Há reis apatetados e rainhas imbecilizadas, depois, muito tempo depois de as monarquias absolutistas terem sido varridas do planeta, como uma poeira histórica indevida.
Pense, prezado(a) amigo(a), se você não é um rei ou uma rainha, nesse sentido psicológico. Há tanto por se sentir grato… Os recursos da ciência, da tecnologia, das benesses materiais. O Direito, a democracia, a oportunidade de ascensão social e profissional. A liberdade de falar, agir, ser e fazer. O ensejo de crescer e de ser feliz, sem preconceitos, livre de dogmas, de censuras ou de fiscais da polícia, do governo ou da religião. Os amigos, os familiares, os colegas de trabalho… toda a humanidade para amar…
Ah… amigo, pense no carro ou no transporte coletivo que lhe premiam os pés preguiçosos, enquanto, num passado remoto, os seres humanos caminhavam de pés descalços e fronde ao sol, sem muitas vezes o recurso do farnel ou mesmo de um cantil de água.
Pense nas universidades, nas liberdades sexuais, no direito ao voto, e recorde-se dos tempos não tão longínquos, de horror, de repressão, de castração.
Ó, amigo, cuidado com a ingratidão, porque, de tanto reclamar, talvez a Divina Providência lhe atenda ao apelo e lance-o num mundo primitivo, onde realmente tenha do que tanto se lamuriar, até que, um dia, tenha condições psicológicas de viver num mundo feliz, usufruindo-lhe os benefícios, sem contaminar a psicosfera daqueles que realmente os merecem.
Mude seu padrão de consciência, seu estado de espírito, enquanto é tempo. Ou o Senhor mudá-lo-á de lugar, em atendimento à sua súplica indireta, para que possa justamente reclamar.
Seja otimista, exercite a esperança e a alegria. Ou a tristeza de seu coração transbordará para fora, numa realidade trágica, infeliz, realmente infernal.
(Texto recebido em 14 de setembro de 2002.)