Benjamin Teixeira
pelo espírito Gustavo Henrique.
Olhe o ar à sua volta.
Percebe miríades de bichinhos horrendos, quais monstros microscópicos, flutuando no ar?
Sim, sei. Claro que não. Mas duvida que existam micro-organismos, aqueles mesmos que causam a gripe e o resfriado e uma série de outras doenças, apenas porque seus olhos não lhe alcançam o espectro diminuto de dimensão?
Respire fundo… Ah… o gás vital…
Mas e o que você pode fazer para tocar, apalpar, ver e observar o oxigênio que lhe sustenta a vida?
Sim, eu também sei. Você não tem como fazê-lo.
Mas seria sensato duvidar de sua existência, apenas porque você não pode manuseá-lo como uma massa de pão?
Agora, passeie a mão pelo ar em torno. Percebe algumas vibrações eletromagnéticas?
Não? Pois é. Mas são pequenas ondas eletromagnéticas que viabilizam as transmissões de rádio e televisão que se entrecruzam na atmosfera à sua volta. E, é claro, como pessoa informada, sabe que elas existem.
Mas, pelo fato de não as sentir com o próprio tato, significa que não existam?
Bem, e quanto à Economia? Jornais, revistas, a mídia em peso fala maciçamente sobre o assunto. Cotação do dólar, ações, títulos, tributos.
Todavia, de fato, você já tocou na Economia, já a examinou de perto?
E quanto ao dinheiro? Não falo da cédula de papel ou em moedas, porque ambas são formas de titulação, de representação de valores. Onde estão esses valores? Como tê-los? Hoje, então, em particular, quando bilhões, trilhões de dólares podem migrar, instantaneamente, num átimo de segundo, de um país para outro, quebrando nações e povos, como diria que algo apesar de tão evanescente não é real?
Ah… Você supõe que estejam nas propriedades, nas grandes indústrias, no visível e tangível da Economia? Se alguém disser algo do gênero, como sabe, está dando provas de não conhecer quase nada de mercados financeiros e das complexas interações econômicas que hoje se dão entre bolsas de valores do mundo inteiro, sobre a terceira força dos serviços e mais ainda, sobre a quarta força da informação, completamente intangível, e que pode catapultar um povo e um indivíduo ao pináculo do sucesso, atraindo todos os recursos materiais e físicos para si. Não perceber essa dimensão abstrata e transcendente da Economia, equivaleria a ser um fisiocrata do século XVIII, que menoscabava o valor do comércio e da indústria (a segunda força da economia), já que somente a terra e seus recursos: a agropecuária e o extrativismo mineral seriam as fontes das verdadeiras riquezas.
E o que dizer do amor por seus filhos, por seus pais ou seu cônjuge? Teria como prová-lo, materializa-lo ou fazê-lo visível ou submeter a qualquer mecanismo de medição? E, no entanto, duvida de sua existência? Alguém pode estar deprimido e ainda assim amar seus filhos. Portanto, o amor não está nos neurotransmissores nem em nenhum outro departamento da bioquímica cerebral. Portanto, quem pretenda aí encontrar uma base para sua existência, está cogitando asneiras.
Bem, amigo, eis o que acontece conosco, seres inteligentes que habitamos uma dimensão de ser diferente da esfera grosseiramente física, mas nem por isso menos real, assim como acontece às realidades anteriores que acabamos de enumerar. À medida que o ser humano evolui, junto com sua massa cerebral, sua profundidade mental e abrangência cognitiva, mais condições tem de gravitar em esferas de complexidade e abstração progressiva, assim acessando, com sua psique desenvolvia, dimensões de ser acima das percepções rudimentares dos sentidos físicos. Negar nossa existência é revelar, por isso, pobreza de inteligência, que nos cabe respeitar, até que o negador amadureça e consiga apreender, com sua mente, nosso nível de existência, assim como o fisiocrata oitocentista precisou sofrer o malogro da história, para, reencarnado hoje, poder ser um financista experiente.
Dizer que não existimos porque não atendemos ao capricho de quem seja, para “provar” nossa existência, seria o equivalente a pedir que a Economia mostre sua força eliminando a pobreza da África. Todos sabemos que isso não acontece porque fortes interesses organizados, de valor duvidoso, opõem-se a tal proposta idílica. Equivaleria, também, a alguém querer provar não existirem os micróbios por andar descalço e não lavar as mãos antes de comer e, saudável e forte, não contraindo nenhuma enfermidade grave de imediato, julgar-se eximido de “crer” no que não se trata de artigo de fé, mas de informação.
O mesmo, em maior medida, acontece de cá. Não é função dos grandes mentores do mundo maior estarem se submetendo a “testes” e “provas” dos encarnados, assim como um catedrático de Sorbone não está preocupado em convencer um adolescente de seu valor acadêmico. Mais que isso: ainda que uma Autoridade Angélica estivesse movida de piedade, essa piedade reveste-se, antes de tudo, de sabedoria, cônscia de que, amiúde, a ausência de “sinais” (leia-se: sinais que o indivíduo quer, porque a vida é cheia de bênçãos e graças, por todos os lados para quem quer ver) é o melhor caminho para que o indivíduo desenvolva seu discernimento, na direção da verdadeira maturidade psicológica e moral, que sabe entrever fenômenos complexos e processos extraordinários, nas dobradiças dos acontecimentos mais rasteiros e banais do cotidiano.
Assim, amigo, quando duvidar da existência de nós desencarnados, esteja certo que às vezes estaremos rindo gostosamente, outras tantas nos compadecendo profundamente de sua miséria, pelas implicações negativas que tal raciocínio terá sobre sua própria vida e você mesmo, em termos de desesperança e angústia, nos momentos críticos em particular.
Pense, com frieza e lógica. Estude o fenômeno com cuidado, e, assim como o jovem que estuda longamente para poder manejar adequadamente o microscópio e “ver” ele mesmo a flora microbiana, também você terá recursos de “ver” os espíritos alojados na dimensão extra-física de Vida, tão ou mais vivos que você, escravizado a esse abafador de sensações e percepções de que se constitui o corpo físico.
Existimos? Mude a pergunta: Você existe? Por que, de nossa perspectiva, seria mais sensato indagar: ante tanta bestialidade e estupidez do ser humano, será que existimos realmente, como seres pensantes e lúcidos, quando mergulhados na massa lodosa da carne?
(Texto recebido em 19 de setembro de 2002.)