Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Querida filha:

Você é mulher: é canal de Deus para o amor.
Tenha paciência com o homem primitivo que tem ao seu lado.
Na Terra, por muito tempo ainda, o homem estará em posição de desvantagem evolutiva, em relação a nós, representantes do gênero feminino da espécie, no que tange a desenvolvimento espiritual. Claro que há, neste particular, exceções; e nos devem ser honradas. Mas falamos aqui de padrão médio, o que é indiscutível.

Impacientes, intempestivos, agressivos, pouco sensíveis às necessidades dos outros, são, com freqüência, entrementes, grandes corações devotados, tão nobres quanto rudes. Perdoe-lhes, assim, a rudeza primal. São como a ostra que encerra a pérola, no fundo do mar. Cabe-nos, em vez de esbravejar contra as águas de inconsciência que lhes encobrem o valor, buscar, com o cuidado e a percuciência que só o amor confere, entrever-lhes as qualidades ocultas, valorizando-as, ativando-as, potencializando-as, trazendo-as à tona.

Assim, prezada companheira, quando for reclamar por mais e melhor de seu cônjuge, namorado, irmão, amigo ou filho, colega, chefe ou subalterno, pense antes algumas vezes: ele é homem, pobre coitado… e, assim, traz a sina de estar entre a besta e o anjo, mais do que nós, mulheres, que, além de portarmos mais longa experiência de sofrimento e renúncia, no correr dos séculos, ainda detemos um corpo menos dotado de hormônios e elementos psíquicos “animalizantes”, digamos assim.

A testosterona, por exemplo, em quantidade enormemente superior em seus corpos, apenas para citar um detalhe bioquímico, faz nossos companheiros masculinos mais hostis, sexuais e irreflexivos. Enquanto choramos e falamos, quando em crise, eles são inclinados a explodir em fúria e atacar fisicamente os eventuais agressores. Enquanto pensamos em amor e ternura, amiúde têm eles o cérebro povoado de idéias concupiscentes e obscenas, possuídos, pobrezinhos, por impulsos fisiológicos imperiosos que os bestializa. A própria compleição física do homem revela muito do que vai em seu cérebro: mais músculos, estrutura óssea avantajada e sólida, pelos espalhados pelo corpo, voz grave e cheia. Típicos espécimes programados para campos de batalha, para um tempo que já se foi ou que se vai rápido, na História da Humanidade. Nossos corpos, por outro lado, com mãos delicadas e pacientes, e toda uma estrutura neurofisiológica programada para as relações interpessoais, parecem ter sido amoldados, com perfeição, para a era da informação, das artes, dos serviços e da religião, que raia agora para a humanidade, na crescente civilização pós-industrial. Não por acaso os presídios estão abarrotados de homens, as maiores tragédias humanas tiveram neles sua autoria e as mulheres se acumulam em igrejas, bem como em centros de solidariedade e espiritualidade.

Claro que tais colocações não os exime dos excessos cometidos, do descaso, das traições e da falta de afeto e responsabilidade. Mas, querida irmã, tomar essa perspectiva é não só uma questão de caridade cristã, por reconhecer neles irmãos menos evoluídos na senda do progresso espiritual, assim como faríamos a uma criança, como até constitui uma questão de lógica e de bom senso, ante um fato – esse déficit espiritual de nossos parceiros humanos – indiscutivelmente comprovado na prática.

Você, cara irmã, pode tomar caminhos diversos, preferindo a política da “liberação”, como se os homens tivessem uma vantagem sobre nós, ao serem mais selváticos em seu comportamento sexual, ou aderir à filosofia da igualdade de direitos, no sentido de fazer barulho e gritar em casa e no mundo profissional, no mesmo volume dos nossos companheiros menos sutis e refinados. Mas será mesmo que essa seria a melhor saída para todos? Será que ganhamos alguma coisa com essa atitude irrefletida de nivelamento pelo pior? Não foram justamente esses abusos de intempestividade animal-infantil que conduziram a humanidade à beira do colapso e da auto-destruição que ora vivenciamos, com graves danos impostos aos ecossistemas e com riscos sérios gerados pelo fanatismo machista do Oriente Médio, cheio de homens hirsutos sequiosos de consumir a Terra no fogo do “juízo final”, com suas bombas biológicas e nucleares de fundo de quintal?

Prezada irmã, somos chamadas, hoje, a renovar os panoramas da Terra. Não somos nós que temos que nos igualar aos homens em suas deficiências, mas eles que devem aprender a ceder, a compreender, a sentir e a intuir, a amar e a perdoar, como nós, ou todos iremos parar na mesma vala de desgraça e sofrimento.

Claro que não podemos e nem devemos tolerar abusos, mas, à guisa de nos modernizar e nos defender de injustiças, não nos convertamos nós mesmas em simulacros patéticos de homens de saias, dispostas a tomar a tapa e socos um espaço que só com amor, inteligência e sabedoria, poderemos conquistar definitiva e verdadeiramente, num mundo em que a razão, mais que a força bruta, deve reger todas as relações e interesses.

(Texto recebido em 24 de setembro de 2002.)