A imprensa nacional e diversos veículos de comunicação – inclusive as redes sociais na internet – publicaram, com justos estardalhaço e horror, a notícia de que 30 homens estupraram uma mulher. Faria uma correção à notícia: havia uma mulher na cena narrada, mas nenhum homem. De conformidade com as percepções, valores e sentimentos de cada observador(a), havia trinta pulhas, escroques, moleques, covardes, criminosos, monstros (em minha opinião, uma conjunção de todas essas facetas dementes e degradadas da masculinidade, em graus variados), mas, definitivamente, reitero, em letras garrafais: NENHUM homem!…

Um único homem autêntico houvesse na cena do crime, e teria se exposto a risco de morte, se necessário, para defender a vítima, ou, se fosse mais calculista, ególatra ou menos digno, far-se-ia ausente, de imediato (logo as intenções dos demais se definissem com clareza), para acionar a polícia à distância. Todavia, jamais, realmente jamais presenciaria em silêncio, mesmo que “sem participar” do ato indefensável, abominável e horripilante de abusar de uma mulher indefesa, de modo tão cruel e selvagem.

Em seus impulsos originais mais puros, o homem é um zelador, um protetor, um guardião. É um pai, um irmão, um amigo, um filho, até um esposo ou um amante, que é parceiro e não violador de sua consorte ou amada… NUNCA um estuprador!

É uma vergonha, para todo o gênero masculino da humanidade, uma ocorrência horrenda como essa. Depõe contra toda a “classe” dos homens. Leva as mulheres mais feridas e traumatizadas – que não são poucas, em termos relativos e absolutos – a generalizar a opinião sobre os integrantes masculinos da espécie.

Um homem – e o masculino, num prisma mais abrangente – tem suas feições psicológicas saudáveis e atribuições morais nobres fortemente vinculadas ao arquétipo do guerreiro do bem, do anjo de guarda, que se põe entre o perigo e seus(suas) tutelados(as), a fim de que nada de mal lhes aconteça, com custo, se preciso for, ampliando o que dissemos acima, da própria comodidade, incolumidade física e mesmo sua vida no corpo de carne.

O ato hediondo alardeado na mídia está abaixo do nível animal de manifestação do macho, que instintivamente reconhece limites ao copular com a fêmea de sua espécie. A ação ominosa desceu à plana rasteira do mais vil, abjeto e repulsivo uso da “razão” humana, deploravelmente colocada a serviço de impulsos de autoritarismo covarde e desgoverno bestial – por isso, merecedor de todo repúdio individual e coletivo.

É essa mesma cultura do estupro que tem se voltado contra mulheres em posições de poder no mundo profissional, acadêmico, artístico e político, contra homossexuais e transgêneros(as) – o uso livre e constante das flexões ao feminino aqui é proposital, por motivos óbvios –, de quem se pretende furtar até mesmo o Amor de Deus(!)… sacrilégio dos sacrilégios.

“Raça de víboras” – asseverou Jesus, dirigindo-Se a religiosos e autoridades do patriarcado da época, opressores de mulheres e todas as minorias. E concluiu, em tom enfático: “Até quando estarei convosco, até quando vos hei de aturar!…” Até o Nome Sagrado do Mestre tem sido utilizado, de modo blasfemo, século sobre século, para tiranizar e perseguir grupos minoritários. Ai daqueles que assim agem, não importando o quanto se sintam protegidos por suas doutrinas demoníacas e seus tradicionais impérios do mal, em forma de religião organizada, o mesmo establishment patriarcal que foi tão ferrenhamente apontado como hipócrita, pelo Próprio Cristo Voz da Verdade, e que também foi responsável por Sua Morte ignominiosa, na Simbólica Cruz de sacrifício de nossa milenarmente torturada imanência divinal!…

A propósito, no próximo dia 30 de maio, celebra-se o aniversário de desencarne de um gênio do Plano Sublime de Vida, por execução de pena capital que o mortificou nas chamas da fogueira execrável do ódio contra a diferença – sentença esta decretada por uma assembleia exclusiva de homens, ditos cultos e religiosos. Um general que veio salvar uma pátria da desagregação de seus patrimônios culturais e da dizimação contumaz de seus contingentes populacionais, atuando em pleno campo de batalha, mas extraordinariamente sem jamais empunhar uma arma. Só que esse grande gênio militar retornou ao proscênio das lutas carnais em corpo de menina-moça! Corajosa e determinada como nenhum homem de seu tempo, assumia publicamente ouvir vozes do Mais Alto e ainda exigia travestir-se de soldado, numa época em que a realidade mediúnica era demonizada e em que até mesmo o conceito de homossexualidade era difuso, quanto mais o de transgeneridade, ainda hoje motivo de acerba controvérsia nos meios acadêmicos de psicologia e psiquiatria. Aludimos a Joana d’Arc, que desdobrou sua campanha epopeica entre apenas 14 e 17 anos, revertendo a rota da famigerada Guerra dos Cem Anos, sendo consumida pelas labaredas da perversidade humana aos tão só 19 de idade, no ano de 1431.

Que as fogueiras do ódio contra a Feminilidade sejam extintas, quanto antes, porque é esse mesmo ódio que leva o homem a submeter e explorar os recursos ecológicos, sem responsabilidade e consciência, como se a Natureza e suas riquezas limitadas fossem uma fêmea submissa a ser violada ao bel-prazer do predador com cérebro pretensamente humano!… Esse mesmo ódio compele, de modo igualmente irracional e desumano, nações e classes consideradas superiores a espoliarem países e comunidades menos favorecidos e amiúde, como a moça do estupro, indefesos, que lhes deveriam cobrar das consciências letárgicas a tutela e não a exploração!… O mesmo ódio que fomenta o confronto entre duas forças masculinas tirânicas na civilização contemporânea: a cultura pós-moderna do consumo e a cultura islâmica radical, ameaçando precipitar-nos num embate apocalíptico, logo que tecnologias bélicas mais sofisticadas, como a nuclear, cheguem às mãos dos mais agressivos e violentos.

Este mesmo vetor cultural e psíquico, outrossim, faz com que, todo ano, milhares de adolescentes e adultos da comunidade LGBT sejam vítimas não só da violência física e verbal de terceiros, mas também sofram o colapso total de suas psiques, em uma onda contínua de suicídios, por ataques sistemáticos e profundos ao seu senso de dignidade e até mesmo ao seu direito a existirem, não raro por parte daqueles próprios que deveriam ser seus protetores-cuidadores mais amorosos: familiares e orientadores religiosos… Horror dos horrores, em relação a estes últimos, que se baseiam, com sua política infernal, em interpretações literais, deturpadas, injustas e irresponsáveis de textos sagrados, para oprimirem e condenarem almas já tão martirizadas pela discriminação, invocando, hereticamente, o Nome do maior libertário e defensor de minorias da história da humanidade na Terra: Nosso Mestre e Senhor Jesus!

Chegou o momento de enxergarmos mais profundamente o problema da crise contemporânea. Se nos detivermos numa análise rasa e isolada de eventos, combatendo-os um a um, jamais alcançaremos a raiz etiológica do turbilhão geral que atravessamos. Precisamos reverenciar a Feminilidade, dentro e fora de nós, no nosso nível evolutivo e acima do estágio hominal de consciência, porquanto Deus-Pai é também Deusa-Mãe… Deus é Absoluto, está além de toda definição dicotomizadora e mutilante, tão ao gosto de nossas limitadas, perversas e pervertidas mentes humanas.

Se atacamos a questão por partes e na superfície, mantendo suas forças motrizes ativas, de uma forma ou de outra elas serão intensificadas, pela repressão temporária e parcial, qual a Hidra de Lerna, da mitologia grega, o dragão que gerava duas outras cabeças, a cada vez que uma das suas três originais eram decapitadas… E tais forças inexoravelmente voltarão à tona dos acontecimentos escandalosos, como já vemos a eclosão chocante de sua verve sinistra e diabólica, na fala de políticos que publicamente defendem e aclamam a tortura, o golpe de Estado e a morte em massa de pessoas, com o extremamente bizarro apoio – para utilizar um verbete suave – de uma fatia, ainda que pouco significativa, da população brasileira!…

É hora de sermos mais humanos verdadeiramente, celebrando, honrando e dignificando a Feminilidade, a começar de sua expressão mais clara, materializada aos nossos olhos: nossas irmãs do sexo feminino, ou aquelas que, mesmo tendo nascido em corpos de homens, identificam-se com o gênero feminil da espécie – as mulheres trans!…

E, então, depois desse piso fundamental de respeito e consciência, poderemos valorizar e potencializar a Feminilidade no âmago de nós mesmos(as), com todos os atributos que lhe são diretos corolários: a sensibilidade, a intuição, o espírito de comunidade, a integração com nossa própria pouco reconhecida transcendentalidade…

Agindo assim, persistente, ampla e profundamente, propiciar-nos-emos, enfim, a vitória sobre a apocalíptica besta antiCristo que bufa e grunhe, macabra e ameaçadora, em torno de nossos passos, com suas várias cabeças: o preconceito, a tirania, a opressão, a maldade e quaisquer manifestações de desamor contra os semelhantes, grupos menos favorecidos e nossos próprios aspectos interiores menos valorizados… Em suma, uma vitória contra o dragão do horror, que devora, dentro e fora de cada criatura, o potencial ao amor, à liberdade, à Espiritualidade autêntica… e, portanto, igualmente, à felicidade!…

Benjamim Teixeira de Aguiar e Amigos(as) Espirituais
Aracaju/SE, 28 de maio de 2016


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