As-Duas-Humanidades

Atualmente, no âmbito físico da Terra, há duas humanidades, dentre as três existentes no Universo – incluindo o plano espiritual de nosso orbe. Noutras palavras: três grupos taxonômicos, por assim dizer, ou três grandes categorias evolutivas de espíritos que podem aportar no organismo humano de carne, dentro do domínio hominal de consciência.

No amplo espectro de cada uma dessas faixas evolutivas, contam-se escalas inumeráveis de desenvolvimento. Mas há algo como que uma “ruptura”, um “hiato” ou um “salto quântico” entre elas, que as distingue entre si de modo claramente perceptível, assim como existem divisões nítidas entre as famílias de seres vivos, quais as que separam, por exemplo, anfíbios, répteis e mamíferos.

À guisa de compreensão didática, conforme o que nos foi autorizado trazer a lume, neste particular, podemos dividir esses três grandes grupos em: (1) humanidade geral, (2) humanidade desenvolvida e (3) humanidade crística.

Já reencarnaram na superfície do planeta, em circunstâncias especialíssimas, Espíritos da terceira e mais sublime categoria, aquela a que pertencia Jesus-Cristo, Sidarta-Gautama-Buda ou Maria-Cristo, mas isso aconteceu em momentos históricos raríssimos. Século sobre século, são as duas outras humanidades – a geral e a desenvolvida – que convivem entre si, no plano da matéria densa, só que em percentuais incrivelmente desproporcionais. Não temos permissão a falar da exata porcentagem de almas mais velhas reencarnadas no globo, em relação ao vasto conglomerado pouco amadurecido, mas a ordem da cifra está bem além da direita da vírgula decimal.

Os integrantes da humanidade desenvolvida são seres humanos, sim, com limitações, paixões e fraquezas. Contudo, é tão diversa a forma de eles caírem ou triunfarem (e não podemos igualmente aqui nos ater neste pormenor), que suas características justificam essa classificação diferente, sobremaneira pelo seu imenso potencial de serviço à espécie humana.

Sejam gênios da ciência ou das artes, filantropos nas religiões ou no mundo social, estadistas legendários ou paranormais incomuns, eles se revelam em seu olhar, sua atitude e, mormente, em sua vida e obra, que os encarapitam numa classe que poderíamos nominar de “os maiores beneméritos da humanidade”.

Não se submetem a convenções sociais, sendo ou não militantes de sua visão progressista; não se castram por influências culturais, tampouco por definições genéticas – que eles mesmos selecionam ou alteram ao reencarnar, de acordo com seu planejamento existencial. A título de ilustração, o percentual de heterossexuais, bissexuais, homossexuais e assexuais é distribuído de modo equitativo entre eles, com pequena predominância para a bissexualidade. Ou seja: as determinações animais à reprodução da espécie não os sujeitam, e sim as naturais afinidades psíquicas para a fertilização mental, em função das grandes realizações em prol do bem comum que os propelem.

Sempre se intuiu que havia esses patamares evolutivos, o que lamentavelmente fomentou a introdução de graves equívocos no seio das sociedades, a partir de uma má interpretação dessa realidade. Assim, como muitos deles desceram ao proscênio carnal para servir largamente e, amiúde, para liderar povos inteiros, rumo a níveis mais altos de maturidade intelecto-moral, criou-se a ideia de “classe privilegiada”, seja por direito de nascimento ou por posição socioeconômica, desde a política de castas na Índia, passando pelos horrores da concepção de “famílias reais” ou de “aristocracia”, até os delírios das “monarquias absolutas”, incluindo teocracias e reis deificados em vida, no Egito, na Mesopotâmia, na Roma Antiga. Tal deturpação da realidade, entrementes, nada tem a ver com a realidade espiritual em si.

Homens e mulheres da humanidade desenvolvida, em verdade, são representantes, no plano material de existência, de faixas mais elevadas de consciência. Indivíduos da humanidade geral devem, quanto possível, procurar aprender com tais personalidades que não precisam ser alertadas sobre este tópico: sabem quem são e já cumprem seu papel, no concerto das comunidades em que se inserem, para servir e/ou conduzir multidões.

Não se trata de acreditar ou não acreditar, muito menos de desejar ser superior, porque o ego não entra nesse campo de ascendência espiritual. Uma criança não pode se tornar um adulto, de imediato, apenas por força de uma determinação pessoal muito forte ou por mobilização do “infinito potencial humano” – a própria dinamização desse potencial obedece a indefectíveis leis evolutivas. Há, sim, como ascender socialmente e conquistar destaque, pelo simples prazer do prestígio, em diversas áreas de atuação, mas não sem enormes prejuízos para quem assim age e para aqueles que lhe sofrem a influência. Componentes da humanidade geral que se deixam arrastar por esses impulsos primários, ainda que eventualmente dotados de bastante inteligência (e muito ego), não são aptos a liderar, de forma consciente e justa, grandes massas humanas, quando não conseguem, de ordinário, nem mesmo se posicionar com a lucidez devida em funções delicadas como a criação artística, científica ou cultural de vulto.

Reforçamos: não há nada de ruim em pertencer à humanidade geral, como nada há de errado em estagiar ainda na faixa etária da infância. Numa escola, para benefício das próprias crianças, é importante que elas estejam restritas às funções de alunos. Entre os adultos, há os professores, diretores do educandário, seguranças e profissionais da administração escolar, todos devendo ter ascendência na estrutura organizacional da instituição de ensino, em relação aos pequenos educandos. A metáfora, no entanto, não dá ideia clara do que ocorre no domínio real dos três grandes subgrupos evolutivos humanos, porquanto a percepção dessa matriz de organização espiritual é comumente ofuscada pelo exercício do livre-arbítrio (delegação divina inalienável) dos indivíduos, bem como pelo sentido (muito salutar) de igualdade fundamental entre todas as criaturas, característico das sociedades democráticas hodiernas.

Espíritos à frente, mesmo encapsulados em corpos físicos, não estão preocupados em ser mais adiantados, muito menos em parecer sê-lo. Apenas têm consciência dessa sua condição, com vistas a melhor desincumbirem-se de suas responsabilidades. Voltando à analogia do estabelecimento de ensino infantil, seria bizarra a imagem de um(a) professor(a) que, ignorando seu dever entre os jovens, se imiscuísse nas brincadeiras infantis e abandonasse o método pedagógico e o programa curricular, sob pretexto de aprimorar o senso pessoal de humildade e vivenciar o princípio político de igualdade na relação com as crianças. O(a) bom(boa) profissional do magistério não se vê superior nem arrogante, por agir como mestre(a) de seus pupilos; de reversa maneira, com frequência se onera psicologicamente e muito se desgasta nessa função, no esforço por se manter tranquilo(a) e atento(a), para bem cumprir as tarefas que lhe são afetas e com as quais se comprometeu.

Um dos grandes apanágios dessa “turma mais velha” reside exatamente neste item visceral: não pretender levar vantagem para si. Pelo contrário, seus representantes costumam sacrificar-se pelo bem comum, de modo sistemático e profundo, a ponto de muitos deles viverem verdadeiros martírios públicos.

Como o assunto é demasiado difuso e complexo, apresentaremos alguns exemplos de componentes da humanidade desenvolvida, em diferentes disciplinas da ação humana, todos desencarnados, para que nossos estimados leitores entendam que não nos referimos propriamente a gente tão só muito capaz ou genial.

Na ciência: Albert Einstein, Marie Curie, Carl Jung e Florence Nightingale.

Na política: Abraham Lincoln, Marco Aurélio Augusto, Leonor de Aquitânia e Elizabeth I.

Na religião: Teresa d’Ávila, Francisco de Assis, Allan Kardec e Paulo de Tarso.

Na liderança espiritual: Moisés, Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

Na paranormalidade: Chico Xavier e Edgar Cayce.

No militarismo (sim, os há): Joana d’Arc e Winston Churchill.

Na filosofia: Sócrates e Platão.

Na matemática: Pitágoras e Hipácia de Alexandria.

Nas diversas formas de arte: Shakespeare, Chaplin ou Leonardo da Vinci – este último, um gênio transdisciplinar, que transcendia as artes e dominava inúmeras áreas de saber, englobando tanto campos científicos quanto tecnológicos.

Há integrantes da humanidade desenvolvida não tão óbvios e que mais facilmente se confundem com os mais inteligentes e treinados partícipes da humanidade geral. Todavia, como disse Jesus, para quem tem “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, os elementos distintivos neles são evidentes demais para passarem despercebidos.

Assim como pedimos a uma criança que esteja atenta ao professor ou professora em sala de aula, deixamos a todos esta sugestão fraterna: que cada um(a) pondere e veja a que grupo de orientação pertence, a fim de aproveitar a oportunidade de aprendizado junto a esses homens e mulheres excepcionais, que constituem vivos aceleradores evolutivos das comunidades humanas, a benefício de indivíduos e povos, no correr dos evos…

Espírito Eugênia-Aspásia
Médium: Benjamin Teixeira de Aguiar
27 de janeiro de 2015