Uma das primeiras palavras que são aprendidas por uma criança, em qualquer idioma, é não, bem como das que mais são utilizadas e ouvidas, desde o berço. No reino animal, os instintos imperam e nada mais se pode fazer a não ser dizer-se sim, continuamente, aos impulsos irrefreáveis de sobrevivência que eclodem, como comandos da Natureza para a conservação de indivíduos e a perpetuação das espécies. Adentrando a humanidade, porém, a idéia e a prática de negar ou se negar a alguma coisa surge como das formas mais genuínas de manifestação do poder de perceber, interpretar e fazer escolhas a partir das conclusões a que se chegou. Dizer não é da essência da condição humana, e, por que não dizer, um dos elementos que mais a engrandecem ou que mais lhe caracterizam a grandeza de ser livre.
Aprenda a (ou aprimore a sua capacidade de) dizer não, sobretudo no campo de suas fraquezas. Na era da liberdade em que imergiu a civilização humana, esse é um dos maiores desafios à consciência humana que, paradoxalmente, constitui a excelência do livre-arbítrio. Ter poder para abster-se é o maior de todos os poderes – o poder sobre si.
Algumas precauções, todavia, podem ser tomadas, para facilitar o processo complexo de auto-superação e de educação íntima:
· Elimine completamente visita a lugares que tenham correlação direta com sua fraqueza.
· Evite ou mesmo rompa amizades que o induzam às tendências viciosas – sem remorsos (As pessoas passam por nosso caminho, para nos legar lições existenciais. Precisamos deixá-las irem, quando houverem concluído sua missão em nossas vidas.)
· Procure ajuda psicoterapêutica ou aconselhamento (individual ou de grupo), bem como apoio em familiares e entes queridos, para sair do ciclo vicioso e auto-destrutivo em que se precipitou ou se permitiu ser tragado.
· Exercite a arte de dizer não. Nada vai lhe conferir maior sensação de liberdade e poder sobre si.
· Aprimore-se um pouco todos os dias. Seja radical com o inegociável e flexível com todos os aspectos que possam ser administráveis de sua vulnerabilidade.
· Recomece sempre que recalcitrar nos mesmos erros. A reincidência é fenômeno natural, no processo de retomada de controle sobre si ou de aquisição da capacidade de se gerir. Portanto, não se abata quando ela acontecer. Ao reverso, pare a auto-recriminação e verifique, de modo prático e objetivo, que medidas podem ser tomadas para que não torne a incorrer no mesmo deslize, e aplique-as de imediato. Com o tempo, desenvolverá seu próprio método, quase-infalível, de autocontrole.
Por fim, amigo, confie a Deus seus esforços sinceros de auto-corrigenda. Nem sempre será fácil começar vida nova em padrão novo de disciplina. Haverá momentos em que se sentirá desanimado, a ponto mesmo de desistir e, pior que tudo: uma parte de você desejará que isso aconteça. Todavia, em meio ao turbilhão dos momentos difíceis, alargue o panorama de seus pensamentos, abstraia-se das circunstâncias do momento, dos interesses passageiros que o envolvem, e pense nas implicações, nas conseqüências a longo prazo de sua conduta mesquinha ou imatura, e facilmente descobrirá alimento emocional para sua vontade de se domar.
Sua fraqueza é sua grande mestra: de humildade, de auto-disciplina, de indulgência, de esforço contínuo de auto-transcendência. Agradeça a Deus por ela existir, aprenda a coexistir com ela, sem por ela ser dominado e acalente seu lado infantil, louco ou doente, para que lentamente se cure, amadureça e se transforme em algo digno, nobre e justo, como você originalmente é, como você pode se tornar cada vez mais, para seu bem, daqueles que você ama e de todos que estiverem no seu círculo direto ou indireto de influência pessoal.
(Texto recebido em 17 de maio de 2001.)