Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.


Há alguns anos, quando estivemos de passagem pela Terra, em certa caravana de serviço aos encarnados, vimos jovem senhora sentada sobre o leito, chorando copiosamente. Havia depositado suas últimas esperanças no jovem filho promissor, após o fracasso no casamento e na vida profissional, que houvera sido sacrificada, em prol do devotamento integral à forja do lar. Ele, porém, decidira-se por outros rumos que não aqueles sonhados por sua mãe angustiada. Em vez de se formar em Direito, como lhe fora pedido, casara-se com moça com quem a genitora não simpatizara, e, para completar, resolvera dedicar-se à carreira artística, para total desgosto da família inteira, de muitos tios e primos, que não poupavam críticas ácidas não só a ele, como à educação “deficiente” que ela lhe dera e que, certamente, teria sido uma das causas mais importantes de tamanha decepção e vergonha do clã.

Todos morreram, num espaço de cinqüenta anos, a contar daquela data. E, no entanto, o jovem artista tornou-se nome famoso e reverenciado pela crítica e amado pelo grande público, na sua terra natal e além-fronteiras, apesar dos poucos ou quase nenhuns louros que colheu ainda em vida física.

Todos se encontraram no Além, para ajuste de contas com as autoridades espirituais, e, mérito ali, demérito acolá, quase todos fizeram o estritamente necessário para levarem suas vidas adiante, sem nenhuma nota digna de elogio, sem esforço maior de realização ou crescimento íntimo. O jovem-vergonha-da-família, porém, havia arrostado tudo e todos para seguir sua profissão de ideal, penara horríveis dificuldades financeiras em nome da escolha difícil, casara-se a contragosto da mãe, o que muito lhe doeu o coração, e ainda teve filhos que lhe cobravam a presença e o dinheiro que não tinha, sentindo isso como a arma fervente revolvida na ferida aberta do peito. Humilhado por todos, na opção “desprezível” de carreira, sofria vexames em público, quando encontrava alguém da família. Mas, a despeito de tudo isso, deixou obra magistral de amor e sensibilidade, nos letras e melodias que compôs, em canções que foram repetidas, e até hoje são cantaroladas, por milhões de corações, enviando mensagem de otimismo e esperança, para os amantes e amores frustrados, para os românticos e os desesperados da fé. Seus parentes, todavia, nada deixaram de substancial e proveitoso para a posteridade, nem atravessaram experiências dignas de nota, para seu próprio espírito em evolução, deitados que sempre se mantiveram, nas fofas almofadas das escolhas cômodas de vida.

Cuidado com as aparências de sucesso! Elas podem enganar redondamente, quando não alinhadas com a voz do coração, do ideal, da fé. Ausculte o seu íntimo e saberá: ou está com Deus e tudo vale, ou não está com Ele, e nada tem importância, e nada valerá, ao fim…

(Texto recebido em 25 de janeiro de 2005.)