Enquanto as economias nacionais se arrefecem, o surto da nova cepa de coronavírus segue, chamando a atenção das pessoas para um esquecido e elementar aspecto da condição humana: a mortalidade.
Essa é uma época de ressurreição d’alma – de se reconhecer a importância que o Espírito merece ter, que sempre teve, sempre tem e sempre terá…
Quanto podem o ateísmo e as teologias da prosperidade material oferecer de conforto ao gênero humano, neste momento crítico, de ponderações críticas, sobre críticas questões que aturdem as massas? Como depositar segurança em falsos alicerces, construídos sobre a areia movediça da, por inerência, inconsistente “estabilidade” do domínio físico de vida e seus meios de proteção “confiáveis” contra micro-organismos ou derrocadas financeiras globais?
Uma pandemia se configura, fantasmagórica, nos cenários do imaginário popular, e o pânico ameaça arrastar ao precipício economias já vacilantes de nações frágeis e toda uma teia planetária de finanças bastante esgarçada, há um bom tempo.
A finalidade desse quadro situacional alarmante é a mesma de quaisquer padecimentos humanos: disseminar a mensagem de que se deve priorizar o essencial e buscar uma mais desenvolvida consciência de responsabilidade com o bem comum.
Dezenas de milhares de mortes diárias, ano sobre ano, por decorrência de subnutrição e privações grosseiras, no campo do sanitarismo e da higiene, ou mesmo por falta de atendimento médico-hospitalar básico, nunca causaram pânico nas sociedades ou afetaram índices econômicos, nem jamais surripiaram a tranquilidade das noites de sono da esmagadora maioria dos(as) habitantes da Terra.
Entretanto, alguns poucos milhares de óbitos, no correr de alguns meses, provocados por uma epidemia que pode bater à porta do lar de qualquer pessoa, sim, revelam a lamentável força motriz que conduz a existência de bilhões de criaturas no orbe: o egoísmo feroz. Ou seja, o maior percentual dos contingentes populacionais está preocupado apenas com a sua própria e a vida de alguns poucos entes queridos.
A crise que se vive, portanto, é um chamado a um grau mais compatível de maturidade sociocultural, para essa civilização já tão adiantada em termos científicos e tecnológicos. Não é mais admissível que a comunidade terrena, tão integrada no âmbito das comunicações e dos transportes, prossiga agindo, pensando e sentindo em nível tribal de consciência, na pior acepção do vocábulo.
Que dizer, então, do aspecto ecológico implicado? Não tem havido, década sobre década, um descaso em relação aos patrimônios inapreciáveis da biosfera? Não se tem colocado a agenda do desenvolvimentismo não sustentável acima do valor fundamental da vida, que inegavelmente é superior a qualquer outro interesse de grupos isolados ou indivíduos?
O ser humano não é o centro da Rede da Vida – a Vida, em si mesma, o é, não importando o patamar de complexificação biológica dessa ou daquela espécie, como apregoa, com acerto, no plano material de existência, a denominada “ecologia de profundidade”, em contraposição ao primitivo postulado da “ecologia rasa”, de cunho antropocêntrico.
Assim, suscitemos esta cogitação: e se o Sistema Vivo da Terra, cuja existência é bem defendida pela “Tese Gaia”, considerar que o ser humano sobre sua superfície seja um importuno “vírus” que carcome progressivamente a saúde de seus ecossistemas? É o atual coronavírus o vilão, ou esta humanidade seria um “patógeno” a ser extirpado?
Continuando nessa, digamos, linha de elucubração: e se nós, da Espiritualidade do Bem, quisermos autorizar um “choque de consciência” longo ou duro o bastante para despertar mentes, organizações e governos empedernidos(as), a fim de compeli-los(as) a um patamar de lucidez um pouco mais adulto e responsável?…
Pânico e pavor de multidões consumidas por egocentrismo selvagem, preconceitos mesquinhos e hipocrisias inconfessáveis… esse medo não nos comove. Muito pelo contrário, julgamos que seja uma dor evolutiva deveras saudável, pela probabilidade de funcionar como ferramenta circunstancial fomentadora de freios de reflexão, para uma humanidade demasiadamente individualista, nessa era de cinismo e negativismo cientificista generalizados.
Alguns resultados já se fazem visíveis. Repentinamente, um dos mais poluentes países do globo, a China, reduz suas emissões de gases tóxicos na atmosfera, a economia internacional ameaça entrar em colapso por um efeito dominó nas bolsas de valores, com setores do mercado severamente comprometidos, e até aglomerações públicas vão sendo progressivamente proibidas, em diversos pontos do orbe.
O mundo inteiro volta a sua atenção para um “inimigo comum”, e eis que vemos o sentido de família humana aparecer, debaixo do látego impiedoso do espectro da morte, sem distinção de classes sociais ou segmentos nacionais privilegiados.
Como a humanidade terrestre não se une pela vida e pela motivação fraterna de luta pelo bem comum, é incitada a se agregar, às pressas e um tanto atabalhoadamente, para combater um “mal comum”.
Esse princípio evolucional dos flagelos em grande escala continuará atuante, não importando o quanto incomode ou seja desacreditado. O planeta atingiu um estado de emergência evolutiva. Se a cepa do novo coronavírus e as eventuais debacles econômicas por ele geradas não cumprirem seu propósito educativo-espiritual, novas catástrofes de proporções mundiais entrarão em cena, umas empós outras, em ciclos de maior ou menor extensão de destrutividade, conforme as circunstâncias as demandem.
Que essa comunidade humana recalcitrante nos vícios do mal acorde o quanto antes – é o que desejamos, os(as) Representantes do Bem Maior, que não podemos, de modo algum, violar o livre-arbítrio de indivíduos ou coletividades, ainda que se encaminhem para o abismo da autoextinção.
Eugênia-Aspásia e Matheus-Anacleto (Espíritos)
em Nome de Maria Cristo
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Brewster, região metropolitana de Nova York, EUA
9 de março de 2020