Benjamin Teixeira,
em parceria com o
Espírito Eugênia.

Há dois dias, publicamos um artigo, em nome da bondosa e sábia Eugênia – “Abandonar Pai e Mãe, Posses e Prestígio” –, que me solicita agora aprofundemos nossos estudos, tão-só procedendo a uma interpretação da imagem utilizada como gravura inicial ilustrativa da página supracitada (reproduzida abaixo deste novo artigo).

Compensando a “sobrecarga” a que os amigos mais fiéis a nossa página estão sendo submetidos, com dupla publicação em quase todos os dias deste mês de julho de 2009 (com destaque para a postagem de vídeos), restringir-me-ei aos elementos indispensáveis.

A figura, em princípio, parece denotar muita tristeza e angústia – o que não está de todo errado, em considerando qualquer rota de interpretação. Vale considerar, entrementes, que a leitura mais óbvia – a de renúncia à potencialidade angelical – é a menos apropriada, porque a menos construtiva. Com pequeno esforço a mais de observação, notaremos que as asas são infantis, porque lembram as que seriam de uma ave ou as que estariam expostas em iconografias medievais de anjos; e, para completar, como denunciam as muito obviadas cordas que as atavam ao corpo da ninfa, revelam ter estado vinculadas ao corpo da moça com dorso despido (que se faz símbolo de nossas almas, de nosso ideal e vocações mais profundos e insilenciáveis – permitam o neologismo) tão só por amarras, que se desprendem da jovem modelo, com algum esforço despendido por ela,. Neste sentido, como indica a tensão muscular em sua postura. As cordas parecem se soltar com o movimento brusco que a personagem anônima insinua, em seu nu artístico. Ou seja: o trabalho, a persistência e a disciplina são imprescindíveis para qualquer realização de vulto – sobremaneira no campo do Espírito Eterno que todos somos –, embora as conquistas, em contrapartida a tanto custarem, sejam duradouras numa medida infinita.

O nu artístico, que representa despojamento de papéis sociais desempenhados (incluindo os familiares – dos mais difíceis de serem detectados com clareza pelo próprio indivíduo e, por conseguinte, erradicados; e mesmo por muitos profissionais do tratamento da mente humana), recorda-nos, outrossim, o deslindar de “asas falsas”, da pretensa pureza de sentimentos associadas às primeiras experiências afetivas, com familiares consangüíneos e primeiros amigos de infância, da adolescência e da adultidade jovem. Estar de costas para o observador reforça este aspecto psicológico de desapego do passado e abertura confiante e corajosa no futuro, no novo, no hipotético, no potencial, no incerto…

Por outro lado, significativo o fato de a personagem divinal estar encarapitada numa espécie de patamar, para sua existência doirada de ego engalanado na movimentação externa e carente de profundidade, nos conceitos e nos sentimentos que internamente nutra, mais pela própria natureza que por vício (como muitos  pensam, porque não se modifica, da noite para o dia, uma psique doente e carente, estruturada para entender, de forma subvertida, a ordem das próprias necessidades). Descer do ponto mais alto das próprias possibilidades – que o ego fomenta alcançar e nele se fixar – representa uma segurança maior no campo emocional, para não exagerar nas próprias expectativas, e fazer o melhor sempre ao próprio alcance, sem paranóias perfeccionistas.

Adiante, no pano de fundo da linda obra de arte, aparece, um tanto difusas, mas suficientemente claras, na metáfora poderosa de que se revestem, duas asas gigantes, em forma de nuvens, que alegoricamente nos remetem não só à “vaporisidade” das experiências profundas da psique (para a ótica de mentes menos treinadas em assuntos complexos ou abstratos demais para não poderem ser representados por modelos concretos no mundo físico, mas tão só por construções imagéticas ou princípios filosóficos que sequer são passíveis de visualização), como a transpessoalidade. Os nimbos no firmamento – exatamente isso: parecem nuvens carregadas de chuva potencial, porque as crises de mudança causam sempre tormento de transformação em quem a elas se confia – indicam a distância de que se encontra a personagem em seu primeiro movimento de ruptura com as origens primitivas da infância, para alçar o vôo da transcendência, a evanescência do Espírito, muito mais poderoso, todavia, que a aparente “objetividade” e “realidade” das asas feitas de pena, na pobre reprodução, simulacro filosófico das legítimas asas de aves.

Não aguardemos facilidade nem fórmulas fáceis, no avançar para o novo padrão de consciência que nos aguarda, à frente. Jung nos assevera que a maturidade psicológica leva indivíduos a romperem com a família biológica, para se integrarem com sua família de afinidades psicológicas profundas, seja no campo profissional, acadêmico, artístico, espiritual.

Mas não caiamos na tentação lamentável de abdicar de viver este “parto psíquico”, porque tanto quanto um embrião não pode prosseguir no ventre de sua genitora, depois dos nove meses e meio aproximados de gestação, igualmente não podemos nos aprisionar em faixas de compreensão que já suplantamos, sob pena de engendrarmos, para nós próprios, padecimentos atrozes, muito maiores que aqueles fomentados pelo processo natural de desligamento do passado e comprometimento com o futuro.

(Texto escrito-recebido em 9 de julho de 2009.)


Atenção:

Logo abaixo desta postagem, na interface deste site, há um arquivo disponibilizando um trecho selecionado do evento Maria Cristo 2006, aquele em que foi levada a público a primeira Carta de Nossa Senhora à Humanidade, da série de Missivas Espirituais que Benjamin Teixeira tem recebido anualmente do Espírito Eugênia.
Neste período, estamos trazendo a lume artigos (psicografados ou inspirados), além de vídeos históricos da Instituição.
Não sabemos por quanto tempo isso se dará, mas é garantida, no mínimo, a publicação de um arquivo por dia (incluindo feriados e fins de semana), neste nosso sítio eletrônico da internet, seja ele em vídeo, apenas áudio ou tão-só texto escrito.

Equipe Salto Quântico.