Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

A felicidade não é um direito seu: é seu dever ser feliz.

A sua angústia revela a dimensão da alegria que se está negando. Paradoxalmente, entretanto, a dor, em si, não é contraditória à felicidade, compondo-a, inclusive, como facilmente se percebe, nas experiências imprescindíveis da disciplina, do esforço, do trabalho pela conquista de metas e da capacidade de adiar gratificações – apanágios obrigatórios em personalidades realmente maduras. A alegria contínua – e, assim, desregrada e inconsequente – constitui a política de vida que abarrota manicômios, presídios e clínicas de desintoxicação. A despeito destas assertivas, entrementes, a amargura profunda, a frustração da alma, o sofrimento sistemático, ininterrupto, denunciam a fuga de rota ao próprio destino, a quebra de Fluxo com a Vontade Divina para si.

Duma perspectiva mais analítica, pode-se dizer que a felicidade é o atendimento a todas as necessidades e aspirações do indivíduo, considerando-se a totalidade das dimensões constituintes de sua estrutura de ser, começando pelo âmbito físico até chegar ao domínio espiritual, atravessando-se, entre ambos, as esferas emocional e mental. Todavia, há uma hierarquia entre tais estratos da criatura humana, devendo-se colocar os valores do espírito em primeiro plano; em segundo, os intelectuais; depois, os emocionais; para somente então se averiguarem as premências fisiológicas do corpo – numa exata inversão da escala de prioridades que costuma imperar, no campo material de vida, na Terra dos dias que correm.

Felicidade não é facilidade, nem atendimento do ego e suas ambições (muito menos do sub-eu-animal e suas compulsões). Felicidade é a plena realização da vocação, do ideal, do espírito.

Felicidade não consiste em uma busca permanente de alegrias irresponsáveis, superficiais, físicas. Não está no campo das sensações, nem mesmo das emoções, mas tão-somente no dos sentimentos. Só há felicidade onde há coração. Só há felicidade no serviço, na solidariedade, no altruísmo, no desapego, na espiritualidade.

Pode até haver conflito, dificuldade e desafio, mas jamais perda de paz, de equilíbrio, de ponderação, nos circuitos da verdadeira bem-aventurança.

Da sábia expressão latina “fe licitas” (fé legítima), deduz-se que não se pode viver feliz, sem se cogitar em Deus e na relação pessoal de compromisso com Ele-Ela. Em contrapartida, a fé que não leva a um estado de ventura não pode ser genuína, representando mera crença, com risco permanente de degringolar em fanatismo.

Felicidade não é propriamente uma meta, mas um estado de espírito, vivenciado por quem está focado em seu propósito – de servir e viver por Algo Maior que o si-mesmo.


(Texto recebido em 9 de março de 2009.)