Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
A base do amor é o sentimento da incondicionalidade.
Quem ama, não cobra, não espera nada em troca, não policia, não exige mudanças, não vê o objeto amado como posse, nem como campo sobre o qual exercer poder. Quem ama simplesmente dá.
Claro que, na condição humana, a retribuição se faz imprescindível à vida psicológica saudável, e é por isso que existem histórias e experiências de amor toldadas de amargura, decepção, descompensação e discórdia. Nem sempre o objeto amado vibra no mesmo diapasão de nosso espírito, confrangendo-nos a alma, sobremaneira quando não estamos devidamente capacitados a compreender, perdoar e relevar os deslizes do ente querido e as dissonâncias entre o seu modo de ser e o nosso.
Com isso, de modo algum estou sugerindo que alguém insista em relacionamentos perdidos, aqueles em que o outro deixa claro não estar disposto a manter o vínculo – isso seria intrusão, tirania e abuso, uma ingerência sobre o direito de liberdade do outro, mais uma vez a questão do poder e da posse, a que acima aludimos, como elemento que não diz respeito ao verdadeiro amor. Mas apresentamos o padrão ideal do amor, para que cada um veja a quantas vai, no aprendizado da mais refinada de todas as artes e da mais avançada e complexa das ciências, o objetivo final do processo evolutivo, a finalidade última da existência de nossos seres: o Amor Absoluto.
Se você quer amar, de modo mais pleno, ame, sem esperar retribuição, ame o ente estimado exatamente como é, deixe-se amar da forma que o outro sabe e não conforme suas próprias expectativas de relacionamento e, por fim, ame, como um prêmio em si mesmo, sem aguardar graças divinas ou compensações místicas pelo que faz ou, mais uma vez, estará incorrendo no comércio de interesses imediatos do ego, desviando o foco da alma para o corpo, do espírito para a matéria, da eternidade para o tempo.
Outrossim, não se frustre se não segue com altas notas, no difícil ofício de amar. Séculos de milênios se fazem necessários ao verdadeiro despertar do coração, em nível de plenitude. Os grunhidos do selvagem já se converteram em melodia de ninar, tanto quanto o magnetismo mineral um dia se converterá em arroubos místicos dos anjos. Cada criatura deve respeitar seu nível próprio de adiantamento psíquico, a fim de não criar perturbações em si e em torno de seus passos. E é justamente nesse espírito de consideração realista da própria condição evolutiva que importa abrir-se ao amor: é devido à falta de atendimento aos apelos profundos da alma por esse seu alimento fundamental que surgem todas as sortes de neuroses, psicoses, vícios e impulsos criminosos.
Amar é a solução; amar plena e desmedidamente, desinteressada e impessoalmente. Somente assim a tragédia-dilema da condição humana, a incógnita irrespondida por Freud: Afinal o que elas (entenda-se, simbolicamente, a alma de todos nós) querem?, e podemos afiançar, com toda segurança: a alma, todos nós, queremos, essencialmentalmente, uma única coisa: amar. Ser amado é conseqüência e elemento secundário, tanto quanto evacuar, após comer. Somente o amor, porém, nutre a alma em sua fome figadal de sentir e de ser, um sentimento que transborda sobre o outro e pode até repercutir numa retribuição que ainda mais alimenta a fonte do afeto, mas que, em si mesmo, contém já todos os elementos mantenedores do equilíbrio, da paz e da plenitude do indivíduo, todo o potencial para a realização e a felicidade.
(Texto recebido em 26 de setembro de 2001.)