Benjamin Teixeira
pelo espírito Gustavo Henrique.
Era uma vez uma jovem garota chamada Beatriz. Beatriz era linda e tinha cachinhos dourados que lhe caíam aos ombros, caprichosamente. Tinha pais maravilhosos e morava em uma enorme mansão de três andares.
Beatriz adorava brincar no pátio de sua imensa casa, cercada de sua babá Nane. O balancinho perto da Jequitibá, a bonequinha de louça e o carrossel ao lado do chafariz de mármore branco, que tanto a encantavam, eram seus brinquedos favoritos.
Um belo dia, porém, veio a guerra. E Beatriz teve que fugir com seus pais, para bem longe dali. Todos os dias, a garotinha de cabelos dourados perguntava ao pai e à mãe se a guerra já havia acabado e quando poderiam voltar para casa.
Só que, depois de um tempo, a menininha teve que se afastar também deles e ir, sozinha com Nane, para um lugar diferente e estranho, onde todos falavam uma língua esquisita. Beatriz chorava de saudades de mamãe e papai, todos os dias. Só Nane sabia falar aquela língua estranha. Ela só podia falar com Nane e ninguém mais.
Certo dia, porém, para tristeza e pavor de Beatriz, acordou-se num lugar diferente, sem Nane. Não sabia o que estava acontecendo. Havia muitos homens fardados, como soldados, e todos ainda falavam aquele mesmo idioma que ela não entendia. Depois de muito tempo, quando Beatriz já estava chorando de tristeza por causa de Nane que não aparecia, uma mulher gorda e bonita, com cabelos presos para cima e muito sorridente, veio falando sua língua, mas de um jeito diferente… engraçado.
– Você fala minha língua, que bom!
– Eu aprendi o seu idioma desde pequena. Meus pais eram de seu país.
– Como assim?
– No seu país – o lugar de onde você veio – fala-se esta língua.
– Mas você fala de um modo engraçado…
– Isso se chama sotaque. Quando a gente vive longe e é criado em outro lugar, fala diferente a língua do seu povo.
– Cadê mamãe e papai? E Nane? A guerra já terminou?
A senhora gorda e boa (Beatriz achava aquela velha muito boa, como vovó Eduarda) fez uma cara triste… abaixou os olhos e disse:
– Não, meu bem. A guerra não terminou… mas está muito perto de terminar.
– Que bom! Então verei papai e mamãe logo logo, não é isso?
– Não meu bem… Não será muito fácil.
– Por quê? – exclamou Beatriz quase chorando.
– Já ouviu falar de Papai do Céu?
Beatriz começou a chorar. Já sabia que Papai do Céu às vezes levava as pessoas boas para ficarem com Ele. E, assim, a gente nunca mais podia vê-las. Papai e mamãe eram bons, e não era de estranhar que Papai do Céu tivesse levado os dois para ficar com Ele. Mas e agora? Com quem ela ficaria?
– E Nane?
– Nane ficará com você. Mas teve que sair um pouquinho. Umas pessoas precisavam falar com ela, perguntar umas coisas…
– Sobre papai e mamãe? – perguntou, ato contínuo, a menina.
Com um sorriso irônico e triste, disse então a senhora:
– Sim, meu bem. Sobre seu paizinho e sua mãezinha.
– Eu vou poder ficar com Nane mesmo?
– Sim, vai poder ficar.
– E quando volto para casa?
A velha bondosa já não sorria mais. Demorou um pouco em silêncio e, então, disse:
– Sua casa já não existe mais, Beatriz. Houve um incêndio, você já ouviu falar em incêndio?
– É quando o fogo destrói tudo?
– Sim. Sua casa, querida, pegou fogo.
Beatriz voltou a chorar.
– E para onde eu vou?
– Nane vai morar aqui, com você.
– Aqui?
– Não, não aqui, mas neste país.
– Mas eu não sei a fala de vocês!…
– Vai aprender. Você é muito novinha e parece bastante esperta. Meninas inteligentes como você aprendem rapidinho uma fala nova.
Beatriz continuou falando com a senhora boa por mais algum tempo. Depois, foi almoçar com ela, e, então, reencontrou-se com Nane. O rosto dela estava diferente. Parecia assustada.
Beatriz ficou sabendo, anos depois, que seu pai era um importante ministro em seu país. Mas queria saber por que, sendo seu pai tão importante em seu país, tinha ela sofrido aquela sina. Outras meninas de sua pátria por lá puderam ficar, e ela, sem parentes, teve que ficar longe de tudo e todos…
Beatriz nunca mais viu seus pais, nem nunca mais viu sua casa, nem a boneca de louça, nem o carrossel perto do chafariz, nem mesmo seu país, aquela palavra nova que tinha aprendido.
Isso é a guerra. Tudo que amamos e gostamos, tudo que queremos e desejamos pode deixar, a qualquer momento, de existir. A paz é o maior dom de Deus para os homens e mulheres. Lutemos por ela e defendamo-la. Sem paz não há vida nem felicidade.
(Texto recebido em 17 de dezembro de 2002.)
(*) Cunhamos essa história infantil, em conjunto com pedagogos de nossa dimensão, com o fito de que ela pudesse ser lida com prazer também pelos pais e professores que a lessem para as crianças. A mensagem fundamental da paz, nesse período de turbulência internacional, deve ficar bem impregnada no inconsciente das crianças, já que, em suas mãos, estará o futuro da Humanidade, muito brevemente. Sugerimos, assim, que pais e professores a lessem para seus filhos e pequenos discípulos, considerando-se, principalmente, a faixa etária de 5-7 anos.
(Nota do Autor Espiritual.)