O espírito Gustavo Henrique pediu-nos link com o vídeo “You are not alone”, mas supusemos apropriado encomendar de nosso editor de vídeo, Wagner Mendes, um apanhado de outros instantes memoráveis da obra do gênio dançante (dentro das questões levantadas pelo grande estudioso desencarnado), que começa com este clipe, mas inclui, também, nesta ordem: “We are the world”, “Black or white”, “They don’t care about us”, “History”, e, como desfecho, o irônico (ou, subliminarmente: profético) anúncio publicitário que preparava o público (desde o ano passado, data de produção deste vídeo) para a mega turnê que o “King of Pop” estava para iniciar, intitulado: “Resurrection of the Great One”, sobre a “ressurreição” ou… melhor dizendo… o “retorno” de Michael Jackson… à pátria espiritual, com uma paralela e definitiva consagração do ícone incomparável, na cultura popular de todos os tempos, no século da produção artística de massa, o século XX – algo que, dificilmente, se repetirá em toda a história da humanidade, em função dos avanços tecnológicos na área de comunicação, que nos levam à criação sucessiva de nichos e concomitante redução de tamanho dos mercados, isoladamente considerados, cada um para cada infinita variedade de interesse que possa existir no gênero humano.

Os mais jovens (que tenham menos de 35 anos, neste 2009) não terão clara notícia das proporções de influência que possuía este mega-astro. Estudiosos ainda se debatem para lhe compreender toda a extensão da influência, não só sobre a multidão, diretamente, como sobre outros grandes ícones formadores de opinião, dos últimos trinta anos (pouquíssimos à sua altura – talvez, só Madonna)… um ídolo de ídolos, o gênio dançarino-compositor-cantor, o menino negro que cruzou as fronteiras da cor, do sexo e do tempo, para unir estilos musicais, raças e culturas, pregando a união de todos os povos, acima de quaisquer barreiras de preconceito…

Irmão em Cristo,
Benjamin Teixeira.
Aracaju, 15 de julho de 2009.

Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.

Recém-desencarnado o mito máximo da música popular do século XX, em sua segunda metade (em particular, o último quarto do século transato), chega o momento azado para reflexões que o respeito à sua presença no mundo físico nos pedia oclusão, até então.

Retrato máximo dos conflitos havidos na última metade do século XX, na consternada civilização humana do globo, maximizados que foram após o término da segunda grande conflagração mundial, notamos, no astro norte-americano:

O negro que, declarando publicamente orgulho por sua raça, procedia a tratamentos dermatológicos avançados para branquear a epiderme.

O homem que, empavonando-se de sua condição masculina, em gestos fálicos muito evidentes, em suas coreografias e shows, apresentava notória predisposição gay.

O homossexual óbvio que, todavia, apesar de viver no mundo artístico (que favorece a aceitação pública de seu perfil psicossexual, ainda que, em seu tempo, precisasse isso se dar de modo mais discreto), anunciava uma pretensa heterossexualidade, casando-se (formalmente), pelo menos duas vezes, com mulheres.

O menino com graves problemas de autoestima, a lhe gerarem um narcisismo delirante, aproximando-o da megalomania egóica, e que – paradoxo dos paradoxos, entre todos os feixes de contradição que sua curta existência assinalou – submeteu-se, por um tempo, a cirurgias plásticas com o intuito de replicar os traços fisionômicos de sua madrinha (*1): ou seja, o idólatra de si que luta por se parecer com outrem(!).

A personalidade que se apresentava tão afinada com causas humanitárias – como demonstrou a música que compôs em parceria com um colega: “We are the world”, um clássico hoje, lançada no já longínquo 1985, a criar mobilização de estrelas no mundo inteiro, inaugurando a era da filantropia dos grandes astros – e que, no entanto, em seus célebres passos de dança, sobremaneira no mais famoso de todos (*2), visivelmente tentava reproduzir movimentos mecânicos que lembravam uma marionete ou um robô.

O ser que se apresentava como um anjo (*3), mas que se dizia um “bad boy”, conforme a própria capa de um de seus mais vendidos álbuns ostentava, com acinte e jactância, não só no próprio título em garrafal – “Bad” –, como também na vestimenta, recoberta de correntes e couros, que lhe ilustrava a nova “personalidade pública” introduzida aos milhões de fãs, disseminados pelo orbe.

O homem que, por fim, decretou-se inocente e puro (assexuado, subliminarmente), embora, negando sua sexualidade adulta, haja se envolvido escandalosamente com menores, enquanto vivia a trágica decadência de seu infeliz estrelato, terminando como um senhor de maturidade, deformado como um Pinóquio vivo (após tantas intervenções cirúrgicas estéticas), na luta inglória por perpetuar uma pré-adolescência perdida no tempo, mas cristalizada numa psique ferida, desesperada e angustiada… a burlesca e tragicômica negação do homem enviado por Deus que ele chegou a postular ser, religioso antiespiritual que era (*4).

Uma representação viva (das mais completas, no nosso entender) dos dramas, conflitos, incoerências e quase esquizoidias do homem e mulher contemporâneos, lutando contra forças ingentes e antagônicas, dentro e fora de si mesmos, como a necessidade de serem competitivos e humanitários concomitantemente, ou de viverem carreiras profissionais brilhantes e se fazerem pais ultrapresentes e acolhedores, ao mesmo tempo.

Que a morte abrupta do corpo físico do ídolo – e do ídolo com ele (*5) –, na altura de seus tão-só 50 anos (poderia perfeitamente chegar aos 100, se fosse mais equilibrado e harmônico consigo mesmo, conquanto sua câmara hiperbárica dos anos 1980 lhe denunciasse uma ambição bem mais ousada, no quesito da longevidade), lembre a todos a importância de se viver o espírito, com as limitações próprias da condição humana; e não o ego, com suas exigências tirânicas e inatendíveis, porquanto qualquer um que se aventure a tentar satisfazê-las corre o risco de se converter, em proporção menor e com características idiossincráticas, num novo Michael Jackson, ainda que isso não pareça óbvio, para um mundo, este mesmo, esquizofrênico, paranóico e atormentado, como o foi o ídolo da cultura pop e dos videoclipes alucinantes.

Para ilustrar a nossa fala, pedimos ao porta-voz encarnado nos expusesse, acima do artigo, conexão eletrônica com o videoclipe que, no nosso entender, mais precisamente traduz tudo que ele pretendeu ser, mas, tragicamente, se negou a viver. A angústia de um ser humano de boa índole, sensível e genial, que marginou o crime, por não aceitar sua falibilidade e não admitir portar aspectos que não seriam motivo de admiração, como a homossexualidade.

Que a melancolia que impregna as lindas cenas audiovisuais toque os corações, para que todos evitem o delírio da vaidade excessiva, exercitando, em contrapartida, quanto possível, a humildade, a transparência e a autenticidade, visto que, como leciona, taxativamente, a psicologia, em suas diversas escolas: sem integração psicológica da personalidade, sem aceitação dos traços menos desejáveis da própria psique, sem um ajuste realista e honesto, entre as necessidades da própria natureza e as solicitações do mundo externo, jamais poderá surgir a saúde mental, em sua expressão plena, e, obviamente, por consequência, inviabilizadas estarão a paz e a felicidade do indivíduo e de todos que ele pretender atingir, servir e amar.

(Texto recebido em 8 de julho de 2009.)

 

(*1) Diana Ross.

(*2) Moonwalk.

(*3) No videoclipe “You are not alone”.

(*4) Importante que se distinga espiritualidade genuína de religiosidade convencional – esta última costuma denegar a primeira, como asseverava categoricamente Carl Gustav Jung.

(*5) Nome, títulos, biografia, realizações, etc., de certa reencarnação de uma pessoa, estão vinculados diretamente a um corpo físico. Morto este, a criatura é convidado a se desapegar de sua antiga personalidade, com todos os atributos e feitos a ela vinculados, para continuar desenvolvendo a sua individualidade eterna como espírito – que não pode ser enquadrada em quaisquer ordens de limitações ou rótulos.

(Notas do médium)