Benjamin Teixeira
pelo espírito Gustavo Henrique.
O século XIX chegava ao seu término. O Espiritismo muito forte ainda na França, dava as primeiras mostras de entrar em franco declínio no seu berço, bem como numa crise de morte em todo o mundo. Algo de urgente e dramático precisava ser feito para reverter o quadro. A Metapsíquica, bem como as expressões do cientificismo materialista, os ataques das religiões convencionais e o cepticismo geral da população estavam sufocando, a pouco e pouco, o gérmen do Paracleto enviado por Deus, o Consolador Prometido por Jesus, em sua passagem pela Terra.
Certo dia, em meio a grande sentido de urgência e providência, uma grande legião de espíritos de alta envergadura evolutiva reuniu-se, em assembléia, a deliberar o que seria feito, para bem da Humanidade, antes que sérios acontecimentos, fatais para toda a civilização, tomassem rumo de ocorrência, precipitados pelo materialismo dominante. A questão é que complexíssimos e importantes programas de destino estavam sendo planejados para que o Espiritismo fizesse frente ao materialismo, de modo substancial, a partir do século XXI.
Não era possível enviar toda uma legião de almas redimidas à Terra, como se fazia necessário, porque a hora não era chegada da renovação planetária. Os néscios e os loucos ainda teriam que ter livre espaço para a manifestação de suas patologias morais e delírios. Após longas e profundas elucubrações para o que poderia ser feito, tinha-se já como certo que um único grande missionário precisaria reencarnar. Uma alma excepcional, que conjugasse inteligência e doçura, força e caráter, que encantasse com sua aura de santidade e ao mesmo tempo orientasse com sua fibra de gênio. Alguém que fosse orientador e médium ao mesmo tempo, um anjo que servisse a todos os propósitos, simultaneamente.
No momento em que mais fortes se faziam as expressões de gravidade e reflexão em torno da temática, e em que todos começavam a voltar seus pensamentos para o Mais Alto, em busca de uma solução ideal para a questão seriíssima, uma Luz Extraordinária surgiu no ambiente, a todos deslumbrando pelo prenúncio de uma grande visita. E, em meio aos revérberos espetaculares, de intensidade solar, delineou-se, de início pálida depois claramente, a silhueta de uma forma humana. Percebia-se visivelmente, que o Ser, quem fosse, fazia um esforço tremendo para reduzir sua potência psíquica e se tornar acessível a todos, apesar da já tão alta condição evolutiva dos que ali se encontravam. Mais alguns instantes e a forma de Homem Nazareno estava materializada na sala, irradiante, com olhar sereno e melancólico, dirigindo-se à platéia. Uma voz grave e aveludada, intraduzivelmente bela, então, chegou a todos os corações.
– Doce como o anjo mais puro entre todos. Sábia como o mais sábio entre os filósofos… É uma figura de mulher que quero enviar ao mundo…Há milênios conduzida por homens, chegou a hora de os corações femininos oferecerem seu contributo à alma coletiva, imprimindo sentimento e significado a acontecimentos e iniciativas.
Das profundezas dos séculos, quero tornar a enviar ao mundo, Cândida, minha querida Cândida…
A comoção e o sentido de reverência eram gerais, quando a figura majestática de ninfa santa cruza o ambiente e se dirige, em lágrimas, aos pés de Jesus, curvando-se e pondo-se de joelhos, devota. Inalterável, a figura imponente do Cristo, tocou-lhe o rosto mimoso com as mãos divinas e disse:
– Tu retornarás ao mundo físico, como a representação mais pura da santidade. Irás como uma figura impoluta de bondade e sacrifício pelo semelhante. Serás incompreendida e perseguida gratuitamente, como não poderia deixar de ser, tão a frente de todos com quem conviverá. Todavia, apresentarás, também, dotes excepcionais de faculdades psíquicas, capacitando-a a conviver, diuturnamente, com o mundo dos que estão do lado de Cá e dos que estão por lá.. Receberás mensagens esclarecedoras e de consolo para o mundo inteiro, e, por meio de ti, minha querida Cândida, meu Espírito de Verdade não periclitará, florescendo, pujante, em terras de Cruzeiro…
Entrementes, quero que vás incógnita, para protegê-la dos abutres variados, inimigos da causa do bem. Como minha ovelha predileta, quero-te escondida dos lobos mais ferozes. Assim, nascerás em corpo menos engalanado de beleza, muito pobre de posses, viverás em meio a incultos e não terás acesso à instrução… e.. por fim, quero o maior de todos os disfarces…
Desse modo, minha querida Cândida, eu te envio ao mundo em meu nome e peço-te que apascentes as minhas ovelhas, conduzindo-as ao redil de meu Pai. Eu te envio, Cândida… e te nomeio Cândido… Francisco Cândido Xavier…
E o Cristo explodiu em expressões espetaculares de luz, deixando a todos, em meio a uma aluvião de emoções transcendentes… Pouco tempo depois, em 1910, numa diminuta cidadela do interior brasileiro, nasceria o menininho mestiço e sem graça que transformaria o coração nacional e tocaria o mundo inteiro nos séculos porvindouros, como referencial de pureza, devotamento e abnegação à causa do Cristo. Nascia, dessa forma, aquele que seria conhecido por Chico Xavier…
E muitos não saberiam dizer por quê, mas sempre que se aproximavam do cândido Chico, comoviam-se profundamente e uma forte e penetrante energia de mãe os fazia terem ímpetos de se colocarem de joelhos ante aquela alma virginal e santa, que se ocultava sob a alcunha humilde de um apenas Chico, esquecido e ignorado, perseguido e desdenhado, mas seguindo com o Cristo no coração, espalhando amor e ternura por toda parte, incondicionalmente, em medidas infinitas, em nome do Enviado de Deus…
(Texto recebido em 21 de dezembro de 2001.)