(Um relato de experiência de quase-morte e a conquista da fé.)
por Benjamin Teixeira.
Até hoje, a visão mais bela, profunda e espiritual do Amor Divino tem-me sido a enunciada pela preclara mentora espiritual Eugênia. Ainda em 1989, acordei na calada da madrugada, certa vez, semi-incorporado, com a mestra desencarnada a me dizer não me preocupasse com o contexto de problemas que enfrentava na época, já que “Deus é Infinita Bondade”, e, por conseguinte, tudo se resolveria ao tempo certo. Em 1996, pela primeira vez, a orientadora espiritual aludiu ao universo como sendo o útero da Maternidade Divina, estando todas as criaturas imersas no “líquido amniótico” de Sua Infinita Bondade. Ela verbalizava sempre este conceito, sobremaneira quando em prece, falando do arrebatamento, do êxtase, do estado de graça que demonstrava vivenciar, pelas ondas de luz branca a se exalarem de todo seu ser, com o olhar fixo no infinito, qual se contemplasse visões miríficas, prenhe do sentimento de entrega, devoção e enlevo.
Em 1999, em viagem pela quarta vez aos EUA, realizando circuito de palestras na região de New England, visitei algumas livrarias em Nova York, procurando a literatura específica sobre “experiências de quase-morte” – que muito me agradava e era (como ainda o é) demasiado escassa nas traduções em Português. Foi quando me deparei com o clássico: “You Can See the Light – How you can touch eternity – and return safely”, da Ph.D. Dianne Morrissey, sem dúvida, um “ser de luz” – como se costuma denominar no meio espírita, aludindo-se a espíritos de escol –, conforme a própria autora revela ser, com naturalidade e visivelmente sem pretensões, em meio ao relato de sua vivência de proximidade da morte:
“At the moment, an awareness overtook me – I am not my physical body! This realization made me feel so free, so wonderful! My spirit was glowing with a white light that illuminated the entire room. I tilted my head and looked down at my body once again, this time with a sense of compassion. I had no tears for Dianne, no remorse. My spirit was free!” (*1)
Nenhum remorso, nada por que se lamentar, e iluminando, com a própria aura, o compartimento inteiro (a lavanderia de sua casa, onde ela sofreu uma eletrocussão acidental, no manuseio da máquina de lavar roupa) – ou seja: um espírito com elevação de sentimentos tal que clareava o ambiente onde estava, não tendo nada do que se arrepender numa existência inteira de erros e acertos. Não por acaso, é claro, da perspectiva de quem conhece a Luz Divina – por já ter muito maior sintonia com Ela –, a descrição do Amor promanado da Iridescência Imarcescível de Deus é de uma beleza poética e filosófica fora dos padrões terrenos:
“I could actually ‘feel’ Heaven all around me. The rapture and peace were beyond my wildest imaginings, and I wanted to stay here forever and ever.
Do you remember how it felt, long ago, to be held and rocked in your mother’s loving arms? Take this to the hundredth power and you’re still light-years away from the feeling of total peace and comfort that surrounded me. I felt the love of every mother in the universe being poured inside me for now and for all eternity.” (*2)
Só vemos o que possuímos dentro de nós mesmos – é um princípio fundamental da percepção, como dito por psicólogos, psiquiatras e agora até especialistas em física quântica (e conforme nos asseveraram, de sempre, os maiores místicos e luminares das grandes tradições espirituais da Terra). É por isso que, em nosso orbe, as descrições do inferno ou de intensos sofrimentos freqüentemente são magistrais, ao passo que as reportações ao paraíso ou sobre experiências que envolvem sentimentos ou ideais muito nobres, além de raras, pecam por um primarismo que raia o infantil. Para completar, quando estes depoimentos são genuínos e apropriados, dada a falta de parâmetros conceituais no domínio físico de existência, normalmente são repletos de metáforas e paradoxos, que, amiúde, levam muitos, que não conhecem, por si mesmos, tais experiências, a supô-las como meras e confusas abstrações ou jogos sem nexo de palavras.
Mas… apesar de tudo isso, todos somos inapelavelmente tragados para o Céu, e, cedo ou tarde, cada um de nós atravessará vivências seminais de transformação espiritual que nos farão enxergar a Luz Sublime do Infinito Amor de Nosso(a) Pai-Mãe Celestial.
Visualizemos a Luz Divina, branca e acolhedora, em nossas orações e meditações, repetindo este procedimento, sistematicamente, todos os dias, e procuremos sentir, no momento de tais idealizações, elevando o diapasão de nossos corações, a Vibração Contínua da Bondade Intérmina da(o) Senhora-Senhor do Universo, que sempre nos irradia força, inspiração e paz. Com o tempo, permeabilizaremos nossas psiques, de modo a permitir sejam infiltradas por estes eflúvios catalisadores, por estas enxertias sagradas, que nos provocarão a “metanous” (metanóia) – aquele mesmo fenômeno exarado nos textos originais dos Evangelhos, traduzido para os idiomas neolatinos modernos no verbete correlato “conversão”, que lhe empobreceu, contudo, em muito, a acepção profunda: “transformação mental para melhor” ou “transcendência dos próprios processos mentais”.
Deus, porém, justamente por Sua Perfeição, sendo infinito respeito, além de infinita bondade, jamais nos imporá Sua irradiação benfazeja, ainda que seja a emanação de Seu nutriente e extasiante Amor… Escolhamos, então, este Melhor Divino, e o paraíso virá para dentro de nossos corações, gradativa, mas efetivamente. Após iniciarmos este processo, ainda sofreremos conflitos, embates, desafios, mas a ótica de enfretamento será outra: de maior imperturbabilidade, de serenidade, de paz… e, progressivamente, maior felicidade!…
Façamos, em todos os setores de nossas vidas, a nossa parte, em termos de responsabilidade, assumindo o compromisso ético de encarar a existência com racionalidade e pragmatismo. Todavia, que, em nosso prisma de abordagem do mundo e em nossa filosofia de vida, nunca nos falte a fé, a completa e irrestrita confiança no Ser que nos merece todo crédito, toda entrega, toda devoção…
(Texto redigido em 17 de dezembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)
(*1) “Naquele momento, um lampejo de consciência me tomou – ‘Eu não sou meu corpo físico!’ Essa percepção me fez sentir tão livre, tão maravilhosa! Meu espírito irradiava uma luz branca que iluminava todo o compartimento. Inclinei minha cabeça e olhei para baixo novamente, desta vez com um sentimento de compaixão. Eu não tinha lágrimas por ‘Dianne’, nenhum remorso. Meu espírito estava livre!”
(*2) “Eu podia realmente sentir o Céu em torno de mim, por todos os lados. O sentimento de arrebatamento e paz era além das minhas ousadas expressões de imaginação, e eu queria permanecer ali para sempre.
Você se lembra de como era o sentimento, há muito tempo, de ser segurado e balançado nos braços amorosos de sua mãe? Pois pegue isto e multiplique cem vezes, e você ainda estará a anos-luz de distância do sentimento de total paz e conforto que me envolvia por todos os lados. Eu senti o amor de cada mãe no universo sendo vertido para dentro de mim, por aquele momento e por toda a eternidade…”
(Trechos do cap. 1º de “You Can See the Light – How you can touch eternity – and return safely”, de Dianne Morrissey. Tradução livre do Médium, com revisão de Iris de Souza.)