(Episódios com o professor Gerard – 9)
Era crepúsculo do século XIX. Em região espiritual relativamente próxima da superfície de nosso planeta, encontramos o caro professor Gerard acompanhado de um dileto discípulo, com quem intimamente dialogava. O canal da egrégia Sophia de Alexandria, como sabemos, preferiu renunciar ao convívio mais direto com os(as) de sua estirpe evolutiva, para poder ser mais útil a almas que estagiam em faixas mentais menos adiantadas do orbe.
– Não compreendo, professor. Por que haveria necessidade de o senhor reencarnar duas vezes, em apenas um século? Não seria mais proveitoso o senhor ficar por aqui e inspirar um(a) emissário(a), à distância?
Com ar grave e olhar perdido no infinito, o ínclito representante de Esferas mais elevadas respondeu, quase num sussurro, como se vocalizasse um solilóquio:
– Há tarefas complexas demais para confiarmos a um(a) porta-voz. Ademais, estão em minha “ficha” cármica significativos compromissos com a coletividade deste rincão do sistema solar. Por outro lado, a primeira destas duas próximas existências físicas findar-se-á muito cedo, de tal maneira que constituirá praticamente uma preparação para a segunda, que deve ser mais longa.
O aluno, que desfrutava de intimidade suficiente para ter acesso a assuntos mais confidenciais do orientador, prosseguiu na arguição, bastante interessado em compreender-lhe os planos:
– As duas ocasiões em países lusófonos… Há alguma razão específica para isso?
Gerard não se fez esperar:
– Sim. As mensagens de atualização do pensamento cristão, nos dois séculos vindouros, devem partir desse grupo linguístico, sobremaneira as que provierem da Mãe Espiritual da humanidade…
Inconformado com o sacrifício de seu admirado mestre, o jovem retornou:
– Desculpe-me a insistência, professor. É, de fato, necessário que o senhor reencarne assim, em tão curto espaço de tempo, quando inclusive já poderia ter encerrado essas arriscadas e dolorosas descidas à crosta terrestre, em aparelhos físicos de manifestação? Já não configuram, de sua parte, esforço e renúncia bastantes o estar tão próximo à Terra, ainda que desencarnado?
Mais envolto em profundo estado de contrição, qual se divisasse quadros indefiníveis na tela do pensamento, redarguiu Gerard:
– Nossa família espiritual neste rincão planetário, Tenório, é expressiva. E muitos(as) de nossos(as) irmãos(ãs) desviaram-se grandemente da rota do bem. Enquanto as “portas do Paraíso” estiverem cerradas para um(a) deles(as) que seja, reencarnarei, sem descanso, milênio sobre milênio…
No espocar do século XX, Gerard desceu ao domínio de matéria densa, vindo a óbito no início da adolescência, durante a terrível pandemia de 1918 – que se estendeu pelos dois anos subsequentes, quando ocorreu seu decesso. Em seguida, passando apenas cinco decênios na dimensão espiritual, regressou aos proscênios de vida física, em outra pátria usuária do idioma de Camões.
O preclaro professor continua nessa sua última reencarnação, que avança pelo século XXI, como uma nau em alto-mar, laborando na Causa de difusão do pensamento espiritual-cristão com a feição que adotam, na atualidade, todos(as) os(as) autores(as) genuinamente inspirados(as) pelo Plano Sublime de Consciência: o da abordagem da Feminilidade Sagrada.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Gustavo Henrique (Espírito)
LaGrange, Nova York, Estados Unidos
14 de outubro de 2022