Voz do Coração

Benjamin Teixeira de Aguiar
pelo
Espírito EUGÊNIA.

O que seu coração lhe diz, hoje?

Você sabe o que significa alguém perguntar, espiritualmente, sobre os reclamos do coração?

Muitos aventarão tratar-se de insuflações passionais, daquelas que pouco ou nada se distinguem dos comandos instintuais do cérebro reptiliano, a base encefálica próxima ao início da medula vertebral, o tronco cerebral ou bulbo raquidiano.

Outros ainda lembrar-se-ão das manifestações afetivas mais nobres, da família, da saudade, dos vínculos emocionais profundos com a pátria, o grupo social, o profissional ou até o religioso. Mas, lamentavelmente, não obstante tal natureza de liames seja frequentemente muito séria e, em muitos aspectos, sagrada, estamos, nesse particular, fazendo referência ao labor do denominado cérebro protomamífero, ou a parte central, média (em termos evolutivos da máquina bioeletroquímica magnífica, dentro da caixa craniana) do cérebro total humano, que compartilhamos com os animais quadrúpedes superiores e mesmo com os semibípedes, como os símios. Dessarte, ainda não chegamos à seara abençoada a que remetemos o(a) prezado(a) leitor(a).

Por fim, você nota aquela impressão sutilíssima, mas significativamente profunda d’alma, que concerne a sentimentos, nem sempre facilmente detectáveis. Amiúde, estão em consonância com a segunda categoria, quando, por exemplo, alinham-se com o amor à parentela biológica, ou com a religião formal a que o indivíduo esteja atrelado, ou ainda com os compromissos profissionais de que se veja investido… contudo… nem sempre! E, nesses momentos singulares de dissonância entre o campo do emocional e a faixa elevada dos sentimentos é que notamos, de modo especialmente traduzida, a dimensão excelsa do Espírito, da Alma, ou do deus, Cristo ou Anjo interiores. Isso porque tais vanguardeiros estarão endossados pelas Falas de Jesus e todos os luminares da História, quando afirmaram que a Espiritualidade deveria constituir a prioridade indiscutivelmente precípua, com predominância sobre todas as demais premências e valores da existência humana, pela qual deveríamos estar dispostos a tudo sacrificar, ou, como sempre é melhor considerar a hipótese, porquanto mais moderada e realista com as limitações psicológicas e morais do ser humano médio da Terra de hoje: por ela tudo ajustar e a serviço dela tudo colocar.

A intuição pode representar um mero palpite da experiência, um processamento de dados do inconsciente, tão mecânico e amoral como os fenômenos automáticos da memória.

A emoção talvez não passe de desregramento dos sentidos ou da plana relacional, sem maiores implicações morais, nem mesmo sofisticações psicológicas ou de conceitos filosófico-religiosos ou princípios de política de vida.

Os arrebatamentos de “estado de espírito” não raro consistem em “regressões psicológicas” a faixas primitivas do cérebro, qual se a pessoa voltasse ao passado filogenético atávico, circunstancialmente “possuída” pelo mamífero ou pelo réptil interiores que existem em sua própria estrutura neurofisiológica e que podem eclipsar, momentaneamente, o córtex e neocórtex cerebrais, a sede da razão e do sentimento mais humanos, propriamente, ou da semente de anjo ou divindade que portamos no âmago de nós mesmos.

Somente as impressões elaboradas e nobres (porque complexas o bastante para não se renderem nem a instintos, nem a comandos da cultura e do ambiente) configuram, dignamente, a Voz do Espírito, a Voz da Eternidade, a Voz de Deus, dentro de um indivíduo, com as inexoráveis, obviamente, filtragens (e distorções) que o patamar evolutivo de cada qual imponha, em termos de refração da Luz captada do Empíreo.

Conheça-se a fundo o bastante, para distinguir as três “vozes internas” ou conjuntos de “vozes” provenientes dos três departamentos axiais do ser humano encarnado – e mesmo desencarnado, visto que prosseguimos utilizando, quando ainda dotados de um corpo psicossomático, a mesma divisão tripartite do aparelho cerebral.

Com o tempo, notará situações-referenciais que lhe facilitarão o processo de discernimento das subpersonalidades que lhe compõem o Ser Total, algumas residentes num âmbito cerebral; outras, noutro; a maior parte estando um pouco em cada um dos três estratos, embora mantendo prevalência de expressão num deles. Vislumbrará, outrossim, aqueles “sub-eus” que, fronteiriços (e traiçoeiros), tenderão (e quererão) passar por uma coisa, sendo outra, como a voz da culpa, que não constitui necessariamente um movimento superior do espírito, conquanto possa revelar o início de sua expressão, numa psique por demais obnubilada, em determinado momento, por forças primitivas oriundas de si mesma, com ou sem insuflações externas.

Ore, medite, faça terapia, busque aconselhamento profissional abalizado. Observe-se sempre, em suas atitudes, nas projeções de raiva ou asco que você faz em terceiros ou em situações externas. Analise-se nas ideações sublimes do ideal, na degradação inconfessável dos pesadelos, nas dores ocultas da culpa e da vergonha. Estude-se e procure auxílio nesse aprendizado sobre si próprio(a). Você estará catalisando o processo evolucional a que está fadado(a), poupando-se de uma série de estações de sofrimento e crises existenciais, se o fizer com afinco e denodo.

(Texto recebido em 5 de agosto de 2012.)