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(Temas atuais e intemporais 01)


Delano Mothé e Benjamin Teixeira,
em diálogo com o
Espírito Eugênia.

(Delano Mothé) – Quanto ao caso da baleia orca que, apesar de adestrada há muitos anos, acabou provocando a morte de sua treinadora, numa apresentação pública… Segundo a fonte na imprensa que eu consultei, o animal já havia dado sinais de agressividade antes. Você teria algo a nos dizer sobre isso? Há algum alerta ou lição embutidos nesta infeliz ocorrência?

(Espírito Eugênia) – Sim, há, meu querido, e muito grave. Quando lidamos com forças muito poderosas (aquelas que provêm “do fundo das águas do inconsciente”, personificadas em figura de uma besta ou animal de porte vultoso, como a baleia orca – o que nos remete, facilmente, ao símbolo da sombra psicológica e ao Id ou subpersonalidade animal, que todo ser humano possui, em sua interioridade psicológica), precisamos ouvir-lhes os sinais, e não só captá-los, como tomar providências, em nossa conduta e rotina, que se coadunem com os avisos que estes sinais contêm. “As neuroses convertem-se em doenças”, advertiu-nos Jung, mas também transfundem-se, por canalização destrutiva (já que não foram devidamente sublimadas, ou seja: canalizadas construtivamente, em tempo), em rupturas de casamentos que pareciam sólidos, na quebra da conduta íntegra de alguém que, repentinamente, passa a demonstrar postura viciosa ou mesmo delinquente, após longo período de elaboração dos fatores degenerativos, no fosso fundo da inconsciência, entre outros eventos desastrosos.

Dessarte, como a treinadora, o ego humano pode se sentir muito senhor da situação, sem o estar, de fato. Tantos anos de adestramento poderiam parecer lhe dizer que se achava completamente segura, que nada tinha a temer. O ego é exacerbadamente focado no passado, no conhecido, no familiar, não admite mudanças, não percebe (e não quer reconhecê-lo, para não se sentir sem controle sobre sua circunstância) que vivemos num tecido de eventos em constante fiação, em processo contínuo de ruptura e reconexão com outras faixas de consciência, acontecimento e transformação. E, com isso, erra, e erra feio, em seus prognósticos sobre as problemáticas vividas, bem como, por conseguinte, na reação a elas.

Paremos de aplicar velhas fórmulas a contingências novas, abramo-nos aos fluxos da vida, complexíssimos e imprevisíveis, celebremos o caos, e aceitemos seguir nossas intuições e a voz da própria consciência, que nos alertam sobre a necessidade de mudar rumos, caso o orgulho e a pretensão de controle do ego (mais uma vez) não nos ensurdeçam e encegueçam para o que, progressivamente, faz-se óbvio, a ponto de gritante.

(DM) – Tenho duas questões pendentes sobre a tragédia do Haiti. A primeira, suscitada por seus comentários a respeito, ao final da incorporação de 17 de janeiro deste ano, publicada em nosso site. Fiquei intrigado com sua afirmação de que havia espíritos recém-egressos de faixas pré-hominais de evolução, em meio às vítimas do terremoto, porque eu imaginava que essa ordem de espíritos não reencarnasse mais na Terra, a esta altura da evolução planetária. Poderia estender ou aprofundar um pouco mais este tema?

(EE) – Sim, e estava certo em estranhar. O planeta terreno encontra-se em uma condição sui generis, na escala de evolução dos mundos, em que várias faixas evolutivas ou diversas categorias de espíritos têm oportunidade de conviver uns com os outros, acotovelando-se como iguais – o que, por um certo tempo, é excelente, por propiciar riquíssima permuta de valores para ganho geral, tanto de quem segue na retaguarda, estimulado a avançar, como dos que vão à frente, na vanguarda do adiantamento planetário, que encontram ensejo para testar e fixar suas conquistas evolutivas. Esta característica, porém, em função do avanço geral do orbe, terá que dar lugar a uma maior homogeneidade de padrão de consciência – se é que assim podemos nos exprimir –, mormente para que se não colapse a economia psíquica da Terra, inviabilizando sua sobrevivência e, consequentemente, seu adiantamento na hierarquia das civilizações humanas espalhadas pelo Universo. E este processo de transição – paulatino, se acompanhado da perspectiva temporal terrena (de quem esteja encarnado); muito célere, se considerarmos um prisma histórico (ou o nosso ângulo de observação: o do domínio extrafísico de existência) – já teve início, há um bom tempo, com o expurgo, primeiramente, de todas as entidades que estejam em estado de primitivismo pós-animal – isto é: muito próximo do nível dos símios superiores. Na etapa seguinte de “higienização da psicosfera terrícola”, teremos uma “expulsão”, em larga escala, de espíritos portadores de tendências irrefreáveis ao crime. Por fim, concluir-se-á o processo de limpeza moral do globo, por meio do alijamento das personalidades de carácter vicioso.

Quem apresentar, assim, inclinações ao crime (de qualquer natureza) ou a se fazer viciado (em qualquer droga lícita ou ilícita, bem como a desenvolver comportamentos viciosos) deve se preparar para a “queda de mundo” ou tomar uma decisão férrea de se modificar, intimamente, de modo substancial. A deportação das legiões primitivas teve começo à época de Kardec e está muito próxima de se encerrar. Neste século, assistiremos ao exílio dos criminosos, que se perfará na metade de tempo consumida para a retirada (mais suave) dos primitivos. No vindouro, haverá a deportação em massa das mentes viciadas, que acontecerá quase que de um movimento só. Como Benjamin internamente me pergunta, já respondo a ele e a todos os curiosos, sobre a extensão de tempo que demandará cada fase desta grande triagem planetária de entidades encarnadas na crosta: aproximadamente 180 anos, para o expurgo dos primitivos; 75-80 anos, para os criminosos; e uma única geração de 25-30 anos, para os viciados.

(DM) – Já a outra questão me ocorreu anteriormente àqueles seus comentários e diz respeito à presença da grande filantropa Zilda Arns, no Haiti, justamente no dia da tragédia, sendo inclusa no número das vítimas. Intuí que houvesse algum significado a ser decodificado – estou certo? Poderia nos dizer alguma coisa sobre isso?

(EE) – Sim, deduziu bem. Zilda Arns foi martirizada e glorificada, num gênero de morte que favorece uma ascensão mais fácil aos Planos Sublimes de consciência: o do desencarne violento para alguém que não o merece. Ela subiu, qual seta, a esferas mais altas de Vida, d’onde dará continuidade, em breve tempo, às suas atividades missionárias de socorro às multidões, com um nível de influência muito maior, agora que está desenfaixada dos grosseiros implementos físicos de manifestação psíquica. O contraste entre ela – um ser humano em vias de redenção final – e os primitivos encarnados, supliciados em massa, à sua volta, dá notícia, mais uma vez, de como é verdadeiro o princípio de que os extremos se tocam.

(Benjamin Teixeira) – Vem-me à mente, a partir do que você respondeu a Delano, que o contraste gritante de evolução entre Zilda e os primitivos lembra o tipo de planeta Terra que está deixando de existir, conforme sua assertiva, e que, então, o terremoto no Haiti marcaria, simbolicamente, este fim de ciclo.

(EE) – Sim, bem pensado e apropriado. A tragédia no Haiti é emblemática e marca um ciclo novo para a humanidade, neste sentido das grandes disparidades evolutivas, da heterogeneidade quase caótica e “inadministrável” de mentes e almas que a Terra tem portado sobre sua crosta, nos últimos dois séculos, em particular – eis o porquê do espocar das mais sanguinárias guerras e flagelos de caráter coletivo de todos os tempos da existência do ser humano no planeta.

Por outro lado, cabe-nos lembrar que o auxílio maior de Deus, em certas situações mais sérias de necessidade e miséria, vem com uma escuridão maior, que propicia mais luz em seguida, qual uma pessoa que jaz muito enferma, em corpo de carne sem condições de melhoria orgânica. O decesso carnal, que pode soar uma desgraça, da ótica dos vivos na matéria, constitui, em seu caso, a libertação de um aparelho biológico que não propiciava mais remendos. O mesmo se deu com o Haiti. Já era o mais pobre e desorganizado país das Américas. A quantidade de falhas era tão numerosa, grave e estrutural, que mais valeria zerar-se seu sistema civilizacional, para que pudesse então ser reiniciado, após a concitação internacional a socorro, pelas vias da piedade fomentada em larga escala através da mídia. Outra metáfora que traduz o princípio que aqui apresentamos é o da edificação muito antiga e prenhe de falhas letais na estrutura, desde as vigas mestras de sustentação, à fiação e encanamento vencidos. Melhor se faz, em tais conjunturas, demolir o prédio e realizar edificação nova, a partir da remoção dos escombros do antigo. Sociedades, povos, como indivíduos, amiúde carecem desta ordem dramática de socorro, que lhes possa, realmente, favorecer progresso, bem-estar e felicidade.

(Diálogo travado em 28 de fevereiro de 2010.)


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