Benjamin Teixeira pelo Espírito Eugênia.
A natureza de código de crença de diversos conceitos do cânone científico convencional é óbvio. Aqui estamos nós para tratar de algumas falhas estruturais do código de fé cientificista-materialista-ateu (*1).
A paleontologia revela, pelo estudo dos fósseis, a ocorrência multimilenar de um processo de complexificação progressiva dos organismos, das espécies mais primitivas às mais desenvolvidas. Assim, a evolução filogenética é um fato. No século XIX, porém, à falta de outro argumento para justificar esse processo, sem a interferência de fatores inteligentes, criou-se a estapafúrdia e tola teoria da seleção natural. Ninguém discute que, em certa medida limitada, a seleção natural compõe os processos de triagem de biótipos, em função da sobrevivência dos melhores. Mas, por meio dela justificar-se toda a intrincadíssima teia de criação da natureza, com sua biodiversidade assombrosa, e, principalmente, seu evidenciado espírito de propósito, no sentido de gerar seres sucessivamente mais desenvolvidos é, a dizer por baixo, estúpido. Geneticistas e biólogos de um modo geral são unânimes em dizer: os seres não precisariam ter-se complexificado para sobreviver e progredir nos ambientes naturais. Os vírus e microorganismos de um modo geral são extremamente eficientes em sobreviver e se reproduzir em ambientes inóspitos, mais adaptáveis e menos propensos a extinções que as espécies de organismos maiores. Simplesmente não se explica porque um fator “interno” aos organismos primitivos da época do caldeirão protéico da Terra primitiva fez com que parte deles tomasse o rumo das experimentações no universo “perigoso” dos seres multicelulares.
Biólogos evolucionistas da Universidade de Harvard, então, criaram o termo “tendência imanente à transcendência”, para dar um nome a este tal agente misterioso, inequivocamente presente, mas incompreensível para os padrões da ciência oficial, uma expressão, como se vê, de tom iniludivelmente místico ou espiritual. Para dar um acabamento maior ao pasmo de quem entre em contato pela primeira vez com esta informação, tais biólogos evolucionistas, em sua maior parte são entomologistas.
Mais curioso ainda é vermos como, em peso, uma extensa comunidade de homens cultos e inteligentes dá-se ao descalabro de acreditar em tolice tão óbvia como o mecanismo de seleção natural das espécies, como força motriz fundamental da evolução dos grupos filogenéticos. É a prova máxima de que há um certo padrão de irracionalidade e fanatismo na adoração à ciência, e, por outro lado, uma evidência de que a inteligência racional e os métodos e instrumentos de prospecção e análise da ciência não são suficientes para propiciar uma percepção profunda dos fenômenos da natureza. Há que haver a inteligência emocional, a impedir que questões íntimas se projetem na pesquisa científica, deturpando-lhe a isenção, com pruridos ideológicos e problemáticas idiossincráticas pouco disfarçados em teóricos e pesquisadores. Como também imprescindível haver a inteligência intuitiva, que confere ao indivíduo a capacidade de processar massas ciclópicas de dados, inferir-lhe significados e antever-lhe propósitos. Sem esta perspectiva finalística, teleológica, ninguém se pode aventurar a grandes conclusões a respeito do sentido da vida e do universo, do ser humano e de sua existência no mundo. Quem se aproxima de graves e profundas elucubrações filosóficas, munido tão-somente da lógica fria, fere a própria lógica, como alguém que desejasse medir as dimensões da Terra, munido de uma régua escolar e uma calculadora de mão, que, por mais precisos, seriam inapropriados ao gigantismo da tarefa. O fenômeno humano e o natural (ainda mais) são muito maiores que o que o espectro da ciência possa abarcar.
Voltando à questão da teoria da seleção natural, para justificar a evolução das espécies. Reza tal teoria (deveríamos talvez dizer: crença) que a transmissão do DNA, por falhas acidentais em seus processos de repetição, de uma geração para outra, na reprodução sexuada ou não, engendraria determinadas mutações aleatórias, sendo que, dentre elas, algumas incluiriam características que favoreceriam a sobrevivência do mutante, que teria, por sua vez, seus descendentes, por conseqüência, mais aptos a sobreviver também. Por mudanças mínimas na probabilidade de sobrevivência, tais mudanças de um único indivíduo se espalhariam por toda uma espécie. Um bom matemático teria muito a nos dizer sobre isso, claramente denunciando a fantasia crassa de tais especulações. Entretanto, abandonemos a questão meramente probabilística (como se a matemática pudesse ser ignorada em questões de Ciência – vejam a que nível chega o absurdo desta teoria) e voltemos à questão da teoria da seleção natural propriamente dita. Imaginemos, para fazer uma representação grosseira do que pretendemos dizer, que houvesse uma certa espécie de lagartos em determinado pântano do passado remoto de nosso orbe. E… bem… zás! Um belo dia, surgiu, por mera mutação genética, um par de asas num elemento da espécie, por mero acidente no processo de transmissão do DNA. Qualquer pré-adolescente perceberia o absurdo disto. Um sistema aerodinâmico como o ofertado pelas asas de uma ave é suficientemente complexo para, até hoje, ser objeto de estudo de engenheiros aeroespaciais. Se, de fato, um aparelho de vôo orgânico, bem acabado, surgisse num elemento da espécie original de lagartos, sem dúvida ele teria muito mais chances de sobreviver, fugindo de predadores e buscando alimentos com mais eficiência, mesmo porque todo o seu corpo teria uma formatação diferente, a fim de se adaptar ao processo de singrar os ares. Como, todavia, um sistema intrincado, como este, não poderia aparecer do dia para a noite, então, digamos, teria surgido tão-somente um ossinho fora de lugar no dorso do réptil no pântano. Em que medida, entretanto, um ossinho fora do lugar daria maior probabilidade de sobrevivência a um réptil? Por sinal, poderia impingir até uma desvantagem funcional, dificultando-lhe a sobrevivência, por constituir um apêndice incômodo para sua locomoção. E veja que nem estamos cogitando sobre a origem de todo o “conhecimento” sobre navegação aérea que teria que simplesmente “surgir” no cérebro do réptil que se converteria em ave, no correr de milênios sucessivos de mutações cumulativas, com uma “acidental” tendência a construir um avançado sistema de engenharia de vôo. Alguém francamente considera esta tese razoável? Não estaria sendo ela repetida e ensinada por falta apenas de quem a discuta mais aberta e corajosamente?
Está claro que as espécies evoluíram, como falamos assim: a paleontologia não deixa dúvidas, mas como e por que evoluíram é que “são elas”. Uma inteligência diretriz, um sentido de propósito, claramente é perceptível no trabalho de evolução das espécies e somente quem deseje renunciar ao bom sendo poderia se negar a se dar conta disto.
Não se explica, também, da ótica materialista, por que houve saltos no processo evolucional, em curtos espaços de tempo, espremidos entre períodos mastodônticos de tempo, com praticamente estacionamento dos processos evolucionais. Três bilhões de anos passaram, aproximadamente, de existência de vida na Terra, sem grandes mudanças de vulto, nas estruturas biológicas, nos animálculos rudimentares que povoavam o planeta primitivo até que, num espaço de, tão-somente, cinco milhões de anos, eclode o que se denominou de “explosão cambriana”, em que praticamente todos os grandes grupos filogenéticos surgem, “do nada”, espontaneamente, numa guinada evolutiva superior a tudo que aconteceu no um bilhão de anos anteriores. Não ficaria ainda mais óbvio que uma Inteligência ou um conjunto de Inteligências tudo observava e conduzia, já que esses processos de criação são visivelmente inteligentes, denunciando uma planejamento prévio e um fim colimado específico?
Podemos adicionar também, entre as não-respostas da pseudo-ciência do materialismo, a indagação de por que determinados troncos evolucionais pararam de se desenvolver, estacionando, por exemplo, na condição de anfíbios, ou de répteis, ou de mamíferos, enquanto outros continuaram a evolutir até a condição de primatas e deles até o homem… Um planejamento prévio e um agente diretor da criação não está também evidenciado neste “pormenor”?
Por fim, a biodiversidade, dentro destas grandes categorias de complexidade é, igualmente, inexplicável. Há seres, inclusive, de tal modo bizarros, com características inteiramente dispensáveis para sua sobrevivência, que continuaram a desenvolver certas propriedades, ao que parece, simplesmente, para “embelezar” a natureza. A fria seleção natural seria dotada de impulsos artísticos? Que o homem seja dotado deste atributo superior da abstração psicológica é uma coisa, mas supor que mero mecanismo acidental de falhas na transmissão de genes conduza a caprichosos processos de “embelezamento” das asas das borboletas, por exemplo, apenas para citar um detalhe simples no reino da entomologia, é pretender, de fato, repito, renunciar à razão, para “crer” num dogma de fé materialista.
Há uma “religião”, na pior conotação do vocábulo, abarrotando centros universitários e de pesquisa, de tal modo sutil em suas proposições ideológicas e dogmáticas, que se passa por uma não-religião. Este fanatismo totalmente inconsistente dos que acreditam na absurdidade evidente de que a matéria, como a compreendemos, é o início e fim de tudo, vai, todavia, derruir-se, cedo ou tarde, assim como a cultura supersticiosa de outros tempos foi desfeita, com os ares da própria ciência e tecnologia modernas, mais lúcidas e maduras.
Num futuro não remoto, haverá uma ciência que andará par e passo com a filosofia e a religião, de forma cooperativa. Não existem fenômenos religiosos, científicos e filosóficos, mas, tão-somente, fenômenos, que podem ser compreendidos de diversas perspectivas. E não caiamos na tolice preconceituosa e primária de supor que a religião seja inferior à filosofia e esta à ciência. Não existe uma escala de desenvolvimento entre elas. Compreensível entender-se tais deturpações na classificação das ferramentas epistemológicas, entre letrados do século XIX, mas não entre homens e mulheres inteligentes do século XXI. A ciência está impregnada de pré-concepções de ordem filosófica, como vimos acima, no exemplo estúpido do materialismo, bem como tais conclusões de ordem filosófica têm desdobramentos práticos na conduta e na moralidade dos indivíduos, o que poderíamos compreender como o início do terreno das religiões. E se alguém tem dúvidas de que a consciência é a base de tudo (ou o espírito), físicos têm se referido, desde o evento revolucionário da Física Quântica, no início do século XX, à “consciência subjacente a tudo”, que poderíamos, para não ficarmos com eufemismos pedantes, chamar, simplesmente, de Deus. E, para terminar de pôr abaixo a arrogância da ciência positivista, descobriram, em meio à polêmica por evidenciar-se a natureza organizacional básica da matéria, se ondulatória, se corpuscular, que as teses apriorísticas dos pesquisadores, suas pré-suposições interferiam nas realidades observadas, alterando os resultados concretos dos objetos em foco (*2). É isto mesmo: de pasmar! Como ser materialista ainda, diante de tais assertivas e descobertas da própria Ciência? Encerremos este brevíssimo ensaio, lembrando de Albert Einstein, a lenda incomparável da Ciência, que afirmou, há já mais de cem anos: “o materialismo desapareceu, por absoluta falta de objeto de estudo”.
(*1) Atente-se para a acepção da palavra cientificista, que é falsa ciência, ciência primária e supersticiosa.
(*2) Dilema da ciência parcialmente resolvido com o “princípio da complementaridade onda-partícula”, de Niels Böhr, pai da famosa “Escola de Compenhague”.
(Notas do Médium)