Nota do Médium:
Anacleto mais uma vez nos assombra. Nesse texto de menos de duas laudas, para tratar do tema abertura mental, respiga, com brilhantismo ímpar e seu peculiar espírito de síntese, um caldo de conceitos científicos avançados, extraídos de nada menos que a Física Quântica, a Teoria do Caos, a Teoria dos Sistemas e, não bastasse, também a Psicologia Arquetípica (imagine-se reunir tudo isso com coerência em uma página e meia de discurso sobre um único tema), além de fazer referências históricas precisas e módicas. Como sempre, com didática e profundidade, Anacleto, o grande gênio filosófico do além, nos ensina a pensar, desta vez considerando a importância de fazê-lo além das fronteiras de idéias pré-concebidas.
Benjamin Teixeira.
Aracaju, 24 de fevereiro de 2001.
Se você se policia demais, converte-se em polícia psicológica, bem como em sua contra-parte de bandido; e, com isso, os pólos arquetípicos do monge, do santo, do sábio, do mago, do herói, do menino, do deus-humano (O Cristo Interior), toda a multifacética gama de modos de ser e sentir fica negligenciada. Cai no simplismo barato do maniqueísmo, esquecendo-se de que a vida não é dicotomizada mas poli-polar ou, como melhor seria dizer: onipolar.
Você é uma totalidade complexa e indivisa. Não pode viver em função de alguns poucos aspectos de si, ou gerará desequilíbrio e mutilação íntima. Pode reconhecer – e deve – que certos pontos são de fato prevalentes, indicando a missão, o propósito de uma existência ou de um conjunto de vidas sucessivas. Mas isso não implica em omitir de elaborar os processos psíquicos relacionados às outras partes de si, ou a omissão nesses âmbitos contamina os núcleos centrais da personalidade, ou seja: compromete a eficiência, a qualidade e a força justamente das tendências e talentos mais desenvolvidos no indivíduo, ironicamente por tanto se dedicar a eles, em detrimento dos outros. Como essa totalidade, como dissemos, é indivisa, os elementos, estando interligados uns aos outros, repercutem suas problemáticas e sucessos uns nos outros.
Policie sua tendência a se policiar e policiar os outros. Mantenha-se em harmonia com a polifonia de sua alma, para que não se torne presa da probreza monocórdia de um só tom, de uma só nota. Seja crítico, mas também crítico em relação à crítica. Excesso de julgamento atrapalha a análise isenta. Procure ser prático e parta do pressuposto de que você, como todas as criaturas do universo, é um ser em construção, e que, portanto, não pode se fechar em nenhuma decisão cabal. Tudo deve ser escolhido e feito em aberto, o que é endossado pelo princípio da incerteza, da Física Quântica (*1). Ou seja: cuidado quanto às certezas, aos fatos inequívocos e às realidades indiscutíveis. A História da Humanidade apresenta um deprimente quadro de conseqüências nefastas, sempre que presunções de verdade assolaram a mente humana, desde as atrocidades cometidas no âmbito político-social, como as do nazi-fascismo da primeira metade do século XX, às barbaridades inqualificáveis do campo religioso, como as das Santas Cruzadas e as da Santa Inquisição.
Seja flexível, seja lúcido. Se você reconhece que não sabe tudo, necessariamente terá que pensar e viver sempre em aberto. As maiores oportunidades de criatividade e revolução surgiram disso: do questionamento ao estabelecido. Não o protesto pelo protesto, mas a sublevação consciente, com causa e razões definidas e sábias, fazendo buscar, a partir do caos, a ordem num nível de complexificação mais alto, como propõe a Teoria do Caos. Jesus foi um subversivo transcendente. Muitos rebeldes, todavia, não passam de psiques adolescentes, gritando por não aceitarem não estar no lado dos opressores. Quando de sua eventual ascensão social, as estranhas e patentes contradições de sua atitude para com seu antigo discurso bem demonstram esse fato.
O princípio dos organismos vivos, estudado pela Teoria dos Sistemas (*2), dá notícia da necessidade inelutável de se ser aberto, para que não se estanque o fluxo de manutenção e evolução da vida. Todo sistema fechado se desatualiza – se assim pudéssemos dizer – e, sem a rede de retroalimentação necessária à sustentação da vida, fenece.
Cuidado com toda forma de preconceito, de limitação auto-imposta, de conceitos auto-castrantes. O objetivo da vida é expansão, felicidade, progresso, realização. O que fugir a isso, indubitavelmente, fere, frontalmente, seus princípios basilares e sua razão fundamental de existir.
(Texto recebido em 23 de fevereiro de 2001.)
*1: Estudo de autoria do físico alemão Karl Werner Heisenberg. (Nota do Médium).
*2: Estudo de autoria do biólogo canadense Ludwig Von Bertallanfy. (Nota do Médium)