Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
As obsessões fazem você:
Ver dragões onde há minhocas;
Impacientar-se a troco de nada;
Interpretar com malícia as intenções alheias;
Ficar a todo tempo tenso, como se houvesse perigos em toda parte, e qualquer um fosse atacá-lo a qualquer momento (impulso paranóico);
Desejar fora de hora ou medida ou de alvo;
Ter surtos de raiva, inveja, posse ou poder em relação a pessoas, acontecimentos e posições sociais ou propriedades materiais;
Sentir pena de si, colocar-se como vítima ou ao contrário: com culpa por tudo e condenado inapelavelmente;
Ter medo, além do razoavelmente esperado, e sentir-se continuamente ameaçado, pela velhice ou pela doença, pela crítica ou pela pobreza, pela injustiça ou pela ingratidão dos outros;
Sentir-se caso perdido, sem esperanças ou meio de resgate e salvação, sem acreditar em si mesmo, em Deus ou em ninguém, impelindo-o a render-se, por fim, à total desesperação.
Claro que há momentos em que o perigo e a traição são reais, em que o ataque de fato acontece e em que o impulso de agir imediatamente está certo e oportuno. Falo, porém, do estado de estresse, angústia, medo e desconfiança sistemáticos, que confundem a psique, infelicitam-na, atrapalham as percepções e avaliações que se façam de eventos e pessoas e que por fim levam a alma a um estado de negatividade e de mesquinharia que acaba por se instalar no comportamento do indivíduo, com variantes concorde a personalidade do envolvido pelos tentáculos do mal.
Outrossim, importante observar que aludi a “obsessões” e não a “obsessores”, visto que, amiúde, todo processo perturbador tem nascente e escoadouro no próprio psiquismo do indivíduo; e pelo fato de que, além do mais, ainda que haja agentes externos (encarnados e desencarnados: e muitos há, mais do que se gostaria de admitir) a insuflar padrões patológicos de pensamento e sentimento, são as estruturas conceituais e emocionais do próprio “obsediado” que entram em ressonância com a vibração do inimigo exterior, para, então, colher-lhe as sugestões telepáticas, induzidas ou verbalizadas.
Para imunizar-se deste assalto constante das forças constituídas do mal, lembre-se de que o mundo em que está encarnado é bastante rico de expressões contrárias ao impulso do bem, como de patógenos com relação à vida orgânica complexa, multicelular, e que somente com um sistema psicoespiritual de defesa eficiente é possível proteger-se das constantes tentativas de invasão e controle por parte dos “inimigos espirituais”, da mesma forma que um sistema imunológico é imprescindível ao corpo físico, para sua defesa.
Importante ainda distinguir invasão de controle. Sempre há elementos destrutivos pervagando a mente saudável e sob auto-domínio, apesar de tais agentes não determinarem seu comportamento, nem lhe dominarem seus fluxos de raciocínio e emoção. É o mesmo que acontece com a enormidade de microorganismos potencialmente fatais, que pululam na corrente sangüínea, no aparelho digestivo e na pele de seres humanos e animais, nem sempre causando enfermidades, pelo contínuo combate levado a efeito pelo sistema imunológico.
E o que seria o sistema de defesa psicoespiritual, espécie de sistema imunológico psicológico-moral? Um conjunto de reações condicionadas altamente lúcidas e espirituais, com aspectos intelectivos e emocionais, em perfeita comunhão com a fé, que canaliza para o indivíduo o socorro de inteligências mais avançadas e bondosas, representantes de Deus, no intuito de vencer no embate com os agentes da desagregação e da decadência.
Oração, auto-disciplina, estudo constante, auto-crítica, um consolidado sentido de responsabilidade por tudo que acontece consigo ou em torno de si, generosidade, devoção, paz – tudo isto em regímen de esforço permanente, esforço paradoxalmente sereno (para que não haja pane, colapso, em uma psique sobrecarregada), como uma fortaleza que se erigisse dia a dia, portas a dentro de si mesmo, assim como o sistema imunológico que se fortalece, em contato com agentes nocivos, como se dá com criancinhas que andam de pés descalços ou profissionais da saúde que trabalham horas por dia em ambientes infectados sem contrair enfermidades graves, frequentemente, como seria de se esperar.
Assim, em vez de mal-dizer as obsessões, entenda que constituem seu maior auxiliar evolutivo; e que, através da relação ativa que desenvolva com elas, no sentido de ininterruptamente processá-las, empenhando-se, quanto possível, em não se render às suas sugestões, estará não só fortalecendo, amadurecendo e enobrecendo seu caráter e sua personalidade, como ainda gerando meios e poder de auxiliar seus entes queridos e todos que puderem usufruir de sua influência pessoal.
Percebe-se, assim, mergulhados como estão os encarnados em verdadeiro oceano de energias e freqüências mentais díspares, por motivo algum, se pode relaxar no seu esforço de vigilância. Não por acaso sugeriu o Mestre Amado que vigiássemos e orássemos para não cairmos em tentação, porque, de fato, a todo instante, está-se, quando encarnado, sob saraivada contínua de forças deletérias e em desajuste, um bombardeio constante de vibrações desencontradas, que exigem permanente determinação e combate da alma devota e da mente lúcida, no sentido de manter o equilíbrio, a paz e a operacionalidade em seus vínculos, compromissos e responsabilidades assumidos, até mesmo em atividades de lazer, repouso e interação descontraída entre companheiros.
Cuidado, em particular, com toda forma de vaidade excessiva, orgulho ferido, medos contínuos ou prevenção sistemática com relação a certas pessoas (pode, mais do que imagina, estar sendo hipnotizado para mal-querer alguém, ou projetando questões íntimas suas, inconscientemente), pessimismo ou depressão, desejos, iras, invejas, ciúmes ou ambições desmedidas, complexo de culpa, vítima ou inferioridade, bem como puritanismo ou fanatismo (com ímpetos de “caça às bruxas” ou à perseguição de “bodes expiatórios”) porque, sem dúvida, por suas portas – mais do que se costuma supor no plano físico, em discursos bem elaborados pela racionalização do ego-razão, que sempre encontra motivos para justificar o injustificável e construir uma realidade paralela de significados para pretextar o que deseja viver – as obsessões adentram e, amiúde, infiltram-se nas mais profundas entranhas da alma, enovelando-a em sufocantes cipoais de mesquinharia, ódio, desejo de vingança, maldade e desconfiança, que, não raro, consomem séculos e encarnações sucessivas, para que seja propiciada libertação de seus cativos semivoluntários, semizumbis, condenados pela loucura parcial de infelicidade a que se confiam…
(Texto recebido em 24 de janeiro de 2006.)