Benjamin de Aguiar e um Anônimo,
em diálogo com o Espírito Eugênia.

Apesar de termos uma plateia muito heterogênea – entre executivos e acadêmicos, socialites e empresários, estudantes e aposentados, artistas e funcionários públicos ou privados, conservadores e transexuais, gays e divorciados, gente “avulsa” e bígamos “resolvidos” –, dois grupos parecem estar crescendo significativamente na nossa aldeia de todas as tribos: a de homens heterossexuais e a de pessoas jovens.

Acho muito interessante que sejam justamente esses dois segmentos, porque eles indicam, em nossa abordagem, na Escola da Sabedoria e da Felicidade, a tendência a respeitar a objetividade, a racionalidade e a base factual, tanto quanto a atualidade de nossas considerações em público.

Um destes “espécimes novos” – que me parece pertencer aos dois grupos, concomitantemente, ainda nem havendo completado 25 anos –, passando pela barreira de conselheiros que me ajudam a atender a multidão (seja presencialmente ou pela internet), remeteu-me e-mail curioso, em meio a um diálogo que travamos há algum tempo, após uma crise de consciência que sofreu, ao se perceber em falta. Segue-se um trecho da carta eletrônica dele (o que importa ser publicado), que o Espírito Eugênia pediu trouxéssemos a lume, como uma provocação a um diálogo mediúnico.

A pergunta foi originalmente dirigida a mim, mas fiquei extremamente satisfeito que a Mestra se dignasse a nos auxiliar em matéria tão delicada. O que aparece entre colchetes, dentro da fala do rapaz, é de minha lavra, em caráter de comentário.

(Anônimo) – (…) Li também o texto que você me recomendou: “A Faixa Mental da Sabedoria” [de autoria da própria Eugênia, disponível em nosso site]. Nem parece que eu li esse texto, no dia de sua publicação: pareceu que agora foi a primeira vez. Obrigado por sugeri-lo!

Não por acaso o Self, do Inglês, parece-se, foneticamente, com o Céu, do Português [reportando-se ao artigo da Grande Sábia]. E o “I” do Inglês parece com “ai!” do Português – rs. [Achei um lindo “insight” – e sábio – desse rapaz tão novo, em assunto demasiado sério: um lampejo que se me afigura complementar ao que Eugênia propôs em sua peça de lucidez e didática.]

Brincadeiras à parte, pedi inspiração, nas minhas preces agora, de 1h da manhã, sobre o que fazer, como colocar em prática esses conceitos, já que acabo enxergando-os tão abstratos, que desisto de tentar segui-los – como seguir a voz da consciência, aceitar minha sombra [psicológica], etc. Então, p’ra ajudar, escrevi num papel e deixei aqui, na minha frente, para ler várias vezes, todos os dias:

“Seja lento e profundo. Sua consciência não fala, se você não dá tempo a Ela.”

Você achou apropriado? Tenho uma boa intuição sobre isso – emocionalmente me agradou. Essa questão de viver afoito é muito desagradável: fico a ouvir só o que eu desejo – ego, ego e depois ego –; facilita muito, depois de dar as “ratadas” como essas duas últimas, eu parar para respirar fundo, fazer preces e desacelerar essa “afoitice” minha. Estão esses papéis [com a frase acima, entre outras] espalhados pelo meu quarto e até no carro. Assim que os vejo, não importa o que esteja indo fazer, paro e obedeço ao que está escrito neles.

(…) Sei que você pode dizer que isso é buscar meios fora, para resolver o que está, na verdade, dentro… mas eu sou tão cego p’ra me enxergar! (…) Ajude-me, por favor…

(Espírito Eugênia) – Meu querido filho: como, num certo momento recente, eu mesma me posicionei a respeito da sua questão, e como o assunto é de extrema valia para ser abordado diante da coletividade, tomei a iniciativa de pedir palavra ao porta-voz encarnado, que ma concedeu, gentilmente.

(Risos – meus, de Benjamin: é uma honra, um dever e um prazer servir ao Plano Sublime, e não uma gentileza. Eugênia, amabilíssima como é, tem o condão de transformar obrigações nossas em cortesias feitas a Ela.)

Primeiramente, mister recordarmos a pérola de consciência profunda que nos remete à realidade de que o externo e o interno são perspectivas ilusórias da mente humana, que apenas facilitam o entendimento do que ocorre em torno e por dentro da criatura, assim como se pode dizer o mesmo em relação ao que é passado ou futuro. Tudo se entrelaça, na Criação Divina. Inúmeros autores, mesmo no domínio físico de vida, têm alertado para o fato de que o mundo exterior constitui uma espécie de espelho para o que se dá no cosmo interior do indivíduo: um tipo de facilitador do processo evolutivo. Eis por que, então, atraímos, para fora de nós, mas dentro do espectro de nossos relacionamentos e ocorrências próximas, pessoas e situações que condizem com pendências psicológicas ou urgências evolutivas que nos caracterizem, em dado momento de nosso histórico espiritual.

Tomar rédeas, parcialmente, desse processo, com a gerência do próprio ambiente, é de muito bom alvitre. Organizar a mesa de trabalho, para melhor coordenar as ideias; fazer uma faxina doméstica, para higienizar o próprio coração; cuidar dos entes queridos, para aprender a amar a si próprio… e, quanto possível, desdobrar tais atividades em “estado meditativo”, ou seja: consciente de que se está fazendo algo dentro de si e consigo, simultaneamente ao que se realiza no plano externo.

Como muito bem você disse, criativamente, em sua cartinha eletrônica: “eu me-edito”, o ser humano pode, de fato, até certa medida, administrar a construção de si mesmo. Todavia, faria uma ressalva, com muita ênfase, ao seu trocadilho: é que ele implica controle, e ninguém tem este poder sobre si. Nenhuma criatura pode, com sucesso, apenas por desejar, determinar a si: “A partir de hoje, não incorro mais neste deslize” ou “De hoje em diante, não portarei mais este defeito”. Os processos psicológicos são muito mais complexos que isso, meu querido muito jovem (embora inteligente) discípulo. Afaste-se, quanto puder, dessa arrogância do ego em arvorar-se a ter poder para decidir inteiramente em causa própria. Precisamos nos abrir à mudança, trabalhar arduamente nesse sentido, ser perseverantes, mas não tomar a decisão pela modificação definitiva, porque a transformação é, em última análise, uma Graça que nos acontece por crédito espiritual de nosso empenho íntimo, e não um resultado de nossos esforços. Os conceitos são vizinhos, mas, em essência, meu querido, distam um do outro na proporção de um abismo.

Sei que isso soa contraditório, com toda nossa proposta de autorreforma d’alma. Mas ficará mais claro, quando recordá-lo de uma metáfora que utilizamos, com certa frequência, neste trabalho psicográfico e psicofônico, desde os anos 1990: ninguém controla a própria digestão, não é isso? Você coordena o processo de liberação das enzimas, em seu trato digestivo, após uma refeição? No entanto, pode administrar, de modo parcial (não totalmente, por causa da psique envolvida – de novo), a ingestão de alimentos, não é mesmo? Pois saiba que essa alegoria é muito pobre, quando comparada aos intrincadíssimos emaranhados mentais de impulsos e condicionamentos que nos advêm d’outras encarnações e que se reforçam e imbricam com emanações psíquicas de indivíduos e grupos (encarnados e desencarnados), e que terminam ainda sendo influenciados por ideias preconcebidas de nós mesmos, a nosso próprio respeito ou sobre o mundo, inclusive no que concerne a conceitos autolimitantes.

Em suma, concordo com seu esforço de espalhar lembretes do que considere essencial para sua transformação, sejam em papel-celulose, em páginas eletrônicas ou despertadores digitais.

Mas antes de encerrar esta minha fala, gostaria de fazer outra ressalva, que tangencia sutilezas de semântica (e suas repercussões emocionais de vulto) na composição da sua “frase-chave” (porque podem sabotar, a longo prazo, seu objetivo): ser “lento” não é algo positivo. Talvez para você, tão agitado, o seja, em parte (risos). Contudo, se é possível substituir por outra palavra-conceito, desde antes de você superar o transbordamento de hormônios e vitalidade característicos à sua idade e gênero, por que não o fazer, de molde a não engendrar vícios antagônicos aos que hoje porta, que lhe darão igualmente trabalho para serem erradicados? Sugiro a permuta pelo adjetivo “tranquilo” ou pelo menos “calmo”, porquanto pedir que você se qualifique como “sereno” seria excessivo, creio, ao menos para logo, já que sua própria mente rejeitaria a ideia, como muito abstrata novamente, por estar demasiado distante de seu universo presente.

Mãe e professora, confiante de sua vitória (gradativa) sobre as próprias inclinações destrutivas, convertendo-as em tendências construtivas,

Eugênia.

(Diálogo travado com o Espírito Eugênia – médium Benjamin de Aguiar –, em 19 de janeiro de 2011.)