Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Se alguém não está agindo de acordo com o quadro de valores de uma determinada instituição, e não havendo perspectivas plausíveis de este indivíduo modificar sua conduta ou seu padrão de interação com o conjunto, deve ser ele alijado do meio, ou, ao menos, modificarem-se as funções e incumbências, a posição e o nível de poder que lhe são delegados, para que, então, não acabe por arruinar o todo de que faz parte. Pode-se, por exemplo, pô-lo na periferia da organização, afastando-o do núcleo diretivo, onde possivelmente seria mais lesivo.
Portanto, não deve haver preocupação por se colocar, nas bordas da estrutura organizacional, uma personalidade mais complicada, porque, ainda que um grupo seja muito especial, em diversos sentidos, como aqueles que são compostos de pessoas mais amadurecidas, instruídas e lúcidas, mesmo assim, como agremiação humana, representa, em certa medida, um microcosmo da sociedade como um todo, de tal sorte que sempre haverá elementos perigosos, tramando, consciente ou inconscientemente, pela derrocada do conjunto. Estando-se vigilante – e sempre se deve ser –, o perigo fica existente (como sempre o há, em toda instituição, quer se pretenda admitir ou não, quer seja enxergado ou não), mas permanece sob controle. Paradoxalmente, o risco se torna, destarte, neutralizado. O realmente perigoso – a ponto de indicar uma probabilidade concreta de fenecimento da entidade coletiva que se pretende preservar da extinção – é não divisar os fatores de risco, e, assim, deixar que eles teçam seus fios insidiosos de desagregação dos grupos sociais, até que seja tarde demais para se reverter o estrago gerado por sua atuação, ou que, pelo menos, muitos elementos componentes da microcomunidade tenham sido destruídos ou afastados definitivamente da colméia de trabalho, por sua influência malevolente.
Por fim, num campo mais íntimo e espiritual de reflexões – procurando acessar as camadas mais profundas de significado na crise –, muito mais relevante que afastar pessoas, que pareçam perturbadoras do meio em que vivemos, é perceber os motivos primaciais, as matrizes psicológicas, em nós mesmos, que atraem tais personalidades ou que lhes autorizam agir destrutivamente em nossas existências. Assim, estar-se-á fazendo a melhor aplicação possível da experiência, transformando o que era potencialmente destrutivo em vivência de alto valor construtivo.
(Texto recebido em 21 de maio de 2008. Revisão de Delano Mothé.)